Governo pedirá que a Oficina Anticorrupção investigue se Milei cometeu crime no escândalo da criptomoeda.
O governo de Javier Milei sentiu o impacto do escândalo envolvendo a criptomoeda promovida pelo presidente. Na noite deste sábado, após fontes do Executivo informarem a este jornal que já havia sido iniciada uma investigação de ofício para apurar irregularidades no projeto, a Presidência anunciou que Milei solicitará à Oficina Anticorrupção que investigue se houve responsabilidades das empresas envolvidas ou até mesmo do próprio presidente na iniciativa da criptomoeda $LIBRA.
O chefe de Estado ordenou o início da investigação poucas horas depois de excluir do X (antigo Twitter) a postagem em que recomendava investir no projeto “Viva la Libertad Project”, vinculado à criptomoeda $LIBRA.
Fontes da Presidência confirmaram a abertura da investigação ao Clarín e afirmaram que Milei deu a ordem para seguir adiante, mas permanecerá afastado dos detalhes do processo.
Defesa de Milei e criação de unidade investigativa
Assessores próximos ao presidente insistiram que sua publicação nas redes sociais não configura crime. Ressaltaram que o post de Milei, também publicado no Instagram, apenas apresentava a criptomoeda e redirecionava para a página oficial do projeto.
Na sexta-feira à noite, Milei afirmou em suas redes que “não estava ciente dos detalhes do projeto” e que, ao se informar melhor, decidiu remover a postagem.
No comunicado divulgado neste sábado à noite, a Presidência forneceu mais detalhes sobre a investigação da Oficina Anticorrupção e anunciou a criação de uma Unidade de Tarefas de Investigação (UTI) dentro da estrutura do governo.
O documento informou que o “Viva La Libertad Project” foi uma iniciativa da empresa KIP Protocol para “financiar empreendimentos privados na Argentina utilizando tecnologia blockchain”.
Além de Milei e Julián Peh, CEO da KIP, participaram do encontro de 19 de outubro Mauricio Novelli, trader próximo ao presidente, e o porta-voz Manuel Adorni.
O comunicado também confirmou a presença de Hayden Mark Davis, CEO da Kelsier Ventures, que se reuniu com Milei em 30 de janeiro na Casa Rosada. Segundo o governo, Davis “forneceria a infraestrutura tecnológica para o projeto”, mas “não teve e não tem nenhuma relação com o governo argentino”.
A Presidência reiterou que Milei “não teve participação em nenhuma etapa do desenvolvimento da criptomoeda” e, para garantir a transparência, pediu a intervenção imediata da Oficina Anticorrupção para verificar se houve conduta inadequada de algum membro do governo, incluindo o próprio presidente.
Além disso, a Unidade de Tarefas de Investigação (UTI) reunirá representantes de órgãos especializados em criptomoedas, atividades financeiras e lavagem de dinheiro. O objetivo é reunir informações para “iniciar uma investigação urgente sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e todas as empresas ou pessoas envolvidas”.
Investigação será entregue à Justiça
O governo garantiu que todas as informações obtidas serão enviadas à Justiça para determinar se alguma das empresas ou indivíduos ligados ao KIP Protocol cometeu crime.
O comunicado encerrou com uma nova defesa de Milei: “O presidente, que tem demonstrado na prática seu compromisso com a verdade, está determinado a esclarecer esse episódio até as últimas consequências”.
Os empresários por trás da criptomoeda do escândalo
Até o momento, as duas empresas no centro do escândalo são a KIP Network Inc., liderada por Julián Peh, que trabalha com Web3 e inteligência artificial, e a Kelsier Ventures, de Hayden Mark Davis, o empresário que visitou Milei na Casa Rosada em janeiro.
Em meio à repercussão negativa, a KIP tentou se distanciar da polêmica e culpou a Kelsier Ventures pelo escândalo. Em comunicado, a empresa afirmou que houve “muita desinformação sobre o lançamento da $LIBRA” e alegou que “o token e a criação de mercado foram totalmente responsabilidade da Kelsier Ventures, representada por Hayden Davis”.
Davis visitou Milei no governo em 30 de janeiro e, segundo o próprio presidente, o aconselhou sobre o impacto da tecnologia blockchain e da inteligência artificial na Argentina.
Neste sábado, Davis fez sua própria defesa. Ele se apresentou como assessor de Milei, papel que foi negado pelo entorno do presidente. Além disso, acusou Milei e seus aliados de abandonarem a criptomoeda depois de terem garantido apoio ao seu lançamento. Davis alegou que a reviravolta do governo foi vista como uma “traição” pelos investidores da $LIBRA, o que gerou um “impacto catastrófico” no mercado da moeda digital.
Crise ocorre antes de semana decisiva no Congresso e viagem aos EUA
O escândalo da criptomoeda eclodiu em um momento crítico para o governo, que se prepara para uma semana decisiva no Congresso. Estão na pauta a discussão do projeto Ficha Limpa e a suspensão das eleições primárias (PASO) no Senado.
Além disso, Milei viajará para os Estados Unidos, onde tem um encontro marcado com Donald Trump.
De acordo com o Clarín, o governo quer que o projeto Ficha Limpa, já aprovado na Câmara dos Deputados, seja debatido e votado no Senado nesta semana. Na quinta-feira, está prevista a análise da suspensão das PASO.
Outro tema que pode ser incluído na agenda do Senado é a indicação de Ariel Lijo para a Suprema Corte, embora haja dúvidas sobre sua viabilidade.
Enquanto essas decisões são debatidas no Congresso, Milei estará em Washington para participar da Conferência Política de Ação Conservadora (CPAC), um evento da direita americana.
Durante sua visita, Milei se reunirá com empresários e autoridades dos EUA, além de participar do evento ao lado de Donald Trump.
Segundo fontes da Presidência, o encontro não será uma reunião bilateral na Casa Branca, pois “os tempos protocolares não permitiam”, mas ocorrerá durante a CPAC.
A aproximação com Trump acontece logo após os EUA anunciarem a ampliação das tarifas sobre aço e alumínio, que agora também afetarão a Argentina.
O governo Milei aposta que a relação pessoal do presidente argentino com Trump poderá abrir caminho para um acordo que reduza essas tarifas, por meio de um tratado de livre comércio defendido por Milei.
Por Gerardo Puig – Clarín, 15 de fevereiro de 2025.
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