Com críticas ao movimento ambientalista, Milei sinaliza saída da Argentina do acordo de Paris, colocando em risco metas globais de limitar o aquecimento a 1,5°C
O governo de Javier Milei está avaliando uma proposta para que a Argentina abandone o Acordo de Paris, poucos dias após Donald Trump anunciar que os Estados Unidos sairiam do principal tratado global sobre mudanças climáticas.
Segundo o Financial Times, embora uma decisão final ainda não tenha sido tomada, duas pessoas familiarizadas com as discussões disseram que a Argentina provavelmente seguirá os passos dos EUA, uma decisão que a tornaria o segundo país a deixar o acordo assinado por quase 200 nações.
Altos funcionários estão estudando um memorando interno que recomenda a saída, segundo pessoas informadas sobre o assunto. A medida ocorre após o país retirar negociadores da cúpula climática COP29 no ano passado e afirmar que está reavaliando seus compromissos internacionais relacionados ao meio ambiente.
Funcionários públicos tentam dissuadir a equipe de Milei de abandonar o acordo, disseram as fontes. Um diplomata argentino afirmou que Milei tomará a decisão final e que “parece muito provável que acabemos saindo”.
Uma saída, se confirmada, representaria um grande golpe para os esforços globais de combate às mudanças climáticas. O Acordo de Paris tem como objetivo limitar o aumento da temperatura global a bem abaixo de 2°C e, idealmente, a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
A divisão ambiental do Ministério do Interior da Argentina não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
O líder libertário, que nega que os seres humanos sejam uma causa das mudanças climáticas, condenou o movimento ambientalista global em um discurso no Fórum Econômico Mundial em Davos na quinta-feira.
“O wokeismo perverteu a ideia básica de preservar o meio ambiente para o usufruto dos seres humanos e a transformou em um ambientalismo fanático, onde os humanos são vistos como um câncer que deve ser eliminado, e o desenvolvimento econômico é tratado como um crime contra a natureza”, disse ele.
Na segunda-feira, Trump assinou uma ordem executiva para retirar os EUA do Acordo de Paris pela segunda vez, após já ter deixado o acordo durante seu primeiro mandato. Nenhum outro país abandonou o tratado de 2015.
A saída do Acordo de Paris exigiria aprovação do Congresso na Argentina, mas Milei frequentemente contorna o Legislativo por meio de decretos de emergência desde que assumiu a presidência.
O ano passado foi o mais quente já registrado, e cientistas alertam que o mundo está cada vez mais distante de atingir as metas de temperatura estabelecidas no acordo.
Impactos potenciais da saída
Uma retirada poderia afetar o acordo comercial entre a UE e o Mercosul, concluído em dezembro entre Europa, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que prevê a suspensão do acordo comercial caso uma das partes signatárias deixe o Acordo de Paris.
Um diplomata afirmou: “A equipe técnica do ministério está tentando explicar que, embora Trump possa fazer o que quiser, para a Argentina isso traria consequências.”
Eles também citaram possíveis complicações para a recente candidatura da Argentina de ingressar na OCDE, organização que defende padrões de políticas ambientais para seus membros.
Críticos argumentam que a Argentina também correria o risco de perder acesso a fluxos de financiamento internacional vinculados ao clima, após receber bilhões em recursos desse tipo, e poderia ser excluída dos mercados globais de carbono no futuro.
Os países devem apresentar planos climáticos atualizados no próximo mês, conforme previsto pelo Acordo de Paris, embora muitos devam perder o prazo.