Excepcionalismo americano atinge o ápice

A participação dos EUA no investimento estrangeiro direto global atinge um recorde / Montagem FT/AFP/Getty Images

Os EUA atraem fluxos recordes de investimento estrangeiro direto, impulsionados pela forte demanda interna, incentivos governamentais e avanço em setores estratégicos


A participação dos EUA nos projetos globais de investimento transfronteiriço atingiu o nível mais alto já registrado, destacando o momento econômico mais forte do país em comparação à Europa e à China, enquanto Donald Trump inicia seu segundo mandato na presidência.

Os números relativos a projetos greenfield anunciados — nos quais empresas constroem ou expandem novas instalações e operações em um país estrangeiro — surgem em meio ao debate de líderes políticos e empresariais em Davos sobre como a presidência de Trump pode remodelar a ordem econômica global com tarifas acentuadas e produção repatriada.

A proporção de novos projetos de IDE (Investimento Direto Estrangeiro) anunciados nos EUA subiu de 11,6% em 2023 para 14,3% nos 12 meses até novembro de 2024, de acordo com uma análise do Financial Times baseada em dados da fDi Markets, empresa do FT que monitora investimentos transfronteiriços desde 2003.

Esse aumento foi impulsionado pela forte demanda do consumidor e incentivos governamentais na maior economia do mundo, segundo economistas. “Os EUA estão atraindo cada vez mais projetos globais de investimento, refletindo o otimismo na demanda e o crescimento de produtividade muito superior ao de outros lugares”, disse Innes McFee, economista global da Oxford Economics.

Trump deve discursar no Fórum Econômico Mundial em Davos na quinta-feira via videoconferência, com os delegados ansiosos para ouvir seus planos econômicos. Apesar da incerteza gerada por suas políticas, os economistas acreditam que sua agenda pode impulsionar a atratividade dos EUA a curto prazo.

Nos 12 meses até novembro de 2024, os EUA atraíram mais de 2.100 novos projetos greenfield de IDE, enquanto a China garantiu menos de 400 projetos no mesmo período, um nível historicamente baixo. Já na Alemanha, o número caiu para 470, o menor em 18 anos.

Segundo Nathan Sheets, economista-chefe do Citi, o aumento nos EUA se deve, em parte, ao papel do país como um centro de inovação em IA, custos de energia mais baixos e incentivos do governo, como o Inflation Reduction Act e o Chips Act. Em contrapartida, a participação da China caiu devido a questões geopolíticas e à estratégia ocidental de “redução de riscos” em relação ao país. Na Europa, os altos preços de energia também impactaram negativamente os investimentos.

O valor estimado dos novos projetos greenfield de IDE nos EUA subiu mais de US$ 100 bilhões, atingindo US$ 227 bilhões nos 12 meses até novembro. Setores como semicondutores, equipamentos industriais, energia renovável e aeroespacial registraram recordes de projetos no período.

De acordo com o FMI, o crescimento econômico dos EUA deve continuar superando o de outras nações avançadas, com uma previsão de 2,7% em 2025, comparado a apenas 1% na zona do euro.

O cenário geopolítico em mudança e o aumento das tensões comerciais entre EUA e China estão moldando as tendências de IDE, à medida que multinacionais buscam mitigar riscos na cadeia de suprimentos. O conceito de “friendshoring” — produção em países aliados — e de reshoring para indústrias estratégicas, como microchips e saúde, está em alta, segundo Samy Chaar, economista-chefe do Lombard Odier.

Sessenta e dois por cento dos projetos de IDE nos EUA no último ano vieram da Europa Ocidental, um aumento em relação aos 58% registrados na década anterior à pandemia.

Em contraste, o número de projetos americanos no exterior caiu para 2.600 nos 12 meses até novembro, o menor nível em duas décadas, excluindo o auge da pandemia. As políticas industriais dos EUA têm incentivado as empresas americanas a manterem a produção no país, apontam especialistas.

Apesar das incertezas sobre as políticas comerciais e tributárias de Trump, economistas acreditam que seu governo não deve desencorajar investimentos a curto prazo. “A atratividade dos EUA para investimentos mundiais continuará crescendo”, disse Richard Bolwijn, chefe de pesquisa de investimentos na Unctad.

Com informações de Financial Times*

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