Todas as análises sobre a aprovação do governo que não levarem em conta a deterioração do poder de compra estarão ignorando o fator mais determinante na psicologia política dos brasileiros.
Como encher o carrinho do supermercado com o dinheiro que tenho na conta? Essa é a questão mais importante para o brasileiro, especialmente os mais pobres e a classe média.
Essa é também a razão pela qual o brasileiro – diferentemente do militante – não parece se entusiasmar muito com dados oficiais de inflação, emprego ou crescimento do PIB.
O que mais aflige a família brasileira é, em suma, o seu poder de compra.
A inflação média no Brasil, considerando todos os produtos, pode ter ficado abaixo de 5% em 2023 e 2024.
Mas o custo da cesta básica cresceu muito além disso, sobretudo se considerarmos os últimos 6 anos.
Segundo o IBGE, a inflação de alimentos em 2024 foi de 7,69%.
Entretanto, o que mais choca psicologicamente os brasileiros, é ver alguns de seus produtos preferidos registraram aumento ainda muito acima dessas médias.
O café, por exemplo, registrou um aumento impressionante em 2024, de quase 40%!
As carnes bovinas todas enfrentaram aumentos muito fortes, acima de 20%. O frango inteiro subiu 8,25% e o frango em pedaços, 10,34%.
Todos esses aumentos impactam profundamente no imaginário popular, e por isso o governo e apoiadores deveriam respirar aliviados pelas pesquisas de aprovação ainda serem positivas. Na última Atlas Intel, que analisamos há alguns dias, Lula tem 48% de aprovação pessoal. Querer mais que isso com uma inflação de alimentos ainda nesse nível é querer demais!
Quando se fala em problema de comunicação governo, por isso mesmo, não se pode entender isso como falta de melhor propaganda. Comunicacação é muito diferente de propaganda. Comunicação requer uma via dupla, saber ouvir e saber falar. E saber ouvir significa também saber endereçar e corrigir o problema, ou pelo menos transmitir à população a confiança de que o problema está sendo monitorado, estudado e, no seu devido tempo, resolvido.
Como não há espaço hoje, nem faria sentido numa economia de mercado tão madura como a nossa, estabelecer tabelamento de preços, o instrumental do governo para interferir nos preços é muito restrito. A forma mais inteligente, leve, moderna, de ajudar os brasileiros a encontrar produtos mais baratos é oferecer melhor informação sobre o custo e o preço dos produtos. Um pouco de criatividade talvez seja necessário, como obrigar sempre os principais mercados a disponibilizarem preços atualizados, em formato padrão, que pudessem ser facilmente agregados por aplicativos populares, de maneira que os consumidores pudessem pesquisar com rapidez onde encontrar as melhores ofertas. A tecnologia de informação, que tantas revoluções já provocou, bem que podia dar uma mão aos brasileiros nesse momento de dificuldade. E o governo poderia ajudar com algum programa de incentivo para que os mercados, grandes, médios e pequenos, também contribuíssem nesse sentido. Todos iriam ganhar.
Recentemente, a mídia divulgou amplamente um estudo da LCA Consultoria sobre o poder de compra do salário mínimo no Brasil. Fui conferir a origem dos dados, que é o Dieese, o IBGE e Banco Central, ou seja, fontes oficiais. O Dieese trabalha os custos da cesta básica, o IBGE monitora a renda média e a inflação e o Banco Central compila dados do salário mínimo
Eu chequei os dados e fiz meus próprios gráficos, acrescentando também o poder de compra da renda média do trabalhador, usando dados da renda do IBGE.
Os dados mostram que houve, de fato, uma erosão dramática do poder de compra do salário mínimo e da renda média desde a pandemia e ao longo do governo Bolsonaro.
O salário mínimo comprava duas cestas básicas em janeiro de 2020. Em abril de 2022, auge do vírus bolsonarista no Brasil, o poder de compra do salário mínimo havia desabado para 1,5 cestas básicas. Desde então, o salário vem se recuperando, e experimentou uma importante melhora a partir do início do governo Lula III. O auge se deu em julho de 2023, e novamente em julho de 2024, quando o salário mínimo passou a comprar 1,8 cestas.
Mas a partir de agosto de 2024, a inflação dos alimentos voltou a corroer o poder de compra do salário mínimo medido em cestas básicas. Nos meses de setembro a dezembro, houve queda constante no poder de compra, fechando o ano de 2024 em 1,68 cestas básicas.
Quando se usa a renda média (indicador apurado pelo IBGE) do trabalhador, se nota o mesmo movimento. Houve forte queda a partir da pandemia, quando a renda média do trabalhador, que podia comprar mais de 5 cestas básicas no início de 2020, desabou para pouco mais de 3 cestas em abril de 2022. Há uma recuperação gradual, entrecortada de quedas pontuais (associadas à inflação do alimentos), até que a renda média volta a comprar quase 4,5 cestas no início de 2024. O ano termina, porém, com tendência de declínio (novamente em função da inflação dos alimentos, pois a renda média cresceu razoavelmente bem), até fechar dezembro em pouco menos de 4.
Os dados gerais da economia tem se mantido sólidos. A inflação dos alimentos gera mau humor, mas os índices de pobreza, o nível de consumo nos mercados, a geração de empregos e a atividade econômica, mostram que os brasileiros tem conseguido driblar os problemas. A família brasileira de baixa renda ou mesmo de classe média, está escolada na briga contra os preços, e sabe fazer alterações nos hábitos para manter seu bem estar e garantir a sobrevivência. Mas é claro que ela vai reclamar, porque esse não apenas é um direito fundamental da nossa democracia, como uma oportunidade de mandar um alerta para o governo ficar mais atento a determinados problemas.
Nota: O último dado oficial da renda média real dos brasileiros, segundo o IBGE, a estima em R$ 3.314 em novembro, com um aumento de 0,49% sobre o mês anterior. Eu projetei a renda média de dezembro teria crescido os mesmos 0,49% e chegado a R$ 3.330.
Kleiton
13/01/2025 - 15h55
Do começo da pandemia pra cá a inflação (o dólar também) explodiu e está fora do controle há cerca de 2 anos….qual seria a novidade ?
ultimo
13/01/2025 - 15h52
A inflação é no mínimo de 10%, somente imbecis acreditam nas invenções do IBGE.
bandoleiro
13/01/2025 - 12h05
O poder de compra dos brasileiros é cada dia que passa menor.
Paulo
13/01/2025 - 12h01
Pois é! Aí o cara recebe o bolsa-família e aposta nas Bets…
Ronei
13/01/2025 - 11h56
Salario minimo, cesta basica, bolsa familia…outro alguem decide para os brasileiros o que devem comer, quanto devem ganhar e quanto vale o voto deles…o Brasil é o terceiro mundo do terceiro mundo.