A aquisição de 36 veículos blindados da empresa israelense Elbit Systems, avaliada em R$ 1 bilhão, foi suspensa pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva devido a um impasse entre o Ministério da Defesa e o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim. A informação foi divulgada pela jornalista Malu Gaspar, de O Globo.
O contrato com a Elbit Systems, que venceu o processo licitatório em abril de 2024, estava previsto para ser assinado em maio do mesmo ano, mas foi adiado após intervenção de Amorim.
O assessor argumentou que o acordo seria incompatível com a posição crítica do governo brasileiro em relação às ações militares de Israel na Faixa de Gaza. “O negócio poderia financiar os ataques de Israel aos palestinos”, afirmou Amorim, que defende o cancelamento da compra.
Por outro lado, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, classificou a oposição de Amorim como “ideológica”. Inicialmente, Múcio propôs uma solução intermediária, sugerindo que o Brasil adquirisse parte dos equipamentos. No entanto, a alternativa foi descartada após negativa do presidente Lula.
Com o impasse, o Exército decidiu, em dezembro, prorrogar por mais seis meses o prazo para a conclusão do contrato. Segundo uma fonte ligada ao Ministério da Defesa, a expectativa é que mudanças no cenário geopolítico possam viabilizar o acordo no futuro. “Se o cenário geopolítico melhorar, quem sabe o negócio ainda possa ser fechado”, disse a fonte.
Tensão Diplomática com Israel
O caso ocorre em meio a um histórico de tensões entre Brasil e Israel. Em fevereiro de 2024, o então ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, declarou Lula como “persona non grata” após o presidente comparar as ações militares israelenses ao regime nazista. Durante o episódio, o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, foi publicamente repreendido no Museu do Holocausto.
Celso Amorim, principal conselheiro de Lula para questões de política externa, reforçou a posição contrária ao contrato com a Elbit Systems, alegando que o Brasil não deve firmar acordos com uma empresa de um país que insultou o presidente. De acordo com fontes do governo, a decisão final será guiada pela diplomacia, e não pelo setor técnico.
Aspectos Jurídicos
Apesar das divergências políticas, o Tribunal de Contas da União (TCU) afirmou, em setembro de 2024, que não existem impedimentos legais para que o Brasil firme contratos com fornecedores de países envolvidos em conflitos armados. O parecer incluiu a possibilidade de participação de empresas estrangeiras em licitações e a assinatura de contratos mesmo em situações de tensões geopolíticas.
O futuro do contrato permanece indefinido, enquanto o governo equilibra questões de segurança nacional, diplomacia e posicionamento político no cenário internacional.
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