Imagens de satélite revelam píeres móveis chineses projetados para superar desafios costeiros, reforçando a capacidade de defesa e soberania territorial da China
A China está construindo uma nova classe de píeres móveis, conforme revelam imagens de satélite, que poderiam reforçar sua capacidade de desembarcar uma força invasora em Taiwan, marcando um grande avanço em seus preparativos para um possível ataque no futuro.
Imagens de satélite capturadas na sexta-feira e analisadas pelo Financial Times mostram seis embarcações semelhantes a barcaças, equipadas com rampas extensíveis, em construção no estaleiro estatal Guangzhou. Essas embarcações poderiam ajudar o Exército de Libertação Popular (ELP) a transportar equipamentos militares pesados, como tanques e artilharia, por áreas de lama ou quebra-mares até terrenos firmes.
A construção dessas embarcações, inicialmente relatada pelo site de defesa Naval News, ocorre enquanto o ELP tenta preencher grandes lacunas nas capacidades necessárias para lançar um ataque a Taiwan. Pequim reivindica a ilha como parte de seu território e ameaçou anexá-la à força caso Taipei resista indefinidamente à unificação.
No mês passado, a China revelou uma nova embarcação híbrida de assalto anfíbio, a maior do tipo no mundo, que comentaristas militares compararam a um “porta-aviões leve”.
Solicitações de comentários ao Ministério da Defesa da China ficaram sem resposta na segunda-feira.
Segundo estudos acadêmicos militares chineses, o ELP miraria portos e aeroportos em um cenário de invasão de Taiwan, a fim de trazer tropas e materiais. Desembarques anfíbios seriam necessários caso essa abordagem falhasse ou fosse insuficiente, já que centenas de milhares de soldados seriam necessários para conquistar e controlar a ilha.
Em exercícios de desembarque anfíbio desde pelo menos 2020, as forças armadas chinesas têm experimentado sistemas flutuantes, como docas e pontes, para descarregar veículos blindados e outros equipamentos de balsas e navios.
No entanto, as barcaças em construção em Guangzhou possuem diversos pares de pilares que lembram as pernas de plataformas de petróleo offshore, sugerindo que podem ser ancoradas no lodo costeiro.
“O ELP provavelmente percebeu que esses sistemas flutuantes são muito vulneráveis a ataques, pois demoram muito para serem montados e não conseguem lidar com ventos fortes e ondas devido à falta de estabilização”, afirmou Michael Dahm, pesquisador sênior do Instituto Mitchell para Estudos Aeroespaciais e China, em Washington, e ex-oficial de inteligência naval.
Pesquisadores militares chineses destacaram repetidamente a importância de sistemas de desembarque estabilizados e as fraquezas de sistemas flutuantes em artigos publicados em revistas de logística militar nos últimos anos.
“Essas preocupações foram reforçadas pelos desafios que os EUA enfrentaram com seu píer flutuante em Gaza”, disse Dahm. O plano dos EUA de entregar ajuda humanitária à Palestina por meio de um píer flutuante no último verão fracassou após apenas 20 dias, quando ondas danificaram e quebraram a estrutura, construída a um custo de US$ 230 milhões.
Analistas acreditam que uma invasão anfíbia de Taiwan seria uma das operações mais difíceis da história militar. Grandes trechos da costa taiwanesa são formados por penhascos, recifes e rochas, enquanto a costa plana ocidental é repleta de áreas de lama onde equipamentos pesados poderiam facilmente ficar presos.
Grande parte da linha costeira também é separada das áreas interiores por quebra-mares de concreto ou blocos de contenção.
Equipamentos de elevação em terra, como as novas barcaças, poderiam ajudar uma força de invasão a superar esses obstáculos, disseram analistas. As imagens de satélite mostraram píeres móveis de três tamanhos diferentes. O maior, com oito pilares, tinha 183 metros de comprimento e uma rampa que se estendia por mais 128 metros.
No entanto, especialistas militares afirmam que uma força invasora chinesa ainda enfrentaria dificuldades para avançar pelos campos ocidentais de Taiwan, que são densamente ocupados por arrozais, tanques de peixes e áreas urbanas, com estradas largas frequentemente difíceis de acessar a partir da costa.
Observadores taiwaneses destacaram que a nova capacidade do ELP reforça a necessidade de Taipei de atacar as forças chinesas antes que elas alcancem a costa.
“Devemos ser capazes de atingir seus grandes navios de assalto anfíbio, seus helicópteros e forças aerotransportadas”, disse Lin Ying-yu, professor assistente do Instituto de Relações Internacionais e Estudos Estratégicos da Universidade Tamkang, em Taiwan.
“É como no beisebol”, acrescentou Lin. “Eles podem ter escolhido um ótimo fechador, mas se lutarmos bem na primeira onda, essa habilidade não fará diferença.”
Com informações de Financial Times*