Descobertos por acaso, novos medicamentos para perda de peso oferecem esperança no combate à obesidade, mas levantam questões sobre segurança, custos e prevenção
Drogas para perda de peso estão em todos os lugares. Nos jornais, nas redes sociais ou até mesmo na conversa no café da empresa, é difícil escapar dos rumores sobre injeções que prometem eliminar 10% a 20% do peso corporal. No entanto, o verdadeiro impacto dessas substâncias está sendo ofuscado pelo burburinho. Esses medicamentos representam uma nova e poderosa opção para tratar a obesidade, agora amplamente reconhecida por médicos como uma doença crônica. O excesso de peso aumenta significativamente o risco de diabetes, doenças cardíacas, derrames e até 13 tipos de câncer. Contudo, estudos mostram que, para a maioria das pessoas, dietas não são eficazes para perder grandes quantidades de peso a longo prazo: o corpo tende a resistir a mudanças mais drásticas. Como esses novos medicamentos podem ajudar?
A história dos medicamentos para perda de peso é marcada por fracassos e tragédias. Em 1934, cerca de 100 mil americanos usavam dinitrofenol para perder peso. A substância é tóxica, causando cataratas e, em alguns casos, mortes.
Segundo o The Economist, estima-se que 25 mil pessoas ficaram cegas por causa desse medicamento, que foi banido em 1938, mas continua a causar vítimas até hoje, já que ainda é vendido ilegalmente online. Em seguida, anfetaminas ganharam popularidade — até que os riscos de dependência e outros efeitos colaterais se tornaram evidentes.
Outra droga, a efedrina, usada por cerca de 70 mil pessoas em 1977, também foi proibida nos Estados Unidos após levar a mortes. Dois outros medicamentos, rimonabanto e sibutramina, foram retirados do mercado devido a preocupações com segurança.
A nova geração de medicamentos para perda de peso, que parece muito mais segura, foi descoberta por acaso. Eles foram desenvolvidos inicialmente para melhorar o controle de glicose em diabéticos, que sofrem com excesso de açúcar no sangue.
Esses medicamentos utilizam cadeias curtas de aminoácidos para imitar hormônios produzidos naturalmente pelo corpo após as refeições, mas que diabéticos às vezes produzem em quantidades insuficientes.
Os medicamentos semaglutida (vendido como Wegovy) e tirzepatida (que será comercializado como Mounjaro) imitam a ação do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), um desses hormônios. Ele aumenta a produção de insulina (que transporta açúcar do sangue para as células) e reduz a produção de glucagon (que libera açúcar no sangue a partir do fígado).
Além disso, ele desacelera o esvaziamento do estômago, criando uma sensação de saciedade que diminui o apetite. Há indícios de que o medicamento também pode aumentar o gasto energético ao transformar tecido adiposo branco em tecido adiposo marrom, que é mais facilmente queimado em repouso. Esses efeitos não apenas beneficiam diabéticos, mas também promovem a perda de peso.
Há, no entanto, contrapontos. Os efeitos colaterais dos medicamentos baseados em GLP-1 incluem náuseas e vômitos, além de preocupações de que possam aumentar o risco de tumores na tireoide. Esses medicamentos certamente não devem ser usados por razões cosméticas. Além disso, pode ser necessário tomá-los por toda a vida: quando os pacientes param de usá-los, eles recuperam a maior parte do peso perdido. E há o custo elevado.
Mas os benefícios potenciais dessas drogas vão além de sua capacidade de promover a perda de peso individual. Ao demonstrar que mecanismos moleculares dificultam a perda de peso, elas mostram que a obesidade não é resultado simplesmente de “gula”.
Isso deve, aos poucos, ajudar a eliminar o estigma associado à condição. Tanto a cirurgia bariátrica quanto os medicamentos são ferramentas úteis na luta contra a obesidade. Mas, ao mudar a conversa, essas novas drogas podem lembrar os líderes dos sistemas de saúde que precisam fazer muito mais para incentivar estilos de vida saudáveis.
Mais ação é necessária porque o problema está crescendo rapidamente: mais da metade da população mundial estará acima do peso até 2035, em comparação com 38% hoje, segundo a Federação Mundial de Obesidade, uma ONG.
Os novos medicamentos para perda de peso representam um ponto de virada no tratamento da obesidade. No entanto, se os governos quiserem gastar menos com medicamentos e cirurgias, precisarão focar na prevenção para evitar que as pessoas se tornem obesas em primeiro lugar.