A confiança da indústria brasileira registrou uma nova queda em janeiro, impulsionada pela piora nas expectativas para os próximos meses, conforme dados divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta quarta-feira, 29.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) recuou 1,3 ponto na comparação com dezembro de 2024, chegando a 98,4 pontos. Este é o menor nível do indicador desde maio do ano passado, quando marcou 98,0 pontos.
De acordo com Stéfano Pacini, economista do FGV IBRE, o resultado reflete a cautela dos empresários diante das perspectivas futuras, além de uma desaceleração nos indicadores atuais.
“A confiança da indústria inicia o ano em queda, refletindo cautela dos empresários quanto às expectativas futuras e desaceleração nos indicadores de presente”, afirmou Pacini.
Apesar de os estoques estarem em níveis satisfatórios, a percepção sobre a demanda se mostra negativa, especialmente nas categorias de uso.
A pesquisa revelou que, em janeiro, houve uma queda na confiança em 10 dos 19 segmentos industriais analisados pela FGV. O principal fator responsável pelo recuo no índice geral foi o Índice de Expectativas (IE), que mede a percepção dos empresários sobre os próximos meses.
Este indicador caiu 2,7 pontos, atingindo 95,9 pontos, o que representa uma diminuição significativa nas expectativas do setor.
Por outro lado, o Índice de Situação Atual (ISA), que avalia a percepção sobre o momento presente da indústria, registrou uma variação quase nula, subindo apenas 0,1 ponto, para 100,9 pontos. Esse indicador reflete o sentimento dos empresários em relação à situação atual, que permanece relativamente estável.
O destaque negativo nas expectativas foi a queda nos indicadores relacionados à produção nos três meses seguintes, que recuaram 4,3 pontos, para 94,3 pontos. Além disso, houve uma diminuição de 3,4 pontos no índice de ímpeto sobre as contratações, que passou para 98,7 pontos, indicando uma visão mais pessimista sobre a geração de empregos no setor.
Pacini ressaltou que o cenário macroeconômico, com a taxa de juros elevada e o câmbio desvalorizado, pode representar novos desafios para o setor industrial, após um ano de resultados positivos. A alta nos juros tem impacto direto no custo de crédito e na capacidade de investimento das empresas, o que pode agravar o quadro de incerteza.
Em dezembro de 2024, o Banco Central acelerou o processo de aperto monetário, elevando a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano.
Além disso, a autoridade monetária indicou a possibilidade de mais dois aumentos da mesma magnitude, devido ao risco de piora na dinâmica inflacionária, especialmente após o anúncio de medidas fiscais do governo.
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve anunciar sua próxima decisão sobre a taxa de juros nesta quarta-feira, 29, o que mantém o mercado atento às possíveis consequências para a economia.
A combinação de uma política monetária mais restritiva e o cenário cambial desfavorável coloca o setor industrial em uma posição de maior cautela, impactando diretamente o otimismo para os próximos meses.
A expectativa é de que a confiança da indústria continue pressionada, principalmente em setores mais sensíveis ao custo do crédito e à variação cambial. A evolução desse quadro será crucial para as projeções de crescimento econômico no Brasil ao longo de 2025.
Com os desafios internos e externos em jogo, os empresários do setor industrial demonstram um cenário de incerteza que pode afetar as decisões de investimento e de contratação nos próximos meses, com reflexos no ritmo de recuperação econômica do país.
O impacto da política monetária, a estabilidade do câmbio e a evolução das medidas fiscais serão fatores determinantes para a recuperação ou agravamento da confiança do setor.
Com informações da Reuters