Javier Milei surpreendeu nesta sexta-feira às 19h com uma postagem em suas redes sociais. “A Argentina Liberal cresce!!!”, escreveu no X (antigo Twitter). A princípio, parecia apenas mais um de seus slogans. Mas a mensagem era, na verdade, a promoção de um projeto de investimento em criptomoedas para “financiar” pequenas empresas. A criptomoeda, chamada Libra, começou a operar no mesmo horário. O apoio presidencial gerou um furor imediato, mas também críticas e incerteza.
Fontes oficiais negaram que se tratasse de um hackeamento e confirmaram a autenticidade do projeto. No entanto, poucas horas depois, o presidente apagou a postagem e se desvinculou da iniciativa. Especialistas suspeitam de sabotagem e uso de informação privilegiada, que pode ter permitido que um pequeno grupo de usuários lucrasse milhões de dólares.
“A Argentina Liberal cresce!!! Este projeto privado se dedicará a incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendedores locais. O mundo quer investir na Argentina”, escreveu Milei às 19h01 no X.
Ele incluiu dois links: um para a página do projeto e outro para o contrato do token, que foi lançado na blockchain da Solana.
A página do projeto, chamada Viva La Libertad Project, descreve o token $LIBRA como um símbolo do movimento libertário, criado para “fortalecer a economia argentina desde sua base, apoiando o empreendedorismo e a inovação”.
O site afirma que os fundos seriam destinados a pequenas e médias empresas, startups e projetos educacionais. Um formulário na página solicitava dados como nome, e-mail, site, contas no Telegram e Twitter, além de uma descrição do projeto.
O colapso da Libra e as suspeitas de fraude
O respaldo público do presidente Milei teve um efeito imediato. O valor da criptomoeda disparou em menos de uma hora, chegando perto de 5 dólares. No entanto, por volta das 23h30, seu preço já havia despencado para menos de 50 centavos.
Os questionamentos surgiram rapidamente, até mesmo dentro do círculo libertário. Muitos apontaram semelhanças com esquemas conhecidos como “Pump and Dump”, onde um ativo tem seu preço inflado artificialmente antes de ser vendido em massa, causando um colapso. No universo das criptomoedas, esse tipo de golpe é chamado de “Rug Pull”.
Nas primeiras horas de existência da Libra, o número de investidores saltou de 4 para mais de 55 mil. No entanto, análises apontam que 84% dos tokens estavam concentrados em apenas 10 carteiras, levantando suspeitas de manipulação.
Lilia Lemoine, deputada libertária e aliada de Milei, foi a única oficialista a defender o presidente, negando que sua conta tenha sido hackeada.
Já Carlos Maslatón, ex-integrante da La Libertad Avanza, acusou Milei diretamente de envolvimento em um “golpe criptográfico”, afirmando que o caso seria motivo para impeachment.
“A conta de Milei não foi hackeada, é oficial. O presidente está envolvido diretamente em uma fraude cripto. Passou de todos os limites morais”, declarou Maslatón.
Diante da repercussão, Milei apagou a postagem e tentou minimizar o escândalo. “Não estava ciente dos detalhes do projeto e, após me informar, decidi não seguir promovendo”, escreveu o presidente, culpando a oposição pelas críticas.
A empresa KIP Protocol, responsável pela Libra, também negou qualquer envolvimento de Milei, mas celebrou o lançamento do token como um “sucesso”.
Outras fraudes semelhantes e o impacto no mercado
Especialistas apontam que esse tipo de operação já ocorreu em outros países. Recentemente, golpes parecidos foram atribuídos a Daniel Noboa, presidente do Equador, e a contas falsas que tentaram se passar pelo primeiro-ministro de Bermudas, David Burt.
A Libra começou a operar às 19h e atingiu seu pico de 4,97 dólares em apenas 43 minutos. Depois, entrou em queda livre. Às 22h, valia apenas 0,99 centavos.
Analistas estimam que investidores privilegiados, que compraram antes da valorização inicial, conseguiram embolsar até 60 milhões de dólares antes do colapso. Alguns colocaram zero dólares e saíram com três milhões, segundo influenciadores do mundo cripto.
O episódio deixou mais uma vez em evidência os riscos e a falta de regulamentação no mercado de criptomoedas, além de abrir um novo foco de crise para o governo Milei.
Publicado no Clarín.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!