O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou nesta sexta-feira que Pequim responderá com firmeza a qualquer prática de “intimidação unilateral” por parte dos Estados Unidos. A declaração foi feita durante a Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.
Wang destacou que a China deseja construir relações “estáveis, saudáveis e sustentáveis” com os EUA, mas alertou que, caso Washington insista em suprimir e conter a China, Pequim não terá outra opção senão responder à altura.
Ele enfatizou que o mundo não pode suportar um conflito entre as duas potências e que a melhor abordagem é o respeito mútuo. Além disso, classificou como “irrealista” qualquer tentativa de derrubar o sistema político chinês.
Sobre Taiwan, Wang defendeu que a comunidade internacional apoie a reunificação da ilha com o continente.
Assista o vídeo no link abaixo:
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Transcrição completa da fala de Wang Yi:
“Caros amigos e colegas, o mundo em que vivemos está cada vez mais turbulento e em transformação. Muitos se perguntam para onde estamos indo. Se me permitirem tomar emprestado o tema do Relatório de Segurança de Munique deste ano, a resposta é clara: estamos caminhando para a multipolaridade.
Quando as Nações Unidas foram fundadas, há 80 anos, contavam com apenas 51 Estados-membros. Hoje, 193 países compartilham o mesmo barco. A multipolaridade não é apenas uma inevitabilidade histórica, mas está se tornando uma realidade concreta.
No entanto, será que um mundo multipolar trará caos, conflitos e confrontos? Significará a dominação dos países mais poderosos sobre os mais fracos? A resposta da China é clara: devemos construir um mundo multipolar igualitário e ordenado. Essa é uma proposta central do presidente Xi Jinping e reflete nossa sincera expectativa para a nova ordem global. A China será, sem dúvida, um fator de estabilidade nesse sistema e uma força construtiva em tempos de mudança.
É fundamental defender a igualdade entre os países. As rivalidades entre grandes potências trouxeram desastres à humanidade, como evidenciado pelas duas guerras mundiais. Sistemas desiguais, como o colonialismo e a estrutura centro-periferia, estão fadados ao colapso.
Hoje, há um movimento global por independência e autonomia, e a democratização das relações internacionais é uma tendência irreversível. Direitos iguais, oportunidades iguais e regras iguais devem ser os princípios fundamentais de um mundo multipolar.
Com base nesse princípio, a China defende a igualdade entre todos os países, independentemente de seu tamanho ou poder econômico, e apoia o aumento da representatividade das nações em desenvolvimento no sistema internacional. Isso não levará a um “Ocidente sem rumo”, mas sim a resultados positivos para todos.
A Conferência de Segurança de Munique tem convidado cada vez mais representantes do Sul Global, uma decisão sábia. Todas as nações devem ter voz e espaço para desempenhar seu papel na nova ordem mundial.
Também é essencial respeitar o direito internacional. Há um antigo ditado chinês que diz: “Não se pode desenhar círculos e quadrados sem compassos e réguas”, ou seja, nada pode ser realizado sem normas e padrões.
Os propósitos e princípios da Carta da ONU são fundamentais para a governança global e devem ser a base da multipolaridade. O mundo vive um período de desordem, em grande parte porque alguns países acreditam que “a força faz o direito” e abriram a “Caixa de Pandora” da lei do mais forte.
Na realidade, todas as nações, grandes ou pequenas, têm interesse na preservação do direito internacional. A multipolaridade não deve ser sinônimo de caos sem regras. Quem está na mesa de negociações hoje pode estar no cardápio amanhã.
Os países mais poderosos devem dar o exemplo, cumprindo suas palavras e respeitando o direito internacional, sem jogos de soma zero. Com essa visão, a China defende firmemente a autoridade do direito internacional e cumpre suas responsabilidades globais.
Somos membros de quase todas as organizações intergovernamentais universais e signatários de mais de 600 convenções internacionais. Não praticamos excepcionalismo, nem escolhemos quais regras seguir.
Quero enfatizar que não deve haver padrões duplos na observância do direito internacional. Respeitar a soberania e a integridade territorial de todos os países significa apoiar a reunificação completa da China.
Praticar o multilateralismo é essencial para enfrentar desafios globais. Nenhum país está imune às crises globais, e uma abordagem egoísta nas relações internacionais só leva a um resultado negativo para todos.
As Nações Unidas têm sido a pedra angular do multilateralismo há quase 80 anos e serão ainda mais essenciais no mundo multipolar do futuro. Devemos fortalecer suas bases, em vez de enfraquecer suas estruturas. Devemos assumir responsabilidades coletivas na governança global, em vez de buscar apenas interesses individuais.
Por essa razão, a China defende um multilateralismo genuíno e um modelo de governança global baseado em ampla consulta, contribuição conjunta e benefícios compartilhados. Mantemos nosso compromisso com a ONU, contribuindo com mais de 20% de seu orçamento regular.
Assumimos seriamente nossos compromissos no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas e construímos o maior sistema de energia limpa do mundo. Além disso, lançamos e implementamos iniciativas como a Iniciativa de Desenvolvimento Global, a Iniciativa de Segurança Global e a Iniciativa de Civilização Global, fornecendo bens públicos essenciais para melhorar a governança mundial.
A abertura e o benefício mútuo devem ser prioridades. O desenvolvimento é a chave para solucionar muitos dos problemas globais. O mundo multipolar deve ser um espaço onde todas as nações crescem juntas.
O protecionismo não oferece saída, tarifas arbitrárias não produzem vencedores e a “desvinculação econômica” apenas reduz oportunidades. Cercas altas e espaços restritos acabam prejudicando aqueles que os impõem.
Devemos promover a cooperação aberta e apoiar um mundo multipolar com uma globalização econômica inclusiva e benéfica para todos.
A China continua comprometida em compartilhar oportunidades de desenvolvimento com o mundo. Um estudioso australiano nos chamou de “facilitadores”, uma definição apropriada. Com um crescimento do PIB de 5% no ano passado, contribuímos para quase 30% do crescimento econômico global, impulsionando a economia mundial e abrindo nosso mercado gigante para outras nações.
Também estamos dispostos a alinhar a Iniciativa do Cinturão e Rota com a estratégia Global Gateway da União Europeia, fortalecendo parcerias para beneficiar o mundo inteiro.
A China sempre enxergou a Europa como um pilar fundamental no mundo multipolar. As duas partes são parceiras, não rivais.
Este ano marca o 50º aniversário das relações diplomáticas entre a China e a União Europeia. Aproveitando essa oportunidade, queremos aprofundar a comunicação estratégica e ampliar a cooperação mutuamente benéfica.
Juntos, podemos conduzir o mundo a um futuro mais pacífico, seguro, próspero e progressista.
Muito obrigado.”
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