EUA reagem ao avanço chinês com armas de outra era

Com medo das armas hipersônicas da China, a Marinha dos EUA busca armar navios com mísseis Patriot / REUTERS/Dado Ruvic

A escalada tecnológica da China pressiona os EUA, que recorrem aos mísseis Patriot para enfrentar ameaças hipersônicas e reforçar sua defesa naval no Pacífico


Temendo que a China possa implantar armas hipersônicas para afundar navios no Pacífico, a Marinha dos EUA está avançando com um plano para equipar alguns de seus navios com mísseis interceptores Patriot, segundo dois altos funcionários da defesa.

Um representante da indústria disse que colocar os interceptores altamente ágeis Patriot Advanced Capability-3 Missile Segment Enhancement (PAC-3 MSE), usados principalmente pelo Exército dos EUA, a bordo de navios da Marinha antecipa avanços na tecnologia de mísseis chineses, incluindo armas hipersônicas de alta manobrabilidade.

Integrar os mísseis fabricados pela Lockheed Martin aos sistemas de defesa aérea dos navios ocorre em meio a tensões crescentes na região do Indo-Pacífico, à medida que a China moderniza rapidamente suas forças armadas, e após os sucessos em defesa antimíssil na Ucrânia e no Oriente Médio.

Ainda não está claro quantos interceptores PAC-3 a Marinha precisará, mas a demanda geral está “nas alturas”, disse Tom Karako, especialista em defesa antimísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.

Ele afirmou que há forte interesse de governos estrangeiros e que o Exército dos EUA pretende mais que dobrar a produção nos próximos anos.

Os EUA escolheram o Japão, um aliado chave, como local para produção conjunta de mísseis Patriot, enquanto a Lockheed Martin planeja estabelecer uma nova linha de produção de buscadores para os mísseis na Flórida, de acordo com fontes da indústria.

Essa planta complementaria os esforços de fabricação de buscadores da Boeing, e a Lockheed Martin está promovendo os benefícios de uma produção adicional ao Exército dos EUA, que precisa aprovar o projeto.

O PAC-3 já interceptou mísseis hipersônicos manobráveis na Ucrânia. A Marinha acredita que ele poderia adicionar uma camada de alta probabilidade aos seus sistemas antimísseis, que ainda não foram testados em combate contra essas armas.

A Marinha afirmou à Reuters que “mais testes são necessários no roteiro de desenvolvimento, incluindo o lançamento do PAC-3 MSE de um navio e a validação da comunicação com o radar SPY-1”, o principal sensor do sistema de mísseis Aegis.

Isso se soma a esforços das forças armadas dos EUA que já produziram novas armas e estratégias no Indo-Pacífico, visando dissuadir Pequim de um conflito ou vencê-lo, caso ocorra.

O míssil balístico antinavio mais sofisticado da China, o DF-27, que usa um veículo planador hipersônico para manobrar até o alvo, foi testado em 2023. O relatório militar do Pentágono sobre a China naquele ano afirmou que a arma ainda estava “em desenvolvimento”.

O PAC-3 tem menor alcance que os mísseis SM-6 da Marinha e não pode atingir alvos no espaço.

No entanto, seus foguetes de direção próximos ao nariz o tornam mais ágil, aumentando a probabilidade de destruição do alvo devido ao conceito de “acerto direto”, em que o interceptador colide com o alvo em vez de explodir próximo a ele, explicou um diretor de programa de defesa antimísseis familiarizado com o sistema Aegis.

Diante das armas chinesas avançadas, incluindo ogivas hipersônicas manobráveis, essas qualidades “complementam muito bem os mísseis existentes em navios dos EUA”, permitindo atingir com mais facilidade mísseis balísticos rápidos e manobráveis e destruí-los, disse o diretor do programa.

Assim como os outros representantes da indústria e da defesa, ele preferiu não ser identificado por não estar autorizado a falar com a mídia.

Ameaça em crescimento

Um interceptador PAC-3 de um sistema de mísseis Patriot, usado principalmente pelo Exército dos EUA e por nações aliadas para defesa aérea em terra, foi testado em maio em um “navio virtual Aegis” com um lançador vertical Mk. 70, mas ainda não foi implantado em embarcações navais.

No último ano, no entanto, ele interceptou inúmeras ameaças balísticas e aeronaves no Oriente Médio e na Ucrânia, incluindo os avançados mísseis Khinzal da Rússia, tornando-o uma adição atraente ao arsenal da Marinha, segundo funcionários da defesa e fontes familiarizadas com o assunto.

O PAC-3 é menor que os mísseis SM-6 ou SM-3, pesando cerca de 300 kg, comparado aos 1.500 kg do SM-6, e possui um diâmetro cerca de 9 cm menor.

O custo por míssil varia de acordo com o cliente e o contrato, mas ambos custam cerca de US$ 4 milhões cada, segundo estimativas.

A China já desenvolveu um arsenal formidável de mísseis balísticos antinavio, incluindo o DF-21D, conhecido como “matador de porta-aviões”, e ogivas antinavio para seu míssil balístico de alcance intermediário DF-26.

O DF-27, que segundo o Pentágono pode alcançar até 8.000 km, parece usar uma ogiva aerodinâmica capaz de manobrar para evadir defesas ou atingir alvos em movimento com mais facilidade, explicou Tim Wright, da equipe de defesa antimísseis do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

Com informações da Reuters*

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