China assume presidência do Conselho de Segurança da ONU e critica políticas dos EUA.
No início de sua presidência rotativa no Conselho de Segurança da ONU, a China delineou uma agenda multilateral voltada para o Sul Global, mas não sem antes criticar as políticas tarifárias, o Canal do Panamá e as regulamentações de inteligência artificial dos Estados Unidos sob Donald Trump.
“Apesar de toda a retórica que temos ouvido de políticos americanos, espero que possamos adotar uma abordagem construtiva e profissional aqui nas Nações Unidas”, declarou Fu Cong, embaixador chinês na ONU. Ele defendeu a cooperação entre China e Estados Unidos e afirmou que “mirar na China não é o caminho certo”.
Durante o mês de fevereiro, a China pretende discutir conflitos no Oriente Médio e na África, além de promover a reforma da ONU e o multilateralismo. No dia 18, uma reunião de alto nível contará com a presença do ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi. Também estão previstas discussões sobre a guerra na Ucrânia, que completa três anos no dia 24, além de crises na Síria, Gaza, Iémen, Sudão, República Centro-Africana e República Democrática do Congo.
Ainda não há confirmação sobre a participação do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, na reunião de 18 de fevereiro. Rubio, sancionado por Pequim em 2020, e Trump têm se mostrado críticos ao multilateralismo. Fu afirmou que o encontro seria uma “boa oportunidade” para os dois ministros se reunirem.
Críticas à política americana
O embaixador chinês criticou a administração Trump por supostamente pressionar o Panamá a dar maior controle do Canal aos EUA, incluindo possíveis ações militares. Após a visita de Rubio ao país, o governo panamenho anunciou sua saída da Iniciativa do Cinturão e Rota da China.
“A campanha de difamação lançada pelos EUA e por alguns países ocidentais contra a Iniciativa do Cinturão e Rota é totalmente infundada”, afirmou Fu, reforçando o compromisso chinês com o desenvolvimento do Sul Global. Ele negou que Pequim tenha envolvimento na administração do Canal do Panamá e disse que a China respeita a soberania panamenha.
Trump tem alegado que a presença de empresas chinesas operando portos na região representa uma ameaça à neutralidade do canal. Fu classificou essa acusação como “totalmente falsa”.
Disputa tecnológica e sanções
Sobre inteligência artificial, Fu criticou a reação americana ao modelo de IA chinês DeepSeek, que tem gerado preocupação no Vale do Silício. Ele sugeriu que os EUA subestimaram o avanço tecnológico da China.
“Essa é uma lição que o mundo inteiro pode aprender, especialmente os EUA. Nunca subestimem a engenhosidade dos cientistas e engenheiros chineses”, disse.
Ele também criticou as tentativas de Washington de sancionar ou proibir empresas chinesas como Huawei, TikTok e agora a DeepSeek. “Quantas mais vocês querem banir?”, questionou.
Fu mencionou ainda a audiência no Senado americano para confirmar Elise Stefanik como embaixadora dos EUA na ONU. Segundo ele, Stefanik demonstrou preparo e inteligência, mas expressou “preconceitos e equívocos” sobre a China. Na audiência, a diplomata defendeu uma abordagem bilateral em detrimento do multilateralismo e apoiou a política de “paz pela força” de Trump.
Por fim, Fu condenou a ameaça de Trump de impor tarifas de 10% sobre todas as importações chinesas em resposta ao suposto envolvimento da China no tráfico de fentanil. “Não há vencedores em uma guerra comercial. Esperamos que os EUA olhem para seus próprios problemas”, afirmou.
Fonte: South China Morning Post, 4 de fevereiro de 2025.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!