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Escândalo das criptomoedas coloca Milei no centro de uma crise

O governo tenta minimizar o escândalo do golpe de criptomoedas, mas novas provas ligam Milei à fraude. A crise se agrava e pedidos de impeachment avançam O que aconteceu foi um fim de semana que La Libertad Avanza preferiria não ter vivido. O presidente acumulou mais de 100 denúncias por uma fraude multimilionária envolvendo criptomoedas, […]

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O presidente Milei acumulou mais de 100 reclamações e vai acrescentar pedidos de impeachment no Congresso / Reprodução

O governo tenta minimizar o escândalo do golpe de criptomoedas, mas novas provas ligam Milei à fraude. A crise se agrava e pedidos de impeachment avançam


O que aconteceu foi um fim de semana que La Libertad Avanza preferiria não ter vivido. O presidente acumulou mais de 100 denúncias por uma fraude multimilionária envolvendo criptomoedas, da qual foi protagonista, e enfrenta vários pedidos de impeachment no Congresso, onde também pode ser criada uma comissão investigadora. Da Casa Rosada fizeram o impossível para minimizar a crise interna, mas a magnitude das evidências da participação de Milei e de seu círculo mais próximo – incluindo sua irmã – em um possível golpe, que teve repercussões até mesmo em nível internacional, superaram até agora qualquer explicação oficial sobre o ocorrido. Neste domingo, surgiram dois novos depoimentos que ampliaram o escândalo: o de Charles Hoskinson, uma das figuras mais influentes do mundo cripto, que afirmou que pessoas ligadas ao governo lhe pediram propina para organizar uma reunião com o presidente, e o de Hayden Mark Davis, fundador da Kelsier, empresa que promoveu a criptomoeda $LIBRA, que disse ser assessor de Milei e afirmou que o presidente argentino “apoiou e promoveu ativamente o projeto”. Do entorno mais próximo do mandatário negam qualquer tipo de responsabilidade, e quando questionados sobre as declarações de Hoskinson respondem: “que ele faça a denúncia”.

Na noite de domingo, no oficialismo aguardavam com nervosismo a abertura dos mercados no dia seguinte, e confirmavam que o presidente dará sua primeira entrevista após o escândalo na segunda-feira às 20 horas. Enquanto isso, à tarde, fingindo que nada estava acontecendo, Karina Milei e o ministro da Economia, Luis “Toto” Caputo, lideraram um ato de filiação ao partido no bairro portenho de Palermo (ver separadamente). No governo repetem que os atos do mandatário não terão consequências e celebram uma postagem feita pela diretora do FMI, Kristalina Georgieva, junto com o ministro da desregulação Federico Sturzenegger, na qual ela afirmou ter tido uma “excelente reunião” com ele.

Desde o oficialismo, enquanto continuam tentando minimizar o caso, estão pensando estratégias para ganhar tempo. Uma delas seria anunciar uma “rastreabilidade de quem comprou cripto”. No entanto, especialistas no assunto garantem que “isso seria impossível”. Todas as explicações possíveis complicam o governo: ou Javier Milei sabia o que estava fazendo e decidiu – aproveitando-se de seu cargo como presidente da nação – participar de uma fraude contra milhares de pessoas, muitos deles seus seguidores mais fiéis; ou admite um profundo desconhecimento sobre um tema econômico muito importante – colocando em jogo sua credibilidade; ou aceita que houve manobras espúrias por parte de seu entorno que, em busca de fazer negócios, poderiam ter assumido um risco enorme para o governo e para o próprio presidente.

A primeira resposta dada pela Casa Rosada após o escândalo foi que o presidente “não estava informado dos detalhes do projeto”, e que, depois de se “informar”, decidiu não continuar promovendo e por isso apagou o tweet. No entanto, na noite de sábado, da conta do X da “Oficina do Presidente”, foi publicado um texto mais extenso no qual, inicialmente, tiveram que admitir que em 19 de outubro Milei – e o porta-voz presidencial Manuel Adorni – mantiveram um encontro com os representantes do KIP Protocol na Argentina, Mauricio Novelli e Julian Peh, que supostamente comentaram “a intenção da empresa de desenvolver um projeto chamado ‘Viva a Liberdade’”. Isso ficou registrado no Registro de Audiências Públicas.

