China mira empresas dos EUA antes da volta de Trump; sanções e tarifas antecipam um embate feroz na guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais
A China anunciou nesta quinta-feira (2) que adicionou dezenas de empresas americanas à sua lista de controle de exportações para “proteger a segurança e os interesses nacionais.”
O Ministério do Comércio chinês informou que aplicará medidas contra 28 entidades dos EUA e proibirá exportações de itens de uso dual para essas empresas a partir de quinta-feira, segundo o jornal Global Times, alinhado a Pequim, e a agência estatal Xinhua. Itens de uso dual referem-se àqueles que podem ser usados tanto para fins civis quanto militares.
A China também sancionou na quinta-feira 10 empresas de defesa americanas por vendas militares a Taiwan, a ilha autogovernada que a China reivindica como parte de seu território, adicionando essas empresas à sua “Lista de Entidades Não Confiáveis”, informou o ministério, segundo a AFP.
“Isso realmente parece um aviso — que uma escalada nas políticas dos EUA contra a China, especialmente sob Trump, será enfrentada com uma resposta mais agressiva”, disse Jesse Schreger, professor associado de Macroeconomia da Columbia Business School, à CBS MoneyWatch. “A China está sinalizando que não aceitará tarifas passivamente.”
A ameaça de não vender bens de uso dual às empresas listadas pode ter consequências significativas, dado o papel da China como potência global de manufatura, disse Schreger. No entanto, não está claro como a China planeja aplicar essas medidas e quais produtos serão considerados de uso dual e, portanto, terão suas vendas restritas. Pneus, por exemplo, poderiam ser vistos como itens de uso tanto civil quanto militar, ele observou.
As medidas ocorrem enquanto Pequim se prepara para o retorno do presidente eleito Donald Trump à Casa Branca e após a administração Biden ampliar as restrições a empresas chinesas em meio a uma escalada de medidas recíprocas. Durante sua campanha presidencial, Trump também mencionou a ideia de impor uma tarifa de até 60% sobre todos os bens chineses.
“O desejo de impor altas tarifas à China parece crível, se considerarmos o histórico da primeira administração Trump e sua disposição de usar [tarifas] para fins geopolíticos”, disse Schreger. “A administração Biden não reverteu isso — na verdade, profissionalizou a abordagem. A retórica da administração Trump pode ter sido mais intensa, mas a administração Biden levou essa batalha econômica a um novo patamar.”
No mês passado, a China anunciou que estava investigando a fabricante americana de microchips Nvidia por possíveis violações das leis antimonopólio chinesas.
A ação da China ocorre menos de uma semana após Pequim impor sanções a sete empresas em resposta às recentes vendas militares e assistência dos EUA a Taiwan.
Ainda assim, sanções de Pequim direcionadas a empresas de defesa americanas tendem a ter um impacto limitado, uma vez que as firmas militares dos EUA não vendem armas ou bens relacionados à China. Analistas também acreditam que as medidas comerciais recíprocas podem ser contidas.
“Alterações nas políticas de imigração, comércio e fiscal sob a segunda administração Trump provavelmente serão significativas, mas não chegarão a algumas das propostas mais dramáticas”, afirmaram analistas do Goldman Sachs em um relatório recente. “Esperamos tarifas sobre importações da China e automóveis, mas não uma tarifa universal, que acarretaria riscos econômicos e políticos que acreditamos que a Casa Branca preferirá evitar.”
Com informação da AP e da CBS*