Exclusivo! EUA registram déficit comercial superior a US$ 1,1 trilhão nos últimos 12 meses

Divulgação CBS

Segundo o Departamento de Estatística do governo americano (US Census Bureau), os Estados Unidos registraram um déficit comercial de mais de US$ 1,1 trilhão no acumulado de 12 meses até outubro.

Ou seja, subtraindo toda a despesa de importação da receita de exportação, os EUA tiveram o segundo maior saldo negativo de sua história, apenas ultrapassado pelo desempenho de 2022.

Os três principais parceiros comerciais dos EUA são, por ordem de importância, Canadá, México e China. São esses para os quais o Tio Sam mais vende e mais compra.

Mas sobretudo compra.

Nos 12 meses até outubro, as importações dos EUA totalizaram US$ 3,2 trilhões, aumento de 4% sobre o ano anterior. Os principais fornecedores para os EUA, considerando grupos de países, foram os “aliados da Otan”, que exportaram cerca de 31% de tudo que os EUA compraram no período. Em segundo lugar (na verdade, são quase os mesmos países), veio a União Europeia, que respondeu por 19% de todas as compras americanas em 2024. A China, por sua vez, exportou US$ 433 bilhões para os EUA nos 12 meses até outubro, alta de 1,5% sobre 2023; este valor equivaleu a 13,5% de tudo que os EUA importaram.

Já as exportações, no mesmo período, corresponderam a US$ 2,0 trilhões nos 12 meses até outubro, alta de 1,9% sobre 2023.

Os EUA exportaram sobretudo para seus aliados da Otan, que compraram 39% de tudo que o país vendeu no período. Note a consistência com que os aliados da Otan compraram produtos americanos. Em 2004, ou seja, 20 anos atrás, o mesmo grupo de paises respondia por 44% de todas as exportações americanas.

Há quatro anos consecutivos que os Estados Unidos vem registrando déficit comercial acima de US$ 1 trilhão.

Se o novo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, cumprir suas ameaças de impor tarifas estratosféricas sobre produtos importados, o impacto sobre o preço dos produtos será, portanto, imenso.

No caso do Brasil, os produtos brasileiros corresponderam a somente 1,3% de todas as importações americanas nos últimos 12 meses. E como mercado para os produtos dos EUA, o Brasil comprou o equivalente a 2,4% de tudo que os EUA exportaram nos 12 meses até outubro de 2024. Ou seja, o Brasil tem sido um importante mercado para produtos americanos.

Em relação aos produtos, os EUA exportaram US$ 323 bilhões em combustíveis fósseis (petróleo em sua maioria) nos últimos 12 meses, o que é a terceira maior receita do país com essa categoria de produtos de sua história, apenas superada por 2022 e 2023.

A venda de petróleo, portanto, respondeu por 16% de toda a receita de exportação dos EUA em 2024.
Do lado da importação, o principal gasto americano foi com reatores e máquinas, que absorveram US$ 508 bilhões nos últimos 12 meses até outubro, alta de 13% sobre o ano anterior.

Os EUA também gastaram US$ 470 bilhões com equipamentos elétricos, US$ 388 bilhões com veículos, US$ 247 bilhões com petróleo e US$ 206 bilhões com produtos farmacêuticos.

Apesar da China ainda ser o segundo maior parceiro individual dos EUA, logo depois do México, os Estados Unidos vem reduzindo o peso dos produtos chineses no total importado. Após terem atingido perto de 23% de todas as importações americanas, entre 2015 e 2017, os produtos chineses hoje vem caindo para perto de 13% desse total.

Conclusão

Os dados do comércio exterior dos Estados Unidos mostram um país com um déficit muito elevado em suas transações com o mundo, o que está em contradição direta com essa valorização especulativa do dólar.

Aliás, o dólar mais forte dificulta ainda mais qualquer esforço dos EUA para melhorar suas contas externas, porque uma moeda sobrevalorizada acaba estimulando ainda mais as importações, ao mesmo tempo que deixa mais caros os bens produzidos nos EUA, prejudicando sua competividade.

Os EUA acabaram se beneficiando, por outro lado, com as sanções que eles próprios impuseram sobre a Rússia, porque elas lhes permitiram aumentar suas exportações de petróleo para a União Europeia.

As exportações americanas de combustíveis minerais para a Alemanha, por exemplo, atingiram o recorde de US$ 6,92 bilhões nos últimos 12 meses até outubro de 2024, alta de 19% sobre 2023.

Já as exportações de combustíveis minerais para a China caíram fortemente 23% em 2024, para US$ 15,24 bilhões. Esses números tem forte implicação geopolítica, porque sinalizam que a China está substituindo o petróleo americano pelo de origem russa, mais barato, o que aumenta a competitividade da indústria chinesa em relação à suas concorrentes na Europa.

A subserviência da Europa aos ditames imperiais de Washington, por sua vez, amarra o continente a esquemas comerciais profundamente nocivos ao desenvolvimento econômico soberano de seus membros.

O aumento das hostilidades de Washington contra a China também prejudica setores americanos importantes, como o de exportadores de soja. Nos últimos 12 meses, as exportações americanas de soja para a China sofreram um tombo gigantesco de 22%, e isso num momento em que a demanda chinesa de soja ainda está crescendo.

Isso é bom para o Brasil, e explica o aumento dramático das exportações brasileiras de soja para a China.

Vale lembrar que, à diferença dos EUA, o Brasil vem registrando vigorosos e crescentes saldos comerciais nos últimos anos, em alguns momentos chegando a quase US$ 100 bilhões em 12 meses.

Em 2024, o saldo comercial do Brasil deve ficar acima de US$ 90 bilhões, e apenas não é maior porque o Brasil também vem aumentando suas importações.

Confira as tabelas e gráficos abaixo!

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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