Cúpula do G20 no Brasil destaca agenda do Sul Global

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, fotografado em 12 de novembro, está servindo como sede do G20. © Reuters


Pobreza e reforma institucional em foco, com expansão do BRICS e retorno de Trump no horizonte

A cúpula do G20 deste ano começa nesta segunda-feira, 18 de novembro, no Rio de Janeiro, com o Brasil, anfitrião rotativo, comprometido em promover soluções climáticas e reformas em instituições internacionais. Em um cenário de desigualdades econômicas crescentes e uma ordem mundial fragmentada, o encontro reúne líderes como o presidente dos EUA, Joe Biden, o presidente da China, Xi Jinping, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.

Entre os destaques está o retorno iminente de Donald Trump à Casa Branca, além de conflitos globais como a guerra na Ucrânia. Representando Moscou, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, lidera a delegação do país.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que se recupera de uma recente lesão na cabeça, presidirá o encontro. O ex-operário e líder de esquerda pretende dar continuidade à agenda do Sul Global defendida por anfitriões anteriores como Índia e Indonésia. Essa sequência de presidências do G20 por países emergentes reflete um esforço crescente para colocar os interesses das economias em desenvolvimento no centro das discussões globais.

Agenda do Sul Global ganha força

O Brasil segue uma série de países do Sul Global na liderança do G20: Indonésia em 2022, Índia em 2023 e, em 2025, será a vez da África do Sul, antes dos EUA assumirem a presidência em 2026. Essa continuidade coincide com a expansão do BRICS, bloco que agora inclui Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos, além dos membros fundadores: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Segundo Sunaina Kumar, do Observer Research Foundation, essa sequência de lideranças fortalece a agenda do Sul Global. Ela cita a inclusão da União Africana no G20 durante a cúpula de Nova Délhi como exemplo de avanços significativos.

Rússia e China impulsionam o BRICS como uma plataforma para defender os interesses do Sul Global, buscando atrair parceiros como Indonésia, Tailândia e Turquia. Embora o BRICS ainda tenha mais “simbolismo do que substância”, Kumar destaca que o bloco pode promover temas como desenvolvimento sustentável, redução das desigualdades econômicas e alívio das dívidas de países em desenvolvimento.

Reformas institucionais e desafios geopolíticos

Sob a liderança do Brasil, o G20 discutirá a modernização de instituições como a ONU, o FMI, o Banco Mundial e a OMC. Outras pautas incluem combate à fome e à pobreza, mudanças climáticas e promoção de energia limpa. Uma declaração final está prevista para terça-feira, defendendo resoluções pacíficas para conflitos como a guerra na Ucrânia e no Oriente Médio.

Lula enfrenta um equilíbrio diplomático semelhante ao de Modi, mantendo relações amigáveis com a Rússia, apesar das sanções e esforços ocidentais para isolar o regime de Putin. O presidente brasileiro chegou a sinalizar que gostaria de receber Putin na cúpula, mas foi impedido pela adesão do Brasil ao Estatuto de Roma, que emitiu um mandado de prisão contra o líder russo.

Enquanto o G20 ocorre, cresce a expectativa sobre como a próxima administração americana, liderada por Trump, abordará a política externa em relação à Ucrânia e à Rússia. O discurso de “bom senso” promovido pela equipe de Trump pode sinalizar mudanças nas prioridades diplomáticas dos EUA.

Impacto no G20 e no BRICS

Joshua Meltzer, da Brookings Institution, aponta que o G20 perdeu relevância durante o governo Biden devido a tensões com China e Rússia, enquanto o G7 ganhou protagonismo. Trump, no entanto, pode trazer novamente turbulências ao G7, como fez em seu primeiro mandato, aumentando a importância do G20 como um fórum de diálogo mais amplo.

Embora o BRICS ofereça solidariedade entre seus membros e discursos contrários ao Ocidente, Meltzer questiona a capacidade do bloco de produzir resultados concretos. No entanto, Kumar acredita que os países emergentes continuarão a amplificar a voz do Sul Global nos próximos anos, mesmo com a retomada de uma agenda ocidental mais forte sob a presidência americana do G20 em 2026.

Com informações do Nikkei Asia.

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.