Mais um dia difícil para os profetas do apocalipse.
Segundo o Banco Central, que divulgou hoje seu relatório mensal sobre a situação fiscal do Brasil, o déficit primário do setor público consolidado (ou seja, reunindo todos os entes estatais: união, estados, municipios e estatais), no acumulado de 12 meses até novembro, ficou em 1,65% do PIB.
É o sexto mês consecutivo de queda no déficit das contas públicas.
O déficit primário é a expressão usada para se referir a um resultado primário negativo, ou seja, em que as despesas sejam superiores às receitas.
É importante que o internauta fique atento sempre aos números relativos ao PIB, e não se deixe impressionar pelas campanhas de terrorismo de alguns setores da mídia.
Os números em si do resultado primário e da dívida pública só fazem plenamente sentido quando os colocamos em perspectiva com o PIB.
E o que os números apurados pelo Banco Central mostram?
Primeiro, como já dissemos, eles mostram o déficit primário em queda acelerada, o que consiste em mais uma prova contundente de que as denúncias de desarranjo fiscal não estão lastreadas na realidade.
Até mesmo a dívida pública, contra todas as “expectativas” do mercado, caiu em novembro. Queda modesta, mas queda.
A dívida líquida caiu de 61,5% outubro para 61,2% do PIB em novembro.
A dívida bruta, por sua vez, caiu de 77,8% do PIB em outubro, para 77,7% em novembro.
Segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal do BC junto a operadores de mercado, a dívida bruta do governo deve crescer um pouco ao longo dos próximos meses, antes de iniciar uma tendência de queda a partir de 2026. Mas pode ser que o mercado tenha mais algumas “surpresas”.
O único fator fiscal realmente preocupante é o aumento das despesas com juros da dívida, que avançam muito sempre que o BC aumenta a taxa selic. Em novembro, as despesas com juros corresponderam a 7,85% do PIB, ou R$ 1,11 trilhão, no acumulado de 12 meses.
É isso mesmo que você leu. O Brasil está gastando mais de 1 trilhão de reais por ano apenas com pagamento de juros, ou seja, é um dinheiro que sequer diminui o estoque total da dívida pública. É um dinheiro pago apenas para rolar ela para mais adiante.
O lado irônico é que esses gastos poderiam ser reduzidos drasticamente pelo próprio Banco Central. Bastaria ele seguir o exemplo de outras instituições no mundo, como o Federal Reserver nos EUA, e o Banco Central Europeu, e baixar as taxas básicas de juros.
O déficit nominal, que inclui as despesas com juros, chegou a 9,50% do PIB em novembro, um percentual maior do que o visto em setembro e outubro, porém menor que os níveis registrados em de junho a agosto.