Moscou lança ofensiva contra a infraestrutura energética da Ucrânia, forçando apagões enquanto a guerra se agrava com a chegada do inverno
Nesta quinta-feira (28), o exército da Rússia lançou um ataque maciço ao setor de energia da Ucrânia, forçando apagões de emergência enquanto as temperaturas caíam para o congelamento em todo o país.
A rede de energia da Ucrânia tem sido fortemente alvo desde a invasão da Rússia em fevereiro de 2022, com Kiev acusando Moscou de usar táticas de “terror” ao tentar mergulhar as cidades ucranianas na escuridão e cortar o aquecimento para os civis durante o inverno.
Os ataques noturnos ocorrem após duas semanas de escalada dramática, nas quais ambos os lados lançaram novas armas para tentar ganhar vantagem antes da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, prevista para janeiro.
O ministro de Energia da Ucrânia, German Galushchenko, afirmou que a infraestrutura de energia estava “sob ataque maciço do inimigo” após um alerta aéreo ser emitido em todo o país para mísseis que se aproximavam.
A força aérea ucraniana relatou uma série de mísseis de cruzeiro russos e drones de ataque dirigindo-se para várias cidades, incluindo a capital Kiev, Kharkiv, no nordeste, e a cidade portuária de Odesa, no Mar Negro.
“Mais uma vez, o setor de energia está sob ataque maciço do inimigo. Ataques a instalações de energia estão ocorrendo em toda a Ucrânia”, disse Galushchenko.
A operadora da rede elétrica nacional, Ukrenergo, “introduziu cortes de energia de emergência de forma urgente”, acrescentou ele, enquanto as temperaturas caíam para cerca de 0 graus Celsius (32 graus Fahrenheit).
O fornecedor de energia DTEK informou que o Ukrenergo estava implementando apagões de emergência nas regiões de Kiev, Odesa, Dnipro e Donetsk.
O ataque nacional ainda estava em andamento às 08:00 (06:00 GMT), de acordo com mensagens da força aérea.
“Assim que a situação de segurança permitir, as consequências (dos ataques) serão especificadas”, disse Galushchenko.
Estoques de mísseis
O chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky, Andriy Yermak, afirmou que a onda de ataques demonstrava que a Rússia estava “continuando suas táticas de terror”.
“Eles estocaram mísseis para atacar a infraestrutura ucraniana, para combater os civis durante o inverno”, disse Yermak em uma postagem no Telegram, prometendo que a Ucrânia responderia.
Uma alta funcionária da ONU, Rosemary DiCarlo, alertou neste mês que os ataques russos à infraestrutura de energia da Ucrânia podem tornar este inverno o “mais rigoroso desde o início da guerra”.
A Rússia, por sua vez, disse no início desta semana que estava se preparando para retaliar os ataques ucranianos em seu território, utilizando mísseis ATACMS fornecidos pelos Estados Unidos.
A Ucrânia lançou pelo menos três ataques nas regiões fronteiriças da Rússia com esses mísseis, desde que a Casa Branca autorizou o uso de mísseis ATACMS em território russo.
Moscou respondeu ao primeiro ataque disparando um míssil balístico hipersônico, nunca antes visto, contra a cidade ucraniana de Dnipro.
Em um discurso enfurecido à nação, o presidente russo Vladimir Putin advertiu que o míssil, com capacidade nuclear, poderia ser usado contra países ocidentais se eles permitissem que suas armas fossem usadas pela Ucrânia para atingir a Rússia.
O Ministério da Defesa da Rússia informou nesta quinta-feira que derrubou 25 drones ucranianos lançados durante a noite, incluindo 14 sobre o território sul de Krasnodar, logo a leste da península da Crimeia, que foi anexada pela Rússia.
O governador de Krasnodar afirmou que uma mulher ficou ferida por destroços na cidade de Slavyansk-on-Kuban, localizada cerca de 100 quilômetros a leste da ponte de Kerch, o grande projeto de infraestrutura que liga a Crimeia à Rússia e tem sido um dos principais alvos de Kiev durante a guerra.
Novo enviado dos EUA
A mais recente salva de mísseis ocorre um dia após o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, nomear o fiel aliado e general aposentado Keith Kellogg como seu enviado para a Ucrânia, com a missão de pôr fim à invasão russa.
Trump fez campanha com a promessa de garantir um fim rápido para a guerra na Ucrânia, afirmando que mediaria rapidamente um acordo de cessar-fogo – comentários que geraram preocupação em Kiev de que os EUA poderiam pressioná-lo a ceder territórios.
Kellogg, veterano de 80 anos da segurança nacional, coassinou um artigo este ano pedindo para Washington usar a ajuda militar como meio de pressionar por negociações de paz.
A administração de Joe Biden, que está de saída, tem incentivado a Ucrânia a reduzir a idade mínima para alistamento para 18 anos, a fim de suprir a grave escassez de pessoal ao longo da linha de frente de 1.000 quilômetros (600 milhas).
As tropas russas avançam no leste há meses, onde possuem uma vantagem em termos de pessoal e munição sobre as forças ucranianas, que estão esticadas ao máximo.