Relatório afirma que métodos utilizados são “consistente com as características de genocídio” e menciona uso da fome, disparo de mais de 25 mil toneladas de bombas e ataques guiados por inteligência artificial.
Nesta quinta-feira, o Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, relatou que somente nos últimos dois dias, “seis tentativas de entregar assistência vital às áreas sitiadas no norte de Gaza foram bloqueadas”.
As missões de terça e quarta-feira tiveram como objetivo levar comida e água para Jabalia, Beit Hanoun e Beit Lahiya, além de proteção e apoio psicossocial para crianças profundamente traumatizadas por 13 meses de bombardeios.
79% do território sob ordens de evacuação
A porta-voz da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, Louise Wateridge, disse que “as pessoas estão presas em prédios residenciais, se escondendo das operações militares em andamento ao seu redor e ficando sem comida”.
De acordo com o Ocha, aproximadamente 79% da Faixa de Gaza continua sob ordens de evacuação. Os palestinos continuam sendo direcionados para áreas dentro e ao redor de Al Mawasi, no sul de Gaza, que carecem de infraestrutura básica e serviços essenciais.
Também nesta quinta-feira, um Comitê especial da Assembleia Geral da ONU condenou as táticas militares israelenses em Gaza desde a guerra iniciada após os “horríveis” ataques terroristas liderados pelo Hamas em 7 de outubro contra vários alvos israelenses, que mataram cerca de 1.250 pessoas e deixaram mais de 250 reféns.
Bombardeio equivalente a duas bombas nucleares
Abrangendo o período de outubro de 2023 a julho deste ano, o relatório do comitê mencionou que Gaza havia sido atingida por cerca de 25 mil toneladas de explosivos, o equivalente a duas bombas nucleares, até fevereiro de 2024.
O relatório afirma ainda que a destruição resultante, juntamente com o colapso dos sistemas de água e saneamento, devastação agrícola e poluição tóxica, é “consistente com as características de genocídio”.
O comitê afirmou que “o uso de Inteligência Artificial pelos militares israelenses para identificar alvos, com supervisão humana mínima, ressalta o desrespeito de Israel à sua obrigação de distinguir entre civis e combatentes e tomar medidas de segurança adequadas para evitar mortes de civis”.
O documento também destaca que “Israel está intencionalmente causando morte, fome e ferimentos graves, usando a fome como método de guerra e infligindo punição coletiva à população palestina”.
Mulheres palestinas são ridicularizadas e envergonhadas
Em Gaza, soldados israelenses foram apontados como responsáveis por “comportamento desumanizante, cruel e humilhante contra palestinos, incluindo mulheres e crianças”, o Comitê alega que tropas compartilharam fotos de mulheres palestinas nas redes sociais “com o objetivo de zombar, envergonhar e humilhar”.
O painel também condenou a “campanha difamatória em andamento” contra a Unrwa e expressou preocupação com o “silenciamento deliberado de reportagens” sobre o conflito em Gaza. O relatório indica uma “escalada de censura da mídia” por Israel.
O Comitê Especial da ONU para Investigar Práticas Israelenses que Afetam os Direitos Humanos do Povo Palestino e Outros Povos Árabes dos Territórios Ocupados foi criado pela Assembleia Geral da ONU em dezembro de 1968 para examinar a situação na Síria, na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza.
Os Estados-membros do Comitê, Malásia, Senegal e Sri Lanka, apelaram a Israel e aos grupos armados palestinos “para que concordem urgentemente com um cessar-fogo duradouro, libertem todos os reféns e detidos mantidos arbitrariamente” e permitam entrada de ajuda humanitária.
O relatório será apresentado à 79ª Sessão da Assembleia Geral da ONU em 18 de novembro de 2024.
Publicado originalmente pelo Notícias da ONU em 14/11/2024