Investidores compraram dólares, venderam ações e demonstraram preocupação com a inflação nesta segunda-feira, 3, em resposta à imposição de tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre importantes parceiros comerciais.
As novas tarifas, que entrarão em vigor nesta terça-feira (4), incluem um acréscimo de 25% sobre importações do México e da maioria dos produtos do Canadá, além de 10% sobre produtos chineses. A decisão afetou os mercados financeiros, que anteriormente consideravam as ameaças de Trump como estratégia de negociação.
A reação do mercado incluiu uma liquidação de ativos, abrangendo criptomoedas, ações e até mesmo o iene japonês, visto como um ativo de segurança. O impacto inflacionário das tarifas e a incerteza quanto à resposta do Federal Reserve foram apontados como fatores determinantes na venda de ativos.
O estrategista Alvin Tan, da RBC Capital Markets em Cingapura, avaliou que “a guerra comercial de Trump começou” e destacou a tendência de fortalecimento do dólar norte-americano.
Moedas e mercados financeiros em queda
O dólar registrou ganhos, impulsionado pela percepção de que países afetados pelas tarifas enfraqueceriam suas moedas para minimizar impactos econômicos. O euro caiu 1,3%, em meio a temores de que a Europa possa ser o próximo alvo de tarifas. O dólar canadense atingiu o menor nível em 20 anos, enquanto o yuan chinês também perdeu valor no mercado offshore.
Os preços do petróleo subiram, enquanto metais tiveram queda e os futuros de ações dos EUA recuaram cerca de 2%, diante da preocupação com o impacto sobre os lucros das empresas.
Trump afirmou que as tarifas podem gerar efeitos negativos “a curto prazo” para os norte-americanos, mas reafirmou a decisão. Os líderes do Canadá e do México anunciaram tarifas retaliatórias, enquanto o presidente dos EUA minimizou a possibilidade de revisão das medidas.
O governo dos EUA indicou que as tarifas sobre a União Europeia “definitivamente aconteceriam”, sem especificar um prazo.
Impactos sobre investidores e ações globais
A instabilidade gerada pelas tarifas também se refletiu nos mercados acionários globais. Analistas do Barclays estimam uma redução nos lucros das empresas americanas, enquanto o Canadá e o México sinalizaram retaliação.
Para o banco Mizuho, “os otimistas do mercado de ações que acreditavam que Trump favorecia as empresas estão sendo forçados a reconsiderar os efeitos das tarifas sobre crescimento e lucros”. As bolsas de Hong Kong, Tóquio, Sidney, Seul e Taipé registraram perdas de aproximadamente 2%, enquanto os futuros de ações europeus caíram 2,8%.
Tareck Horchani, da Maybank Securities em Cingapura, avaliou que “muitos investidores subestimaram a rapidez com que Trump transformou ameaças em ações”. Ele acrescentou que, apesar da busca por proteção em dólares e ouro, a reação do mercado ainda não precificou totalmente as consequências das medidas.
Incertezas sobre as tarifas
A duração e a justificativa exata das tarifas permanecem incertas, o que gera dúvidas entre investidores. Algumas expectativas apontam para um possível acordo ou retirada das tarifas caso Trump obtenha concessões dos países atingidos.
Trump vinculou as tarifas às questões migratórias e ao combate ao tráfico de drogas, incluindo o fentanil. China e México, no entanto, classificaram essas alegrações como um problema interno dos EUA, o que reduz as chances de avanço em negociações.
A China afirmou que contestará as tarifas na Organização Mundial do Comércio e prometeu contramedidas. Rick Meckler, da Cherry Lane Investments, observou que “tarifas generalizadas costumam ser um erro”, o que explica a incerteza do mercado.
No setor de dívida, os impactos são ambíguos. Enquanto a perspectiva de inflação pressiona os rendimentos, a possibilidade de cortes nas taxas pelo Federal Reserve pode beneficiar os títulos do Tesouro. Nesta segunda-feira, os títulos de 10 anos apresentaram leve alta, reduzindo os rendimentos para 4,52%.
Com informações da Reuters
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