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Não falta comunicação ao governo, o que falta é um projeto nacional para mobilidade de bens e pessoas!

Algumas obsessões são saudáveis. Mantenho a minha, portanto, de que o grande problema do Brasil é a falta de um projeto nacional de infraestrutura para mobilidade de pessoas e bens, centrado sobretudo no transporte sobre trilhos. Quanto mais pesquiso e escrevo sobre a política e a economia do Brasil, mais tenho a convicção de que […]

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Trens-bala projetados para viajar a 350 km/h para a Ferrovia de Alta Velocidade Jacarta-Bandung saem da linha de montagem em Qingdao, na província de Shandong, no leste da China, em 5 de agosto de 2022. Foto: cortesia da China Railway.

Algumas obsessões são saudáveis. Mantenho a minha, portanto, de que o grande problema do Brasil é a falta de um projeto nacional de infraestrutura para mobilidade de pessoas e bens, centrado sobretudo no transporte sobre trilhos.

Quanto mais pesquiso e escrevo sobre a política e a economia do Brasil, mais tenho a convicção de que o país precisa de trens de alta velocidade conectando capitais, grandes cidades e áreas rurais, além de sistemas de metrô e VLT para desafogar a mobilidade nas regiões metropolitanas. O brasileiro está preso em seu próprio país, sem poder se deslocar!

As riquezas nacionais, da mesma forma, estão bloqueadas pela ausência de um sistema nacional de transporte sobre trilhos.

Não consigo, inclusive, enxergar nenhuma possibilidade de um projeto de neoindustrialização dar certo se este gargalo não for enfrentado.

A China já está indo para uma nova geração de ferrovias de alta velocidade, com trens se deslocando dentro de tubos a semivácuo, o que permite reduzir a fricção do ar e elevar a velocidade dos trens dos máximos atuais, de até 350 km/h, para perto de 1.000 km/h.

O mau humor do brasileiro contra o governo nasce, sobretudo, desse problema de mobilidade, na minha opinião.

Por mais que empregos estejam sendo gerados e a renda média dos trabalhadores tenha aumentado, a qualidade de vida de todos os cidadãos continua se degradando porque a mobilidade nas cidades está cada vez mais infernal.

Além disso, é evidente que isso atrapalha o combate à inflação, já que os bens consumidos pela sociedade precisam ser transportados por rodovias cada vez mais congestionadas. Imagine o trabalho de transportar carne em caminhões refrigerados pelas estradas brasileiras.

Essa é minha maior crítica, não apenas ao governo Lula, mas a toda a esquerda brasileira. Eu realmente não consigo entender por que a esquerda brasileira não olha para a mobilidade como um problema central do país, que bloqueia fatalmente o desenvolvimento econômico, aprisiona dezenas de milhões de brasileiros em periferias inacessíveis e deteriora a qualidade de vida de toda a população.

Quer dizer, até entendo. E minha conclusão é muito crítica à esquerda e ao governo. A esquerda organizada e institucional, agora no governo, tem passagens aéreas pagas pelo Estado e passa a ignorar que a população não tem essas regalias. A classe média progressista mora em bairros nobres, com acesso relativamente fácil a seus locais de trabalho e ao aeroporto, e sua preocupação se concentra, portanto, em coisas abstratas (apesar de fundamentais), como democracia, “comunicação do governo”, regulação ou não das redes etc. Enquanto isso, a população é torturada diariamente em meios de transporte totalmente incompatíveis com a tecnologia disponível hoje no mundo.

E me surpreende que o governo sequer oferece esperança de que isso possa mudar. Como assim?

Essa cultura da esquerda, do governo e da classe média progressista de ignorar o problema mais central do país deriva de um sentimento de casta. A classe média tem carro, pode andar de avião, viajar o mundo. Para que se importar com coisas prosaicas como a mobilidade de bens e pessoas no Brasil?

Eu vejo o governo apenas falar em carro, carro, carro. Carro podia ser transporte popular e confortável na década de 70, quando Lula adquiriu seu primeiro automóvel e as cidades e estradas não eram congestionadas. Não é mais assim! Carro novo hoje é muito caro e, sobretudo, não é mais um transporte confortável, em função do excesso deles.

Quando pensei que Lula estaria negociando com a China algum projeto ambicioso para importar a tecnologia ferroviária revolucionária daquele país, o governo anuncia… mais fábricas de carros no Brasil!

Se alguém experimentar um congestionamento na Avenida Brasil ou na Linha Amarela, num dia quente do Rio de Janeiro, entenderá rapidamente por que ainda existe tanto mau humor contra o governo e contra o Estado. Contra qualquer governo e contra qualquer Estado. A extrema-direita se beneficia desse sentimento porque ela é “antissistema”, o que significa que é mentirosa e destrutiva. Mas não se deve esperar, naturalmente, nada de útil ou bom da extrema-direita. Já do campo democrático, da esquerda, do centro “esclarecido” e, sobretudo, do governo Lula, espera-se mais consciência acerca do problema dramático da mobilidade.