Depois tiveram que admitir outro encontro, desta vez na Casa Rosada em 30 de janeiro deste ano, entre o presidente e Hayden Mark Davis, fundador da Kelsier. “De acordo com o expresso pelos representantes do KIP Protocol, Davis forneceria a infraestrutura tecnológica para seu projeto”. Admitir que esses dois encontros existiram, por si só, contradiz a primeira mensagem do mandatário na qual disse não estar informado sobre o que compartilhou na sexta-feira à noite.

Do LLA disseram que compartilhar foi parte de uma prática “cotidiana” que ele tem “com muitos empreendedores que querem lançar um projeto na Argentina para criar empregos e atrair investimentos”. E, em uma tentativa de desvinculá-lo da fraude, sublinharam que “ele não participou em nenhum momento do desenvolvimento da criptomoeda”.

Por último, no comunicado elaborado pelo assessor Santiago Caputo, acrescentaram que Milei decidiu “dar intervenção imediata ao Escritório Anticorrupção (OA)”, e criar “uma Unidade de Tarefas de Investigação na órbita da Presidência da Nação”. Acrescentaram que será composta por representantes dos órgãos e organismos com competências relacionadas a criptoativos, atividades financeiras, lavagem de dinheiro e outras áreas relacionadas, e que o trabalho será “iniciar uma investigação urgente sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e todas as empresas ou pessoas envolvidas nessa operação”, para entregar essa informação à Justiça.

Davis saiu a público. Confirmou que é assessor do presidente argentino e publicou um comunicado no qual sustentou que Milei “inicialmente apoiou e promoveu ativamente” o projeto, embora depois “tenha descumprido os compromissos anteriores”. “Javier Milei inicialmente apoiou e promoveu ativamente o Libra Token em plataformas de redes sociais, incluindo X e Instagram. Seus associados haviam garantido seu apoio público no lançamento e me garantiram que seu respaldo contínuo estava assegurado durante todo o processo”, afirmou para contradizer as declarações do presidente.

Em seguida, continuou: “apesar dos compromissos prévios, Milei e sua equipe inesperadamente mudaram de posição, retirando seu apoio e eliminando todas as suas publicações anteriores de apoio nas redes sociais. Essa decisão abrupta foi tomada sem aviso prévio e contrariou as garantias anteriores”. Por fim, defendeu Julian Peh, fundador da KIP Network e principal patrocinador do Libra Token: “é completamente inocente de qualquer ato indevido. Só posso supor que os associados de Milei tentaram transferir a culpa para Julian para evitar sua própria responsabilidade”, concluiu.

A essas declarações somaram-se as de Charles Hoskinson, engenheiro e matemático que já trabalhou para o governo dos Estados Unidos e é uma das figuras mais influentes do mundo cripto. Ele disse que também quis se reunir com o presidente (como fizeram Peh e Davis), mas que pessoas ligadas ao governo lhe pediram propina para organizar uma reunião com ele. Hoskinson opinou que “usaram o presidente para ganhar muito dinheiro e o abandonaram para limpar a bagunça e fugir”.

Do entorno do mandatário, quando questionados sobre as declarações de Hoskinson, dizem: “que ele faça a denúncia”. E acrescentam: “é um delirante. Que diga com quem, quando e onde”. O “delirante” é o mesmo que aparece em uma foto com Milei no marco do Tech Forum. Quanto às declarações de Davis, afirmam que Milei “sabia do projeto”, e que por isso o apoiou, mas acrescentam que “diante dos questionamentos pelas dúvidas, decidiu não continuar divulgando”. Sobre as quase cinco horas em que a mensagem permaneceu fixada em seu perfil, tentam justificar dizendo que a deixou porque “estava ocupado”, e que “não viu o que estava acontecendo”.

No meio dos pedidos de impeachment e das denúncias dos diferentes setores da oposição, o PRO também se manifestou sobre o assunto. “O que aconteceu é grave”, disseram. Acrescentaram que o ocorrido “impacta na credibilidade do país”, e atribuíram a responsabilidade “ao entorno que cerca” o presidente. Além disso, garantiram que não estão a favor de promover um impeachment. Em linha com a versão do PRO, aqueles que consideram que a responsável foi Karina Milei brincam: “Se alguém que não sabe fazer tortas começa a fazê-las, provavelmente sairão muito, muito mal. E se alguém que faz tortas muito boas começa a fazer operações financeiras, sairá horrível”.

Com informações de Melisa Molina para o Página 12*

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