A China está avançando no desenvolvimento de novas tecnologias de laser para fusão nuclear, com a construção de uma instalação considerada uma das mais poderosas do mundo.
Recentemente, imagens de satélite de uma grande instalação de laser no sudoeste da China geraram atenção na imprensa internacional.
Contudo, a realidade sobre o projeto não corresponde exatamente à ideia de uma descoberta secreta, como inicialmente sugerido.
Atualmente, os principais players na tecnologia de fusão a laser incluem os Estados Unidos, a França e a China. A China já opera o terceiro laser mais poderoso do mundo, o Shenguang-III, situado perto da cidade de Mianyang, na província de Sichuan.
Inaugurado em 2015, o Shenguang-III foi considerado um grande marco tecnológico no país, sendo reverenciado como uma das maiores realizações da China em termos de pesquisa em energia.
Entretanto, antes mesmo da operação do Shenguang-III, o planejamento de uma instalação ainda mais ambiciosa, o Shenguang-IV, já estava em andamento. O Shenguang-IV é projetado para alcançar a ignição por fusão, uma meta essencial para o futuro das tecnologias de energia nuclear.
O projeto dessa instalação, que tem gerado especulação com base nas imagens de satélite divulgadas, foi iniciado em Mianyang e estava previsto para ser concluído após 2020. Espera-se que o sistema utilize até 228 feixes de laser, com uma energia de pulso total variando entre 1,5 a 2 megajoules.
O Shenguang-IV é projetado para rivalizar com o maior sistema de fusão a laser existente atualmente, o National Ignition Facility (NIF) dos Estados Unidos.
Este último, cuja construção foi finalizada em 2009, foi a maior instalação de fusão a laser do mundo por muitos anos, mas está se tornando obsoleta com o desenvolvimento de novas tecnologias.
O Shenguang-IV poderia superar o NIF, aproveitando avanços tecnológicos que não estavam disponíveis quando o NIF foi projetado e construído.
As instalações de laser Shenguang estão localizadas em Mianyang, uma cidade que também é um importante centro de pesquisa e desenvolvimento de armas nucleares e tecnologias avançadas, incluindo armas de energia dirigida.
Mianyang é associada ao desenvolvimento de armamentos nucleares e, mais recentemente, ao desenvolvimento de tecnologias como o túnel de vento hipersônico JF-12, um dos mais potentes do mundo.
As instalações de Shenguang fazem parte da Academia Chinesa de Engenharia Física (CAEP), uma instituição estratégica para a China, responsável por pesquisas nucleares e o desenvolvimento de armas desde sua fundação, em 1958.
A CAEP desempenhou um papel essencial na estratégia de desenvolvimento militar e nuclear da China, que ficou conhecida pela expressão “duas bombas, um satélite” (duas bombas nucleares e um satélite).
A fusão a laser, embora também tenha aplicações civis, sempre teve uma estreita conexão com interesses militares, em particular no desenvolvimento de armas nucleares.
A tecnologia de fusão a laser permite a investigação de processos nucleares e a simulação de explosões nucleares em laboratório, sem violar o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, assinado por países como os Estados Unidos e a China.
Além disso, a fusão a laser pode ter aplicações práticas no desenvolvimento de uma usina de energia de fusão funcional, uma meta que a China está buscando com afinco.
O interesse da China em fusão a laser também se estende a outras formas de fusão por confinamento inercial, como o projeto de reator híbrido de fusão-fissão Z-FFR, liderado pelo pesquisador Peng Xianjue, da CAEP. O Z-FFR utiliza o método Z-pinch, que utiliza energia elétrica para comprimir e inflamar o combustível de fusão, gerando energia a partir de reações de fissão.
Este sistema híbrido pode gerar grandes quantidades de energia de forma mais controlada, operando de maneira mais eficiente do que os sistemas tradicionais de fusão.
Em 2021, o governo chinês aprovou a construção do Z-pinch mais potente do mundo no Comprehensive Science Center da província de Sichuan, no Lago Xinglong. A construção desse dispositivo está em andamento, de acordo com relatos, e pode representar uma nova fase no desenvolvimento de tecnologias de fusão na China.
A crescente atenção gerada pela construção de grandes instalações de laser em Mianyang reflete o crescente interesse global pelas capacidades de fusão nuclear, tanto para fins energéticos quanto militares.
Embora os Estados Unidos, a França e outros países estejam investindo pesadamente em tecnologias semelhantes, a China tem se destacado com suas ambiciosas instalações de fusão a laser e projetos de reatores híbridos. Com o Shenguang-IV, o país pode se tornar líder global em fusão a laser, superando os sistemas existentes em termos de capacidade e eficiência.
Apesar das implicações militares óbvias da pesquisa em fusão a laser, as tecnologias desenvolvidas também têm grande potencial para contribuir com a busca por fontes de energia limpa e sustentável.
A fusão nuclear, que poderia fornecer energia sem as emissões associadas aos combustíveis fósseis, é uma das áreas de pesquisa mais promissoras para o futuro energético global.
A China, com suas instalações em Mianyang e outros projetos de fusão, continua a se posicionar como uma potência crescente nesse campo.
Com informações do Asia Times
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