Nos últimos anos, as apostas online ganharam popularidade no Brasil, trazendo consigo um grave problema de saúde pública, que é o aumento da compulsão por jogos.
Disponíveis 24 horas por dia, as plataformas de apostas utilizam estratégias sofisticadas para manter os usuários engajados, como bônus, notificações constantes e a ilusão de controle sobre os resultados.
O marketing agressivo nas redes sociais, impulsionado por influenciadores digitais, também contribui para que cada vez mais pessoas se aventurem nesse universo, muitas vezes sem medir as consequências.
A psiquiatra Renata Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), alerta que a facilidade de acesso e a falsa sensação de controle são fatores que levam ao aumento do número de jogadores compulsivos.
“A pessoa acredita que sabe jogar, que tem os recursos necessários para ganhar, mas essa ilusão faz com que ela aposte mais e mais. Quando perde, tenta recuperar o dinheiro, entrando em um ciclo vicioso e perigoso”, explica.
O vício em jogos já é a terceira dependência mais frequente no Brasil, perdendo somente para o álcool e o tabaco.
A ludopatia, também conhecida como vício em jogos de azar, é uma condição médica caracterizada pela compulsão por jogos, que pode resultar em graves consequências financeiras, sociais, físicas e emocionais para o indivíduo.
Esse transtorno é oficialmente reconhecido pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10), sob os códigos 10-Z72.6 (mania de jogo e apostas) e 10-F63.0 (jogo patológico).
Segundo Renata Figueiredo, os principais sinais desse transtorno incluem a preocupação excessiva com apostas; apostas cada vez mais altas e frequentes; tentativas frustradas de parar ou reduzir o hábito; irritabilidade e inquietação quando não pode jogar; uso do jogo para aliviar ansiedade, depressão ou emoções negativas; mentiras e ocultação do problema da família e amigos, e endividamento e perda de oportunidades no trabalho e na vida social.
“A compulsão por apostas pode trazer sérios danos a vida pessoal, profissional e financeira do indivíduo. A pessoa se isola, tem conflitos familiares e sociais, e quando a família descobre, geralmente já está endividada, falida, tendo usado recursos próprios e até de terceiros para continuar jogando”, ressalta Renata.
Além disso, segundo a psiquiatra, há um impacto significativo na saúde mental, com altos índices de estresse, ansiedade, depressão e risco aumentado de suicídio. O sedentarismo também pode ser uma consequência, já que o tempo dedicado ao jogo muitas vezes substitui atividades físicas e sociais.
Como tratar a compulsão por jogos
O primeiro passo para o tratamento é a conscientização sobre os riscos do jogo compulsivo. “É fundamental reconhecer o problema e buscar ajuda o quanto antes”, enfatiza Renata Figueiredo.
Segundo ela, o tratamento pode envolver: terapia cognitivo-comportamental, que ajuda a modificar os padrões de pensamento e comportamento relacionados ao jogo; uso de medicações, em casos em que há transtornos psiquiátricos associados, como ansiedade, depressão ou transtorno bipolar; rede de apoio, com envolvimento da família e amigos para evitar recaídas; bloqueio do acesso a jogos e restrição ao dinheiro, para dificultar a volta ao hábito.
“Embora o tratamento do vício em apostas online seja desafiador, há esperança para os jogadores compulsivos. Com apoio profissional e familiar, é possível recuperar o controle da vida e superar esse problema”, finaliza Renata Figueiredo.
“A Fenae reforça a importância de abrir esse debate e conscientizar a população, em especial os empregados e as empregadas da Caixa, sobre os riscos do jogo compulsivo. Caso perceba sinais do transtorno em si ou em colegas, procure ajuda especializada”, complementa o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa, Sergio Takemoto.
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