Está em curso um grande processo de mobilização que ganhou muita força no debate popular e engloba toda a classe política do país: a luta contra a escala de seis dias de trabalho para um dia de descanso.
Popularizada como “o fim da escala 6×1” e organizada pelo movimento VAT – Vida Além do Trabalho – a pauta chacoalhou todo o país nas últimas semanas.
Um acontecimento de tamanha força produz, consequentemente, uma proporcional análise de conjuntura sobre os fatos. Nesse sentido, há muitas especulações sobre o movimento e entre elas uma que iguala o fim da escala 6×1 com as manifestações contra o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus de São Paulo, que culminou nas chamadas “Jornadas de Junho de 2013”.
Apesar de válida a comparação para efeitos de análise, os movimentos têm bem mais diferenças que semelhanças, por isso a probabilidade de um evento repetir o outro é baixíssima.
Em primeiro lugar, a pauta de mobilidade urbana tem força, mas a luta pela redução de jornada tem consideravelmente mais. Diminuir jornada de trabalho e aumentar o poder de compra são pilares essenciais da luta dos trabalhadores, que é o motor da história.
Por isso, uma revolta ancorada numa mobilização tão ligada à raiz da injustiça social é um passo certeiro para um movimento revolucionário. A força de uma mobilização desse nível dificulta muito o contra-ataque da burguesia, que tem menos condições de se apoderar dessa pauta como foi com o aumento de ônibus.
Em segundo lugar, não é possível enxergar uma natureza “apolítica” no fim da escala 6×1, muito pelo contrário. O movimento de hoje é bem mais institucionalizado que o da década passada. O VAT foi
incorporado à pauta de alguns partidos, principalmente o PSOL, um partido já consolidado, com 20 anos de existência.
Isso ajuda a negociar de fato as consequências das pressões populares e centralizar as ações, sem pulverizar responsabilidades. Por isso, não abrirá espaço para nenhum oportunista cooptar a direção do movimento.
Além disso, a polarização atual dificulta muito que direita e esquerda ocupem o mesmo espaço. Na década passada os movimentos de direita no país quase não tinham representatividade e, por isso, puderam circular tranquilamente nos atos a ponto de, no final da jornada, conseguir dar cor e forma a ela.
Por fim, a luta pela redução de jornada sempre vai ser justa nesse tempo e espaço de tanta exploração que habitamos. Acaba virando uma pauta quase impossível de ser usurpada, pois está no cerne da desigualdade que os privilegiados querem manter a todo custo.
Agora, não é porque os movimentos têm características diferentes que a luta contra a escala 6×1 não pode alcançar uma dimensão tão grande quanto as jornadas de junho.
De fato, a indignação do povo trabalhador é enorme. A grande maioria sente que está cada vez sendo mais explorada e com a vida mais difícil. Se essas indignações encontrarem contorno para se somarem, o movimento tem tudo para crescer.