China lidera pesquisa em física no mundo, enquanto EUA ficam para trás, aponta Nature Index.
As principais instituições do mundo em pesquisa de física de alto nível estão concentradas na China e na Europa, com a instituição mais bem classificada dos Estados Unidos aparecendo apenas na 13ª posição, de acordo com o mais recente Nature Index.
Um especialista baseado na China afirmou que essa mudança pode ter implicações de longo alcance para a liderança tecnológica dos EUA, já que a física é a base de grande parte da inovação moderna. No entanto, outro especialista destacou que os Estados Unidos ainda mantêm uma vantagem geral em descobertas científicas originais.
O Nature Index, mantido pela prestigiada revista científica de mesmo nome, classifica instituições de pesquisa com base em suas contribuições para artigos publicados nos mais influentes periódicos científicos do mundo. A lista mais recente foi elaborada a partir da produção científica entre novembro de 2023 e novembro de 2024.
A China dominou o ranking, com a Academia Chinesa de Ciências (CAS), a Universidade de Ciência e Tecnologia da China (USTC) e a Universidade de Tsinghua ocupando as três primeiras posições. Apenas duas instituições não chinesas entraram no top 10: a Sociedade Max Planck, da Alemanha, em 4º lugar, e o Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, na 10ª posição.
As três principais instituições dos Estados Unidos – o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a Universidade de Harvard e a Universidade Stanford – apareceram nas 13ª, 16ª e 20ª colocações, respectivamente. Em comparação, no índice de 2021, essas mesmas universidades americanas estavam entre as 10 primeiras, enquanto apenas duas instituições chinesas figuravam no ranking.
Medição da produção científica
O Nature Index avalia a produção científica com base em duas métricas: contagem e participação. Cada instituição recebe um ponto para cada artigo em que pelo menos um dos autores está afiliado a ela. Essa soma gera a pontuação de contagem.
Já a pontuação de participação divide o valor de um artigo entre todos os seus autores. Por exemplo, se um artigo tem 10 autores, cada um recebe um valor de participação de 0,1. A pontuação de uma instituição é obtida somando os valores de participação de seus pesquisadores.
No ranking mais recente, a Academia Chinesa de Ciências (CAS) lidera amplamente ambas as métricas, enquanto a Sociedade Max Planck é a única organização não chinesa entre as cinco primeiras.
No entanto, um físico da CAS alertou que, embora o índice seja um indicador relevante da força das instituições de pesquisa, ele possui limitações e deve ser analisado com cautela.
“O crescente número de artigos científicos de alta qualidade publicados por pesquisadores chineses em revistas de ponta reflete, até certo ponto, que a força da China em pesquisa em física está aumentando”, afirmou Chen Xiaolong, físico do Instituto de Física da CAS.
Mas, segundo ele, esse indicador não é absoluto. “A China ainda está atrás dos Estados Unidos no que diz respeito a pesquisas verdadeiramente inovadoras e revolucionárias, com algumas poucas exceções”, acrescentou.
Mudança no cenário da pesquisa global
Para Jin Xianchi, engenheiro especializado em instrumentação analítica e doutor em física pela Universidade da Academia Chinesa de Ciências (UCAS), vários fatores influenciam o ranking.
“Laboratórios chineses e europeus costumam ter equipes maiores, o que facilita a produção de mais artigos influentes”, explicou Jin. Além disso, ele observou que algumas pesquisas inovadoras podem ser rejeitadas inicialmente por revistas científicas, colocando certas instituições em desvantagem.
Jin também argumentou que os Estados Unidos vêm perdendo liderança em pesquisa científica desde a Segunda Guerra Mundial, incluindo na física. Segundo ele, isso ocorre por diversos motivos, entre eles a fuga de cérebros.
A física tem sido a base para grande parte dos avanços tecnológicos modernos. Durante o século XX e início do século XXI, os Estados Unidos foram o destino principal para pesquisa na área, conquistando quase 100 prêmios Nobel de física.
“A queda na produção científica ao longo do tempo certamente terá implicações para o futuro”, disse Jin.
Em 2018, um artigo da revista Forbes já alertava que os EUA corriam o risco de não atrair mais os melhores cientistas da área. Uma pesquisa da American Physical Society citada na matéria indicava uma queda inédita no número de candidaturas internacionais para doutorados em física nos Estados Unidos.
Nos últimos anos, diversos físicos chineses deixaram os EUA. Em janeiro de 2024, por exemplo, o renomado físico sino-americano Gao Huajian ingressou na Universidade de Tsinghua como professor titular. Mais recentemente, o físico computacional Chen Hudong, membro da Academia Nacional de Engenharia dos EUA, voltou para a China após mais de quatro décadas atuando na América.
Um relatório anual sobre tendências científicas globais, divulgado em novembro de 2024, indicou que a China retomou a liderança mundial em pesquisa em física, após ter sido superada pelos Estados Unidos em 2023.
Fonte: South China Morning Post, 8 de fevereiro de 2025.
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