Xi Jinping alerta Biden sobre “linhas vermelhas” de Taiwan e democracia, enquanto promete desafiar qualquer tentativa de conter a China
O presidente da China, Xi Jinping, disse ao presidente dos EUA, Joe Biden, que os temas de Taiwan, democracia, direitos humanos e direito ao desenvolvimento são “linhas vermelhas” para a China e não devem ser desafiados, segundo informou a mídia estatal Xinhua neste domingo (17).
Xi alertou os Estados Unidos para não se envolverem em disputas bilaterais sobre ilhas e recifes no Mar do Sul da China ou “incentivarem provocações” nessa região, de acordo com a reportagem.
Xi afirmou que China e Estados Unidos poderiam enfrentar turbulências ou até mesmo retrocessos em suas relações devido à rivalidade entre os dois países, mas que avanços consideráveis poderiam ser feitos se tratassem um ao outro como parceiros e amigos.
As declarações foram feitas durante uma reunião à margem da cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) no Peru, segundo a Xinhua.
Xi diz que trabalhará com Trump em última reunião com Biden
O líder chinês Xi Jinping prometeu colaborar com o presidente eleito Donald Trump durante sua última reunião com o atual presidente dos EUA, Joe Biden.
No entanto, Xi aproveitou a oportunidade para expor os objetivos da China, em uma mensagem que parece dirigida a Trump e à próxima administração em Washington.
Em um comunicado incisivo divulgado após o encontro, Pequim afirmou que Xi enfatizou que “uma nova Guerra Fria não deve ser travada e não pode ser vencida. Conter a China é imprudente, inaceitável e fadado ao fracasso.”
Xi também declarou que uma relação estável entre China e Estados Unidos é “crítica para ambos os países e para o mundo”.
Xi e Biden se encontraram no sábado, durante a cúpula anual da APEC em Lima, onde reconheceram “altos e baixos” nas relações ao longo dos quatro anos de Biden no cargo.
Falando durante a reunião realizada no hotel de Xi em Lima, o líder chinês afirmou que, se EUA e China “se tratarem como oponentes ou inimigos, engajando-se em competição hostil e causando danos mútuos, as relações entre China e EUA sofrerão retrocessos ou até mesmo regressões”.
Xi acrescentou que o objetivo de Pequim de manter uma relação estável com Washington permaneceria inalterado e que trabalharia com a nova administração dos EUA “para manter a comunicação, expandir a cooperação e gerenciar as diferenças”.
Biden, por sua vez, afirmou que a competição estratégica entre as duas potências globais não deve escalar para uma guerra.
“Os nossos dois países não podem permitir que essa competição se transforme em conflito. Essa é a nossa responsabilidade e, nos últimos quatro anos, acredito que provamos ser possível manter essa relação”, declarou.
Ambos os líderes destacaram progressos na redução de tensões em questões como comércio e Taiwan.
Analistas afirmam que as relações entre EUA e China podem se tornar mais voláteis com o retorno de Trump à presidência em dois meses, impulsionadas por fatores como a promessa de aumentar as tarifas sobre importações chinesas.
O presidente eleito prometeu tarifas de 60% sobre todas as importações da China. Ele também nomeou críticos ferrenhos de Pequim para posições de destaque nas áreas de defesa e relações exteriores.
Durante seu primeiro mandato, Trump classificou Pequim como um “concorrente estratégico”. As relações se deterioraram ainda mais quando ele chamou a Covid-19 de “vírus chinês” durante a pandemia.
Os anos de Biden no cargo também registraram episódios de tensão com a China, incluindo a polêmica sobre um balão espião e exibições de força militar chinesa ao redor de Taiwan, desencadeadas pela visita de um alto funcionário dos EUA.
A China declarou que sua reivindicação sobre a ilha autônoma de Taiwan é uma linha vermelha inegociável.
No entanto, o governo Biden buscou “gerir de forma responsável” a rivalidade com Pequim após o primeiro mandato de Trump.
Analistas dizem que Pequim provavelmente está mais preocupada com a imprevisibilidade do presidente eleito Trump.
“Os chineses estão prontos para negociar e dialogar, e provavelmente esperam um engajamento antecipado com a equipe de Trump para discutir possíveis acordos”, afirmou Bonnie Glaser, diretora do Programa Indo-Pacífico do German Marshall Fund.
“Por outro lado, eles estão preparados para retaliar caso Trump insista em impor tarifas mais altas à China”, acrescentou.
Ela destacou que Pequim também pode estar preocupada com a falta de canais confiáveis para influenciar a política de Trump.
No sábado, Biden reconheceu que sempre houve desacordos com Xi, mas acrescentou que as discussões entre eles foram “francas e honestas”.
Os dois líderes realizaram três reuniões presenciais durante o mandato de Biden, incluindo uma cúpula importante no ano passado em São Francisco, onde chegaram a acordos sobre combate ao narcotráfico e mudanças climáticas.
Contudo, a Casa Branca de Biden manteve as tarifas da era Trump e, em maio, impôs novas taxas sobre carros elétricos, painéis solares e aço da China.
O governo também fortaleceu alianças de defesa na Ásia e no Pacífico para conter a crescente assertividade da China na região. Biden declarou ainda que os EUA defenderiam Taiwan em caso de invasão pela China.
Com informações da Reuters e da BBC NEWS*