Até mesmo a questão da segurança pública está diretamente ligada à mobilidade. As cidades brasileiras só serão seguras quando possuírem sistemas de transporte eficientes, que permitam o deslocamento rápido das forças de segurança.

Educação, saúde, segurança, desenvolvimento, todos os setores da vida nacional precisam de um sistema nacional de mobilidade mais inteligente, focado sobretudo no transporte sobre trilhos.

Não é comunicação, meus amigos e amigas, que falta ao governo Lula. O que falta são projetos para construção de trens, metrôs e VLTs!

Ah, mas isso não exigiria décadas?

Não, hoje em dia há tecnologias e experiência para transformar a mobilidade de bens e pessoas no Brasil em poucos anos. Justamente por ser algo que exige um tempo de construção maior do que outros meios de transporte, deveríamos ter um maior senso de urgência para dar logo início a um projeto assim! Façamos projetos-piloto!

Por que nem Lula, nem nenhum ministro de seu governo, nem nenhum político de esquerda fala de trens? Não consigo entender!

Além disso, este seria o “sonho” que falta ao governo Lula. A perspectiva de tempos melhores no futuro ajudaria muito a dissolver o crescente e inevitável mau humor dos brasileiros contra o governo e contra o Estado.

Tenho escrito bastante sobre trens nos últimos anos e já detectei que o tema faz os olhos brilharem dos brasileiros comuns, à direita e à esquerda. Apenas os políticos, inclusive os de esquerda, ignoram o assunto ou olham para ele com ar blasé, pelas razões tristes e egoístas que expus acima: já estão acomodados em seus apartamentos próprios em bairros nobres e contentes com os tickets aéreos emitidos pelo Estado.

Nem a esquerda radical parece entender a importância disso. Ao invés de abordar temas práticos, como a mobilidade urbana, prefere engajar-se em intermináveis sessões coletivas de masturbação ideológica sobre o suposto “neoliberalismo” do governo Lula. Essa é uma das razões para seus resultados eleitorais absolutamente medíocres. Apenas existem nas redes sociais, fazendo barulho como cãezinhos estridentes, mas inofensivos.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Paulino Camargo

27/01/2025 - 11h47

O mau humor contra o governo é derivativo de que parece pela mídia que estamos avançando Mas, se olharmos atentamente, estamos é patinando, parece que andamos mas, não saímos do mesmo lugar. Estas melhoras que a mídia elogia nos parecem café requentado. O mau humor é como um amigo meu que o elogio da Mídia ao governo são só falácias, ele citou: Estou passando necessidades, pois ganho um salário mínimo e meu filho é deficiente e tem todo o direito de receber BPC, mas, o trf1 parece enrolado nos cabelo das pernas. Não se sabe se é por lerdeza ou sofre pressão governo. Ele acredita que são pelas duas coisas.
Por estas e outras que continuamos patinando sem sair do lugar.

Paulino Camargo

25/01/2025 - 18h49

Quando você vê o governo se vangloriando que exportamos bilhões, bilhões daquilo etc e etc e olhamos uma favela que 400 mil habitantes pendurados num morro (um barraco em cima do outro) chegamos a conclusão que não está se falando do mesmo país!
Vemos ai pessoas com direito a BPC e a Justiça nada faz, aliás, faz, só que é enrolação.

Ligeiro

21/01/2025 - 13h09

Mas Rosário, falar que é “só” problema da falta de transporte ignora que temos na verdade o problema do Urbanismo em si. Cidades são mau projetadas, tentando as vezes emular aquela coisa dos “setores bem separados” ao invés de uma integração melhor entre residências e comércios. Não adianta por um bom transporte sendo que muitas vezes atende uma região condominial distante de um centro comercial. As pessoas neste caso vão sempre na máxima de comprar um carro pois mais prático.

A falta de um transporte com custo justo (se possível subsidiado quando necessário) e eficiente (que atenda sem firulas) é UM dos problemas. O urbanismo – a definição de áreas de comércio e residência – é outro. Os dois juntos ajudam.

Só que para isso, também tem que se mudar a cultura de quem é “dono de terras”. Pois enquanto existir a figura do “espólio”, vamos lidar muito com especulações imobiliárias e problemas de organização territorial.

De qualquer forma, falta sim comunicação. E não só. Falta educação política (para criar uma consciência crítica ao cidadão e ele cair a ficha que apoiar atitudes contra ele mesmo é dar tiro no pé), falta sociabilidade (estamos começando a viver em uma sociedade “cada um por si” e tenho visto muitos progressistas agirem assim, mesmo tentando pregar “otimismo”.

