O jornalista e doutor em história da USP alerta para o impacto político da polêmica portaria do Pix, destacando os riscos para a popularidade de Lula e as alianças cruciais para 2026
A recente polêmica em torno da portaria da Receita Federal, que previa maior monitoramento de transações financeiras por meios como o Pix, TED e cartões de crédito, foi tema de uma análise contundente do jornalista Rodrigo Vianna. Em suas redes sociais, Vianna destacou os riscos políticos da medida e apontou o que considera ser um erro estratégico do governo Lula ao insistir em uma batalha com grande potencial de desgaste.
A portaria da Receita previa o envio de informações sobre movimentações financeiras acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para pessoas jurídicas. O objetivo declarado era combater crimes financeiros e sonegação fiscal, incluindo grandes operadoras de apostas online. No entanto, a medida enfrentou forte reação nas redes sociais, alimentada por desinformação e discursos inflamados de políticos como o deputado Nikolas Ferreira, cujo vídeo atingiu milhões de visualizações.
O impacto negativo foi imediato: uma queda significativa no número de transações via Pix e um aumento na desconfiança da população em relação ao governo. Diante da repercussão, o presidente Lula revogou a norma, prometendo editar uma Medida Provisória para reforçar a gratuidade e o sigilo do Pix.
“Lula é a última trincheira”
Vianna, vencedor de prêmios como Herzog e Embratel e doutor em História pela USP, argumenta que a decisão de implementar a portaria foi um erro político grave. Segundo ele, Lula já enfrenta um país polarizado, com metade da população contra seu governo desde o início. Essa medida teria aberto uma porta para ataques da extrema-direita, que já busca criar uma “onda de 2013 virtual”, referência aos protestos que marcaram o início do desgaste do governo Dilma Rousseff.
Para Vianna, Lula é a principal barreira contra a ascensão da extrema-direita, que tenta se reorganizar para 2026. Ele ressalta que, se a popularidade do presidente cair agora, setores do Centrão que hoje apoiam o governo podem migrar para alianças com Tarcísio de Freitas, potencial candidato da direita.
“A política exige escolhas”
Vianna lembra que, na política, é essencial escolher as batalhas. Ele compara a situação atual com medidas passadas, como a Comissão da Verdade, que gerou atritos com militares, mas tinha importância histórica e política. Em contrapartida, ele classifica a portaria do Pix como uma “medida lateral” na gestão das contas públicas, sem impacto significativo para o combate à sonegação ou ao crime organizado.
O jornalista aponta que a batalha da comunicação já foi perdida. Ele cita o alcance de milhões de visualizações do vídeo de Nikolas Ferreira como prova de que a direita dominou a narrativa, impulsionada por algoritmos e desinformação. “Retirar a portaria é a saída menos ruim agora”, afirma Vianna, defendendo que o governo deve recuar para evitar mais danos e reorganizar suas estratégias.
Reduzir danos e olhar para 2026
Embora reconheça que muitos vejam a revogação como uma derrota, Vianna considera que insistir na medida seria um erro ainda maior. Ele alerta para o risco de a extrema-direita transformar o caso em um novo estopim para protestos em larga escala. “O menos ruim, a essa altura, é retirar a portaria e reorganizar as tropas para o combate que será duro até 2026”, conclui.
O recuo no caso do Pix não é apenas uma necessidade tática, mas um movimento essencial para preservar o capital político de Lula e evitar desgastes que podem comprometer o futuro do governo e as alianças para 2026.
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