Marinha exalta ‘privilégios’ em vídeo polêmico e revela salários gigantes no exterior, gerando críticas e tensão no governo
A Marinha do Brasil publicou no último domingo (1º) um vídeo em homenagem ao Dia do Marinheiro, celebrado em 13 de dezembro. Com duração de 1 minuto e 16 segundos, o material destaca o contraste entre o trabalho árduo e arriscado dos militares e as atividades de lazer e descanso da população civil. O vídeo encerra com a mensagem de uma marinheira: “Privilégios? Vem para a Marinha”. As informações são do Estadão.
A peça reacendeu debates sobre os altos salários de militares brasileiros designados para o exterior. Em agosto, o capitão-de-mar-e-guerra Leonardo Taumaturgo Pavoni, irmão do diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM), recebeu o equivalente a R$ 216,3 mil líquidos em dólares, incluindo salário, verbas indenizatórias e gratificações.
A Marinha afirmou que os pagamentos estão de acordo com a legislação vigente, que visa compensar o custo de vida internacional. Já o capitão-de-mar-e-guerra Alexandre Nonato Nogueira foi o militar mais bem remunerado no período, com um contracheque de R$ 220,8 mil, enquanto atuava na Ilha da Madeira, território de Portugal.
Ao todo, 821 militares receberam remuneração em dólares em agosto, totalizando US$ 7,2 milhões (cerca de R$ 44 milhões). Desse grupo, 41 oficiais tiveram remunerações acima de R$ 100 mil.
A divulgação do vídeo ocorre em um contexto de tensão entre o Ministério da Fazenda e as Forças Armadas, devido às novas regras para a previdência dos militares. As mudanças incluem a implementação de uma idade mínima de 55 anos para aposentadoria e restrições ao recebimento de pensões. A peça publicitária foi interpretada por alguns como uma resposta às alterações, o que foi negado pela Marinha.
Uma figura semelhante ao ministro Fernando Haddad aparece no vídeo rastejando na lama com um fuzil, o que gerou críticas dentro do governo. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, chamou a produção de um “grave erro”.
No perfil oficial da Marinha no X (antigo Twitter), o vídeo gerou polêmica e foi acompanhado de uma “nota da comunidade”. O texto sugerido pelos usuários criticava os altos salários dos militares, ressaltando a disparidade em relação às condições de trabalho da maioria dos brasileiros.
Em nota oficial, a Marinha destacou que as remunerações de militares no exterior seguem a Lei nº 5.809/72 e que são destinadas a um pequeno percentual de oficiais, selecionados por meritocracia. A instituição enfatizou que o vídeo tem como objetivo reconhecer o esforço dos marinheiros e fuzileiros navais e atrair jovens para a carreira militar.
O CCSM também esclareceu que a peça foi totalmente produzida internamente, sem o uso de agências de publicidade, atores ou inteligência artificial.
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