Ewerton Siqueira

21/01/2025 - 08h31

Sobre Trump. esperamos que ele modere suas narrativas, pois, quando político falam, mas, na hora do vamos ver a história muda.

Ewerton Siqueira

19/01/2025 - 18h43

O CAFEZINHO e o 247 seguem no mesmo ritmo, caminham paralelos, pois, tudo que é postado nestes dois é DELETADO, nunca publicam nada que é postado. Do jeito que vai indo muito breve não terão mais leitores e nem postantes.
Aguardemos!!!!!

Josué

19/01/2025 - 18h37

Na verdade nós temos tudo. Temos matéria prima, energia, professores, trabalhadores e conhecimentos. O que falta é reduzir os brutais salários dos marajás do serviço público, para sobrar dinheiro para fazer tudo o que precisamos.

Paulino Camargo

19/01/2025 - 07h36

O comentário vai ao cerne de um dos problemas. Mas, o mau humor do brasileiro não é só por causa de deslocamento, mas, tem tantos outros. Vejamos: enquanto o governo fala que o
O País exportou trilhões, Petrobrás, BNDEES, deram lucros vultuosos, mas, isto nós parece balelas. Cadê o dinheiro das exportações? Para onde está indo?
Muitos países não exportam nem dez por cento do que exportamos e vivem bem, e nós? Carne e café só para citar subiu cem por cento, depois vem o governo bisbilhotar nas contas de um proprietário de um MEI falido, Todo mundo está careca de saber que o desemprego diminuiu muito, mas, de que adianta o coitado trabalhar para ganhar pouco mais de um salário mínimo? Se um salário mínimo não dá nem pra morrer de fome!!!!!!!!!!!!

Ewerton Siqueira

19/01/2025 - 07h19

Enquanto exporta trilhões, a Petrobrás dá lucro de bilhões, O BDEES idem, mas, a maioria do brasileiro quer saber é da sua vida. De adianta exportar trilhões, pois. ele sente é no bolso, pois, vai no supermercado vê: Carne aumentou 100% café idem, mas, de que adianta tanta exportação se isto não melhora a vida do brasileiro? Alguns setores como o agronegócio estão rindo de orelha a orelha e o Governo na sua “inocência” tem a capacidade de querer taxar movimentação acima de cinco mil reais!
Porque que blogues como o CAFEZINHO, faz ouvidos de mouco. Será porque tem medo de perder a verba publicitária e nada publicam para não melindrar o governo, só pode né!

Tiago Silva

19/01/2025 - 00h15

Não é questão de problema coma a comunicação do governo federal, mas a questão central é o problema com credibilidade.

Ainda se espera que se cumpra o slogan do governo Lula III:

Colocar o rico pejotizado ou isentando em lucros/dividendos no Imposto de Renda (e que pagasse mais proporcionalmente que um CLTista)… E colocar o pobre no Orçamento Público (porém, o que está no orçamento é o pagamento de juros e Emendas para o Centrão).

Jhon

18/01/2025 - 19h09

Falta o que comunicar mesmo.

Stalingrado

18/01/2025 - 18h37

Este texto de Miguel é extremamente reducionista. As ações nos municípios são de obrigação das prefeituras que podem solicitar apoio dos governos estaduais ou federal.
No que tange ao transporte interestadual, a obrigação do governo federal é evidente e poderia ser incrementada num acordo de financiamento com a China uma vez que não há orçamento para tal.
Falar é muito fácil, fazer é uma história bem diferente.
Eu adoraria que tudo que Miguel apontou se tornasse realidade, mas é só um desejo.

Jota One

18/01/2025 - 17h19

O colunista misturou alhos com bugalhos.

Fanta

18/01/2025 - 16h12

Falta o que comunicar mesmo e o que é comunicado é pura imundícia.

Tomara que consigam comunicar mais do que fazem pois quanto mais os brasileiros ficam sabendo das porcarias que fazem Lula e a gangue dele mais cedo este governo, o próprio Lula e o PT serão extintos.

Kleiton

18/01/2025 - 15h36

“Além disso, este seria o “sonho” que falta ao governo Lula. A perspectiva de tempos melhores no futuro já ajudaria muito a dissolver o crescente e inevitável mau humor dos brasileiros contra o governo…”

Isso seria a enésima canoura pendurada em frente aos jumentos para ganhar votos né ?

Zulu

18/01/2025 - 15h27

Quem fez algo nesse sentido foi Tarcísio com pouco nada de dinheiro.

A esquerda hoje representa e cada dia mais representará uma elitezinha radical xique de apartamento e nada mais.

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