O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, anunciou neste domingo que o país não renovará sua participação na Iniciativa do Cinturão e Rota da China, um projeto de infraestrutura global que busca expandir a conectividade entre diversos países.
A decisão foi divulgada após uma reunião com o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, que pressionou o governo panamenho a reconsiderar o envolvimento chinês no Canal do Panamá.
Mulino comunicou que seu governo não dará continuidade ao memorando de entendimento firmado em 2017 com a China.
“O memorando de entendimento de 2017 sobre a Iniciativa do Cinturão e Rota não será renovado pelo meu governo”, afirmou. Ele acrescentou que o governo também analisará a possibilidade de rescindir o acordo antes do prazo estipulado para sua expiração.
Durante a reunião, Rubio expressou preocupações sobre a crescente influência da China sobre o canal, uma importante via de navegação internacional.
O Secretário de Estado dos EUA alertou que, ao permitir o envolvimento chinês na administração do canal, o Panamá poderia estar violando o Tratado de 1977, que garante a neutralidade permanente da hidrovia. Segundo Rubio, a presença da China no canal representa uma ameaça à segurança e aos interesses dos Estados Unidos na região.
“É imperativo que o Panamá tome medidas imediatas para reduzir a presença da China no Canal do Panamá”, disse Rubio. Ele sugeriu que, caso a influência chinesa não seja diminuída, o Panamá poderia enfrentar consequências severas, incluindo uma possível retaliação dos EUA.
A pressão de Washington sobre o Panamá ocorre em um momento de tensões mais amplas entre os Estados Unidos e a China, especialmente em relação ao controle e à gestão de infraestruturas estratégicas.
O presidente dos EUA, Donald Trump, havia feito declarações alarmantes nas últimas semanas, sugerindo que os Estados Unidos poderiam retomar o controle do Canal do Panamá caso o envolvimento da China não fosse restrito.
Trump afirmou em uma coletiva: “A China está administrando o Canal do Panamá”, e acrescentou que, caso a situação não fosse corrigida, “os EUA irão tomá-lo de volta, ou algo muito poderoso vai acontecer”.
Apesar das pressões externas, Mulino minimizou os temores de uma retaliação imediata por parte dos EUA. Ele classificou suas conversas com Rubio como “respeitosas” e “positivas”, e rejeitou qualquer possibilidade de renegociar a propriedade do canal.
“Não há dúvidas de que o Canal é operado pelo nosso país e continuará sendo”, afirmou Mulino, enfatizando que a soberania do Panamá sobre a hidrovia permanece intacta.
“O presidente Trump tem sua opinião sobre a presença chinesa, que será esclarecida no devido tempo pelas autoridades técnicas do canal”, acrescentou.
A China, por sua vez, negou qualquer intenção de violar a soberania do Panamá. Em declarações feitas em dezembro, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, reiterou o compromisso de Pequim em reconhecer o Canal do Panamá como uma via internacional de navegação permanente e neutra.
A Iniciativa do Cinturão e Rota da China, lançada em 2013, visa conectar países através de redes de transporte terrestre e marítimo, bem como de infraestrutura digital.
O Panamá foi o primeiro país latino-americano a assinar o acordo, o que gerou uma série de projetos conjuntos com empresas chinesas. Em 2021, a CK Hutchison Holdings, empresa sediada em Hong Kong, obteve um contrato de 25 anos para controlar dois portos nas entradas do Canal do Panamá, e um consórcio de empresas chinesas iniciou a construção de uma ponte sobre a hidrovia, em um projeto que envolve um investimento de US$ 1,3 bilhão.
Embora o governo panamenho tenha dado sinais de distanciamento da China, os acordos bilaterais já firmados ainda permanecem em vigor. Contudo, a decisão de Mulino de não renovar o acordo com a Iniciativa do Cinturão e Rota reflete a crescente pressão dos EUA sobre o Panamá, que vê o envolvimento chinês como uma ameaça à sua segurança geopolítica.
A postura do Panamá em relação à China tem gerado debates internos e internacionais, com alguns críticos afirmando que o país está cedendo à pressão dos Estados Unidos, enquanto outros defendem que a decisão é uma medida necessária para manter a neutralidade e a soberania sobre uma das infraestruturas mais estratégicas do mundo.
O desfecho dessa situação pode ter implicações significativas para o futuro das relações entre o Panamá, os Estados Unidos e a China, além de influenciar o papel do país no cenário geopolítico global.
Com informações do RT