O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu manter a validade do acordo de delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A decisão ocorreu após a apresentação de novos detalhes sobre a suposta participação do general Walter Braga Netto em articulações golpistas. A deliberação, que ocorreu na quinta-feira, 21, foi baseada em elementos considerados relevantes pela Polícia Federal (PF).
Contradições e nova chance
A delação de Cid enfrentava incertezas devido a inconsistências identificadas em depoimentos anteriores. A PF apontou omissões sobre a suposta participação do militar em ações como monitoramento de adversários políticos e planos contra autoridades, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o próprio Moraes.
Apesar das inconsistências, os investigadores recomendaram a manutenção do acordo. Em novo depoimento, Mauro Cid apresentou detalhes sobre uma reunião realizada no apartamento de Braga Netto, onde teria sido discutida uma tentativa de impedir a posse de Lula em 2023.
Moraes considerou que as novas informações justificam a continuidade do acordo e solicitou parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) antes de uma decisão final.
Reunião no apartamento de Braga Netto
Segundo o relato de Mauro Cid, a reunião no apartamento de Braga Netto teria como pauta estratégias para evitar a posse de Lula, derrotado por Bolsonaro nas eleições de 2022.
Braga Netto, que foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro, está entre os 37 indiciados pela PF em investigação sobre as articulações golpistas e os ataques de 8 de janeiro de 2023.
A defesa de Braga Netto informou que aguardará acesso completo aos autos para adotar uma posição oficial. Em nota, seus advogados criticaram a divulgação de informações antes da notificação formal das partes envolvidas.
Histórico de prisões de Mauro Cid
Mauro Cid foi preso duas vezes em 2023. Em maio, foi detido por suspeita de envolvimento em fraudes nos cartões de vacinação de Bolsonaro e aliados, sendo liberado em setembro após firmar o acordo de delação.
Em março de 2024, Cid voltou a ser preso por determinação de Moraes, acusado de obstrução de Justiça após o surgimento de áudios em que criticava o ministro e acusava a PF de conduzir as investigações com “narrativa pronta”.
Durante as investigações, a PF identificou planos envolvendo militares e outros participantes para monitorar os passos de Moraes e coordenar ações em Brasília. Estratégias apontadas incluem o uso de chips registrados em nomes falsos e codinomes para comunicações.
Avanço das Investigações
As declarações de Mauro Cid ampliam as investigações sobre Braga Netto e outros militares de alta patente, reforçando suspeitas sobre articulações antidemocráticas. A colaboração de Cid segue como peça-chave no inquérito conduzido por Moraes, que busca aprofundar as acusações contra os envolvidos.
Com o acordo mantido, as informações apresentadas por Mauro Cid poderão embasar novas denúncias contra Bolsonaro e seus aliados, incluindo membros do núcleo político e militar do ex-presidente. O caso ressalta os desafios enfrentados pelas instituições democráticas no combate a ameaças ao Estado de Direito.