Datafolha traz boas notícias, e um alerta

Presidente Lula e o doutor Roberto Kalil • Ricardo Stuckert

A pesquisa Datafolha publicada hoje traz o governo fechando o ano com uma aprovação sólida, estável,  ancorada principalmente em três grandes grupos sociais: mulheres, famílias de baixa renda e brasileiros que se autoreferenciam como pardos e pretos. 

Não por coincidência, são os três maiores grupos sociais do país.

No geral, a avaliação do governo Lula, com entrevistas realizadas entre os dias 12 e 13 de dezembro, ficou em 35% de ótimo e bom, número que o governo vem mantendo desde a primeira pesquisa de 2024, em março, quando pontuou exatamente… 35%.

De lá para cá, aprovação do governo Lula oscilou entre 35% e 36%. 

O ruim e péssimo oscilou um pouco para cima na pesquisa de hoje (32% para 34%), mas dentro da margem de erro e o número não é diferente daquele mostrado em março, quando chegou a 33%.

 

Entretanto, é preciso considerar que o governo mantém sua aprovação firme entre as mulheres, com 38% de ótimo/bom contra 29% de ruim/péssimo.

Curiosidade: tanto a Folha como o G1 erraram as legendas dos números de aprovação de Lula entre mulheres. 

 

O governo mantém uma aprovação forte de 44% entre as famílias de baixa renda, ou seja, que ganham até 2 salários por mês. 

Este percentual de ótimo e bom, entre os mais pobres, se mantém solidamente estável desde a primeira pesquisa Datafolha de março de 2023, quando era de 45%. Já chegou a 40% em março de 2024 e a 46% em outubro.

A rejeição (nota ruim/péssimo), por sua vez, que tinha atingido 29% em março deste ano, entre as famílias de baixa renda, agora declinou para 24%.

 

Mas o governo precisa se preocupar com outro extrato igualmente importante, e com mais capacidade de mobilização, que é eleitor com renda familiar de 2 a 5 salários. 

É nesta faixa que a administração está enfrentando uma alta de rejeição que a pode desestabilizar politicamente, caso essa tendência não seja revertida.

Este é alerta mencionado no título.

Historicamente, no Brasil, governos que perdem apoio na classe média tem muito mais dificuldade para seguir adiante.

Nesta faixa de classe média, o governo Lula agora tem rejeição de 42%, contra apenas 26% de aprovação. 

 

   

Na faixa superior, de eleitores com renda acima de 5 salários, a situação do governo também não é muito confortável, pois tem rejeição de 49% (ruim/péssimo), contra somente 27% de aprovação (ótimo/bom).

O presidente Lula também exibe uma aprovação mais forte entre pessoas pretas, com 44% de ótimo/bom, 20 pontos acima de sua rejeição, de 24%.

  

Conclusão

Esse Datafolha é bom para o governo, ainda mais porque pegou um momento delicado, com um ligeiro pico na inflação de alimentos, a qual, pelo visto, ainda não fez estrago expressivo na aprovação do governo entre famílias de baixa renda.

O problema do governo está se concentrando na classe média, provavelmente em função da maior mobilização da direita, energizada pelas vitórias conquistadas nas eleições municipais.

A alta do dólar também parece afeitar mais diretamente este segmento, mais afeito a viagens internacionais.

Mas isso também não me parece nada ainda fora de controle. Conforme o câmbio se estabilizar, e o governo fechar a primeira metade de sua gestão com números econômicos sólidos (PIB alto, renda crescente, inflação controlada), vitórias legislativas (reforma tributária) e conquistas geopolíticas (acordo mercosul X união européia), a oposição de direita ao governo Lula terá alguma dificuldade para emplacar narrativas apocalípticas.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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