Indústria argentina encerra 2024 com queda de 9,4%, o pior resultado desde 2002.
A atividade industrial na Argentina registrou uma retração de 9,4% em 2024, conforme divulgado nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). Esse resultado representa o pior desempenho desde 2002, quando o setor manufatureiro teve uma queda recorde de 10,6%. O colapso da indústria no último ano foi consequência de uma combinação de fatores, incluindo megadepreciação cambial, políticas de austeridade, redução do poder de compra da população e abertura comercial, além da valorização da moeda no segundo semestre.
Apesar do desempenho negativo no acumulado do ano, dezembro registrou uma alta de 8,4% em comparação ao mesmo mês de 2023. Essa foi a primeira variação positiva interanual desde maio de 2023. No entanto, essa melhora se deve, em grande parte, a um efeito estatístico, já que, em dezembro de 2023, a indústria havia despencado 12,9%, no início do governo libertário. Por essa razão, é provável que os próximos meses apresentem crescimento interanual, ainda que sobre bases baixas.
Na comparação mensal, dezembro teve uma leve alta de 0,2% em relação a novembro, indicando uma desaceleração frente ao crescimento de 0,7% registrado entre outubro e novembro. Mesmo com um fechamento de ano catastrófico, os últimos meses indicaram uma certa estabilização no nível da atividade industrial.
Setor de alimentos e bebidas
O setor alimentos e bebidas apresentou em dezembro um aumento interanual de 8,3%. A principal alta foi observada na moinho de oleaginosas, com crescimento de 77,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Também houve avanços significativos na preparação de frutas, hortaliças e legumes (+17,9%), na produção de carne bovina (+12,8%), nos laticínios (+5,4%) e na fabricação de chá, café e erva-mate (+16,0%).
Apesar da melhora pontual, o setor de alimentos e bebidas acumulou uma queda de 0,8% no ano, efeito atenuado pela seca de 2023, que havia reduzido a base de comparação. Entre os segmentos mais afetados, frutas e hortaliças e laticínios caíram 7%, enquanto bebidas não alcoólicas tiveram um tombo de 12%.
Maquinário e equipamentos
A fabricação de máquinas e equipamentos apresentou uma expressiva alta interanual de 31,3% em dezembro, puxada pelo crescimento da produção de máquinas agrícolas. A fabricação de equipamentos de uso geral também avançou 20,4%, impulsionada pela maior demanda por ar-condicionado, expositores refrigerados e fornos industriais.
Por outro lado, o setor de máquinas e equipamentos encerrou 2024 com uma retração de 18,6%, com quedas mais intensas em máquinas agrícolas, equipamentos especializados e eletrodomésticos.
Automóveis e setor têxtil
A produção de veículos cresceu 10,1% em dezembro, enquanto o setor de autopeças avançou 4,5% no mesmo período. Contudo, o acumulado de 12 meses aponta uma queda de 11,3% na fabricação de automóveis, com as autopeças recuando 2,9%.
No setor têxtil, dezembro registrou uma modesta alta de 1,4%, puxada pela produção de fibras para uso industrial. No entanto, o segmento encolheu 17,1% no acumulado do ano, impactado pela queda do consumo interno e pela abertura comercial. O setor de vestuário, apesar da alta de 20,6% em dezembro, acumulou uma retração de 6,2% ao longo de 2024.
Siderurgia e construção
A siderurgia teve um leve avanço de 2,8% em dezembro, impulsionado pela recuperação na fundição de metais. No entanto, o setor encerrou o ano com uma retração de 17,5%, acompanhando o enfraquecimento da demanda interna.
Já a indústria da construção civil continuou em queda tanto em dezembro quanto no acumulado do ano. No último mês de 2024, o setor recuou 13,9% na comparação interanual, afetado pela redução na produção de vidro, cerâmica, cal, gesso e cimento. No ano completo, a retração foi ainda mais acentuada, atingindo 24,3%.
O desempenho negativo da construção reflete o corte drástico nos investimentos públicos e a retração da construção privada. O setor enfrentou aumento do desemprego e forte redução na produção de insumos, impactando negativamente diversos segmentos da indústria que dependem da demanda por materiais de construção.
Perspectivas
O ano de 2024 foi marcado por um cenário econômico adverso, no qual a alta do dólar, o choque inflacionário e a abertura comercial reduziram drasticamente a atividade industrial. Embora os últimos meses tenham mostrado sinais de estabilização, o setor ainda opera em um patamar muito inferior ao de anos anteriores.
Com a continuidade das políticas de ajuste econômico e as dificuldades na recuperação do mercado interno, a expectativa para 2025 permanece incerta, com possibilidade de oscilações nos primeiros meses do ano devido à base de comparação deprimida do final de 2023.
Publicado originalmente na Página 12.