Brasil não vai aproveitar presidência do Brics para criar moeda comum e reduzir dependência do dólar

Reunião do Brics em Kazan 24/10/2024 REUTERS/Maxim Shemetov/Pool

O Brasil, sob sua presidência do Brics em 2025, não apresentará proposta para criação de uma moeda comum entre os países do grupo, mas focará na integração de sistemas de pagamentos, com o objetivo de impulsionar o comércio e o investimento, ampliando o uso de moedas locais. A informação foi confirmada por quatro fontes do governo à Reuters.

A iniciativa visa reduzir custos de transações e promover novas tecnologias, utilizando padrões compatíveis com organismos multilaterais como o Banco de Compensações Internacionais (BIS), segundo três das fontes.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou o interesse em discutir alternativas ao dólar nas transações internacionais. Em 2023, Lula havia mencionado que uma moeda compartilhada entre os membros do Brics poderia aumentar as opções de pagamento e reduzir vulnerabilidades.

Fontes do governo afirmaram que a criação de uma moeda comum nunca esteve em discussão nas negociações técnicas do Brics, composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Indonésia. A ideia ganhou força após as sanções impostas à Rússia pelo Ocidente devido à guerra na Ucrânia.

Fazenda e Banco Central estão discutindo as propostas que serão apresentadas pelo Brasil nas reuniões do Brics, incluindo o tema dos pagamentos transfronteiriços. Representantes do grupo se reunirão na África do Sul, no fim de fevereiro, durante os encontros do G20, onde o plano brasileiro será apresentado.

A estratégia de promover a eficiência nos pagamentos transfronteiriços busca evitar tensões com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que já se manifestou contra qualquer iniciativa que reduza o papel do dólar no comércio internacional. Fontes indicam que o foco está na implementação de novas tecnologias, como o blockchain, para reduzir custos, sendo a menor dependência do dólar uma consequência indireta.

“A narrativa de reduzir custos, de ser mais eficiente no custo de transação, não é contra ninguém”, disse uma fonte. Outra fonte destacou que, embora o Brics explore alternativas, nenhum país pretende abandonar suas reservas em dólar.

Em janeiro, Trump ameaçou os países do Brics com tarifas de 100% caso avançassem em uma moeda comum ou apoiassem outras moedas em substituição ao dólar.

O Brasil defende a interconexão de sistemas de pagamento como parte de sua agenda internacional, especialmente após o sucesso do Pix, que se tornou o meio de pagamento mais utilizado no país em menos de cinco anos, superando dinheiro e cartões.

Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, afirmou que o Pix pode ser integrado a outros sistemas de pagamento internacionais, embora tenha apontado desafios de governança. O Brasil já opera um Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) com Argentina, Uruguai e Paraguai, permitindo transações diretas em reais, sem necessidade de câmbio em dólar, embora seu uso ainda seja limitado.

Em 2024, o volume de transações via SML com a Argentina atingiu 5,13 bilhões de reais, representando uma fração do comércio bilateral total, estimado em 155 bilhões de reais. A integração de sistemas de pagamento instantâneo poderia tornar essas operações mais seguras, rápidas e baratas, segundo uma das fontes.

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