Gangue lidera massacre brutal no Haiti, matando mais de 200 seguidores do vodu em ataque de perseguição religiosa e crueldade extrema
Na noite de 6 de dezembro, o Haiti testemunhou um massacre brutal que expôs a intolerância religiosa persistente no país. Mais de 200 pessoas, acusadas injustamente de praticar vodu, foram sequestradas, mortas a golpes de facão e, em alguns casos, queimadas ou desmembradas. O ataque foi liderado por Micanor Altes, líder de uma gangue local, que acusava seguidores do vodu de envenenarem seu filho.
Segundo um relatório divulgado pela ONU nesta segunda-feira (23), o massacre começou com uma ordem direta de Altes: “Na noite de 6 de dezembro, (Micanor Altes) ordenou que os membros de sua gangue — cerca de 300 — realizassem uma ‘caça ao homem’ brutal. Eles invadiram cerca de dez becos do bairro (de Porto Príncipe) e arrastaram as vítimas à força para fora de suas casas.”
Perseguição ao vodu
As vítimas foram levadas a um “centro de treinamento”, onde foram executadas de forma bárbara. O relatório, elaborado pelo Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti (BINUH) e pelo Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (OCHR), detalhou que “alguns dos corpos foram então queimados com gasolina ou desmembrados e jogados no mar.”
O ataque teve como alvo seguidores do vodu, religião que desempenha um papel central na cultura haitiana, mas que há séculos é estigmatizada e perseguida. Embora tenha sido reconhecida como religião oficial no país em 2003, o vodu continua a ser associado a práticas malignas, especialmente por grupos religiosos rivais.
Uma organização da sociedade civil relatou que Altes “estava convencido de que a doença de seu filho era causada por seguidores da religião”. Esse preconceito se transformou em um ataque sistemático contra adeptos da fé, resultando em uma das piores atrocidades recentes no Haiti.
Seis dias de terror
O massacre se estendeu por seis dias. No total, 134 homens e 73 mulheres foram assassinados, muitas vezes com extrema violência. A maioria das vítimas era idosa ou vivia em condições vulneráveis. Nos dias seguintes ao ataque inicial, a gangue retornou ao bairro para sequestrar adeptos de templos vodu, matar aqueles que tentavam fugir e silenciar suspeitos de denunciarem os crimes à mídia local.
O relatório da ONU destacou que o ataque não foi um evento isolado, mas parte de uma crise maior no Haiti, onde gangues violentas controlam vastas áreas, especialmente na capital Porto Príncipe.
Violência crescente no Haiti
Desde o início de 2024, mais de 5.358 pessoas foram mortas e 2.155 ficaram feridas no Haiti. O relatório da ONU aponta que “isso eleva o número total de pessoas mortas ou feridas no Haiti para pelo menos 17.248 desde o início de 2022.”
Mesmo com uma missão de apoio policial liderada pelo Quênia, com respaldo dos Estados Unidos e da ONU, a violência no Haiti continua a crescer. O Conselho de Segurança da ONU condenou as ações das gangues: “Condenamos veementemente as contínuas atividades criminosas desestabilizadoras de gangues armadas e enfatizamos a necessidade de a comunidade internacional redobrar seus esforços para fornecer assistência humanitária à população.”
Impacto na sociedade haitiana
O massacre atingiu não apenas as vítimas diretas, mas também os alicerces da sociedade haitiana. Uma porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que “esses crimes atingiram os próprios alicerces da sociedade haitiana, tendo como alvo as populações mais vulneráveis.”
O vodu, trazido ao Haiti por escravos africanos, é um símbolo da resistência cultural e espiritual do país. No entanto, sua prática tem sido historicamente atacada, reforçando preconceitos que agora alimentam atos de violência extrema.
Sem esforços concretos, o ciclo de violência e intolerância continuará a devastar o Haiti, ameaçando não apenas vidas humanas, mas também a rica herança cultural e espiritual do país.
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