Putin e Fico discutem crise do gás enquanto Ucrânia rejeita renovação do contrato de trânsito; visita do eslovaco causa críticas na UE
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reuniu-se nesta domingo (22) no Kremlin com o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, em uma visita rara de um líder da União Europeia a Moscou, à medida que se aproxima o vencimento do contrato que permite o trânsito de gás russo pela Ucrânia.
A Eslováquia depende do gás que passa por seu vizinho, a Ucrânia, e tem intensificado os esforços para manter esses fluxos a partir de 2025, enquanto critica o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, por se recusar a renovar o contrato que expira no final deste ano.
A viagem de Fico a Moscou foi apenas a terceira de um chefe de governo da UE desde a invasão russa à Ucrânia em fevereiro de 2022. Políticos de oposição na Eslováquia classificaram a visita como “uma vergonha”.
Após o encontro, Fico afirmou no Facebook que os principais funcionários da UE foram informados de sua viagem na sexta-feira.
Ele explicou que a visita foi uma resposta às conversas da semana passada com Zelenskiy, que, segundo o líder eslovaco, manifestou oposição a qualquer trânsito de gás pela Ucrânia para a Eslováquia.
“O presidente russo V. Putin confirmou a disposição da (Federação Russa) de continuar fornecendo gás ao Ocidente e à Eslováquia, o que é praticamente impossível após 1º de janeiro de 2025, devido à posição do presidente ucraniano”, disse Fico.
Fico, que assumiu o poder em 2023, alterou a política externa da Eslováquia, interrompendo imediatamente a ajuda militar estatal a Kyiv, declarando que a guerra com a Rússia não tem solução militar e criticando as sanções contra Moscou.
A visita de Fico ao Kremlin segue a do chanceler austríaco Karl Nehammer, em abril de 2022, e a do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, em julho passado. Ambas foram alvo de críticas de aliados da UE.
A televisão russa mostrou Putin e Fico apertando as mãos no início das conversas. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a reunião foi organizada há poucos dias.
Nas discussões, Fico afirmou que ele e Putin trocaram opiniões sobre a situação militar na Ucrânia, as chances de um fim pacífico para a guerra e as relações entre a Eslováquia e a Rússia, “que pretendo normalizar”.
Trânsito de gás
A Eslováquia, que possui um contrato de longo prazo com a russa Gazprom, tem buscado manter o recebimento de gás via Ucrânia, afirmando que comprar de outras fontes custaria 220 milhões de euros (229 milhões de dólares) a mais em despesas de trânsito.
A Ucrânia recusou repetidamente a renovação do acordo de trânsito.
Fico pressionou o tema na quinta-feira durante uma cúpula da UE, que também contou com a presença de Zelenskiy, que reiterou que seu país não continuará permitindo o trânsito de gás russo.
O primeiro-ministro eslovaco, que declarou que seu país enfrenta uma crise de gás, também mencionou possíveis soluções em que o gás em trânsito pela Ucrânia não seria de propriedade russa, mas de terceiros.
A Hungria também tem interesse em manter a rota ucraniana, embora continue recebendo gás russo pelo sul, através do gasoduto TurkStream, que passa pelo fundo do Mar Negro.
A ex-república soviética Moldávia também depende do gás que transita pela Ucrânia para atender às suas necessidades e às da região separatista de Transnístria, incluindo uma usina termelétrica que fornece a maior parte da eletricidade para partes da Moldávia sob controle governamental.
Vadim Ceban, chefe interino da Moldovagaz, operadora de gás do país, afirmou que poderia fornecer gás à Transnístria adquirido de outras fontes. No entanto, a região pró-Rússia teria que pagar preços mais altos associados a esses suprimentos.
Ceban disse que a Moldovagaz fez vários apelos à Gazprom para enviar gás à Moldávia através do TurkStream, Bulgária e Romênia.