Após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista a rádios mineiras, a tentativa do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), de substituir Alexandre Silveira (PSD) do comando do Ministério de Minas e Energia (MME) foi frustrada.
Lula reafirmou seu apoio a Silveira, afirmando que não há motivos para mudar o atual ministro. Contudo, Alcolumbre, que vem buscando ampliar sua influência no governo, já articulava alternativas para contornar a situação.
Dentre as opções que Alcolumbre passou a considerar, duas se destacaram: a indicação de Victor Saback, atual secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, para o cargo de secretário-executivo do MME, substituindo Arthur Valério, e a nomeação de um novo presidente para a Pré-Sal Petróleo (PPSA), empresa vinculada ao ministério.
A PPSA é responsável pela gestão dos contratos de produção no pré-sal e pela arrecadação de royalties derivados da exploração de petróleo e gás natural. A previsão para 2025 é que a entidade arrecade US$ 5,8 bilhões (aproximadamente R$ 33,4 bilhões), com um crescimento projetado de 31% até 2026, alcançando US$ 7,6 bilhões (R$ 43,8 bilhões).
Parte desse montante é destinada ao Fundo Social do Pré-Sal, que se tornou um foco de interesse para diversos atores políticos e empresariais.
Um desses empresários é Carlos Suarez, conhecido como “rei do gás”, que busca garantir financiamento para a construção de uma rede de gasodutos em vários estados. Nos bastidores, Suarez estava vinculado à pressão de Alcolumbre para a substituição de Silveira, visando beneficiar seus próprios interesses no setor energético.
Além disso, Suarez tem se oposto à aquisição de térmicas da Eletrobras na Amazônia pela Âmbar Energia, empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista, e tentava barrar a operação por meio da estatal Cigás, a qual controla. Essa articulação envolvia diretamente interesses empresariais no setor de energia, colocando o embate político entre Alcolumbre e Silveira em um contexto mais amplo de disputas por recursos do setor energético.
Apesar da pressão e das articulações nos bastidores, Lula reafirmou sua confiança em Silveira, considerando-o um “ministro excepcional” e insistindo que não havia razão para a mudança. O presidente declarou que Silveira continuaria no cargo, destacando que sua gestão estava promovendo uma transformação no setor energético e no setor de Minas Gerais. Essa declaração representou uma derrota significativa para Alcolumbre, que há meses tenta aumentar sua influência no governo por meio da troca de ministros e cargos estratégicos.
Ao longo do governo Lula, a relação entre o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o ministro Alexandre Silveira passou a se deteriorar. No início da gestão, ambos eram aliados e a nomeação de Silveira para o MME contou com o apoio de Alcolumbre e outros membros do Senado.
No entanto, com o passar do tempo, Silveira se mostrou resistente às demandas do Senado e aos interesses de aliados empresariais ligados a Alcolumbre. Esse impasse resultou em um confronto político que culminou na tentativa de derrubada de Silveira, que agora se fortaleceu com o respaldo direto do presidente.
Além das articulações para a troca de Silveira, o nome do ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foi cogitado como possível substituto para a pasta.
No entanto, Pacheco, que tem planos de disputar o governo de Minas Gerais em 2026, rejeitou a proposta, alegando que assumir o Ministério de Minas e Energia implicaria em um desgaste político desnecessário. Tal movimento faria dele um adversário direto de Silveira e dificultaria sua estratégia de expansão política.
Com a confirmação de que Silveira continuará à frente do ministério, Davi Alcolumbre agora ajusta suas estratégias, buscando reposicionar-se no jogo político. Ao focar em nomeações no segundo escalão do MME, ele tenta garantir sua relevância nas articulações políticas, mesmo diante da derrota que sofreu em sua tentativa de forçar a troca do ministro.
Esse novo movimento de Alcolumbre reflete a dinâmica das disputas internas no governo e a crescente pressão entre os principais atores políticos no Congresso e no Executivo. Com a indefinição sobre o futuro do setor energético e os impactos da gestão do pré-sal, o desenrolar dessa disputa continuará a influenciar as relações entre os poderes, principalmente no contexto de uma reforma ministerial em curso.
Com o respaldo de Lula, Alexandre Silveira parece consolidado no comando do MME, ao menos por ora. No entanto, as articulações e a busca por maior poder de influência sobre o setor energético não devem cessar, prometendo novos desdobramentos políticos no cenário nacional.