Huawei aposta na inferência para destronar Nvidia no mercado de IA

Huawei busca conquistar participação de mercado em chips de IA da Nvidia na China / Montagem FT/Bloomberg

Huawei aposta em chips Ascend como alternativa estratégica à Nvidia no mercado chinês de IA, impulsionada por apoio governamental e foco em eficiência na inferência


A Huawei está buscando ampliar sua participação no mercado chinês de chips de inteligência artificial (IA), atualmente dominado pela Nvidia, incentivando empresas locais a adotarem seus processadores rivais para tarefas de “inferência”. Grandes empresas de IA na China dependem de unidades de processamento gráfico (GPUs) da Nvidia para “treinar” modelos de linguagem de grande escala, com os produtos da gigante norte-americana, avaliada em US$ 3,4 trilhões, sendo considerados fundamentais para o desenvolvimento da tecnologia.

Segundo o Financial Times, em vez de competir diretamente com a Nvidia no treinamento, a Huawei está posicionando seus mais recentes processadores Ascend AI como a escolha preferida para grupos chineses que realizam “inferência”, os cálculos necessários para que os modelos de linguagem gerem respostas aos comandos recebidos.

A gigante tecnológica chinesa aposta que a inferência se tornará uma fonte mais significativa de demanda no futuro, especialmente se o ritmo de treinamento de modelos desacelerar e aplicações de IA, como chatbots, se tornarem mais amplas.

“O treinamento é importante, mas acontece apenas algumas vezes”, explicou Georgios Zacharopoulos, pesquisador sênior de IA no laboratório da Huawei em Zurique, especializado na aceleração de inferência. “A Huawei está principalmente focada na inferência, que, em última análise, atenderá a um número maior de clientes.”

As principais empresas de IA na China contam com unidades de processamento gráfico fabricadas pela Nvidia para “treinar” grandes modelos de linguagem / Costfoto/NurPhoto via Getty Images

A empresa está adotando um caminho tecnicamente menos desafiador, mas potencialmente lucrativo, ao adaptar modelos de IA treinados em GPUs da Nvidia para rodar em seus chips Ascend. Como os sistemas Nvidia e Ascend operam com softwares diferentes, a Huawei está auxiliando empresas com ferramentas que tornam os dois sistemas compatíveis.

O avanço da Huawei conta com forte apoio governamental. Autoridades chinesas têm pressionado grandes empresas de tecnologia locais a comprarem mais chips de IA da Huawei e reduzirem sua dependência da Nvidia.

Uma fonte próxima às operações da Nvidia na China afirmou que a Huawei é vista internamente como sua principal concorrente no país, destacando a capacidade “avançada” de design de chips da empresa chinesa.

Os controles de exportação impostos por Washington visam restringir o desenvolvimento de tecnologias sensíveis na China, limitando o acesso a GPUs de ponta. Mesmo assim, os chips menos potentes H20 da Nvidia, projetados para atender às restrições de exportação, continuam muito procurados, pois superam as alternativas locais em desempenho.

Ao contrário de seus rivais norte-americanos, como OpenAI e Google, as empresas chinesas não conseguem acessar as GPUs mais avançadas / Glenn Chapman/AFP via Getty Images

Pesquisadores e analistas apontam que os chips Ascend ainda não estão prontos para substituir a Nvidia no treinamento de modelos devido a questões técnicas, como a interação limitada entre os chips em grandes clusters de IA durante o treinamento de modelos complexos.

“Embora os chips Ascend tenham um bom desempenho individual, há gargalos na conectividade entre os chips”, explicou Lin Qingyuan, analista de semicondutores da Bernstein. “No treinamento de um grande modelo, é preciso dividi-lo em tarefas menores. Se um chip falhar, o software precisa redistribuir as tarefas sem atrasos.”

Outro desafio para a Huawei é convencer os desenvolvedores a migrarem do software Cuda da Nvidia, amplamente reconhecido por sua eficiência e facilidade de uso. No entanto, a nova versão do chip Ascend, o 910C, promete abordar essas limitações.

Estimativas da SemiAnalysis indicam que a Nvidia faturou US$ 12 bilhões em vendas na China no último ano, entregando 1 milhão de chips H20 no país — o dobro das vendas de chips Ascend da Huawei. Entretanto, a diferença está diminuindo rapidamente à medida que a Huawei expande sua capacidade de produção.

As autoridades chinesas instaram os gigantes da tecnologia locais a comprar mais chips de IA da Huawei e a abandonar a Nvidia / CFOTO/Sipa USA via Reuters

Apesar disso, a oferta limitada de chips Ascend ainda é um obstáculo, segundo especialistas do setor. Dois potenciais clientes disseram ao Financial Times que não conseguiram adquirir os chips devido à baixa disponibilidade.

Os controles de exportação dos EUA também impõem desafios à Huawei, deixando as fábricas chinesas dependentes de equipamentos de fabricação de chips desatualizados. Ainda assim, a ênfase da Huawei em tarefas de inferência reflete uma dinâmica distinta no mercado chinês de IA, diferente da corrida por mega-clusters de GPUs avançadas liderada por gigantes como Meta, x.AI de Elon Musk e OpenAI no Vale do Silício.

“As empresas chinesas estão jogando um jogo diferente”, destacou Lin, da Bernstein. “Elas focam na inferência, onde é possível obter grandes ganhos de eficiência mesmo com chips menos potentes, tornando a comercialização mais rápida.”

No mês passado, a startup DeepSeek lançou o modelo V3, que chamou atenção por seus baixos custos de treinamento e inferência em comparação com modelos similares nos EUA. A empresa utilizou técnicas inovadoras, como o método “mistura de especialistas”, que acelera o processo de inferência ao usar apenas partes específicas do modelo.

A DeepSeek também revelou que a Huawei conseguiu adaptar com sucesso o V3 para os chips Ascend, fornecendo suporte técnico detalhado para desenvolvedores. Essas ações destacam os esforços contínuos da Huawei para competir no mercado de IA, mesmo sob as restrições impostas por Washington.

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