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Pequim reforça arsenal econômico para desafiar Trump

China afia armas comerciais contra Trump: pronta para enfrentar tarifas, Pequim aposta em retaliação estratégica e domínio global de recursos A China está se preparando para enfrentar uma possível nova onda de tensões comerciais caso Donald Trump, presidente eleito dos EUA, decida reacender uma guerra econômica entre as duas maiores economias do mundo. Diferente de […]

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Donald Trump, à esquerda, e Xi Jinping em 2017. A China introduziu leis que lhe permitem colocar empresas estrangeiras na lista negra, impor suas próprias sanções e restringir o acesso dos EUA a cadeias de suprimentos cruciais / Thomas Peter-Pool / Getty Images

China afia armas comerciais contra Trump: pronta para enfrentar tarifas, Pequim aposta em retaliação estratégica e domínio global de recursos


A China está se preparando para enfrentar uma possível nova onda de tensões comerciais caso Donald Trump, presidente eleito dos EUA, decida reacender uma guerra econômica entre as duas maiores economias do mundo. Diferente de 2016, quando foi pega de surpresa pela vitória de Trump e pela imposição de tarifas agressivas, sanções e controles mais rígidos sobre investimentos, Pequim agora possui contramedidas robustas para proteger seus interesses e responder à altura.

Sob a liderança de Xi Jinping, o governo chinês implementou novas leis abrangentes que permitem colocar empresas estrangeiras na lista negra, impor sanções próprias e até cortar o acesso americano a cadeias de suprimentos estratégicas.

Essas medidas ampliam significativamente a capacidade de Pequim de responder às políticas de Washington.

Preparada para negociar, mas pronta para lutar

“Este é um processo de mão dupla. A China, é claro, tentará se engajar com o presidente Trump e negociar, mas, se não houver avanços, defenderemos resolutamente os direitos e interesses da China”, afirmou Wang Dong, diretor executivo do Instituto de Cooperação e Entendimento Global da Universidade de Pequim.

Embora a China tenha enfrentado uma fragilidade econômica crescente, com desafios como o desemprego jovem elevado e dificuldades em atingir a meta oficial de crescimento de 5%, o país busca mitigar vulnerabilidades internas enquanto aprimora suas ferramentas para lidar com sanções externas.

Entre as novas medidas adotadas está a “lei anti-sanções estrangeiras”, que possibilita a Pequim retaliar ações contra seus interesses, e a “lista de entidades não confiáveis”, que visa restringir empresas que prejudiquem a economia chinesa. Além disso, uma lei expandida de controle de exportações reforça o domínio da China sobre recursos cruciais, como terras raras e lítio, essenciais para tecnologias modernas.

Sinais de força

A capacidade de retaliação da China já foi demonstrada recentemente, como no caso das sanções impostas à Skydio, maior fabricante americana de drones e fornecedora do exército ucraniano. Pequim proibiu grupos chineses de fornecer componentes essenciais à empresa.

Outro exemplo foi a ameaça de incluir a PVH, dona das marcas Calvin Klein e Tommy Hilfiger, na lista de entidades restritas, o que poderia cortar o acesso da empresa ao mercado chinês, um dos maiores do mundo.

“Isso é apenas a ponta do iceberg”, alerta Andrew Gilholm, chefe de análise da China na consultoria Control Risks. Ele enfatiza que a China ainda não usou plenamente as “flechas” de sua aljava.

“Se tarifas de 60% forem impostas ou houver uma intenção agressiva do governo Trump, Pequim pode retaliar seriamente”, disse um ex-funcionário comercial dos EUA.

Um cenário global em transformação

Enquanto isso, a China trabalha para fortalecer suas cadeias de suprimentos e expandir o comércio com países menos alinhados a Washington. De acordo com Joe Mazur, analista da consultoria Trivium, a postura protecionista de Trump pode beneficiar Pequim ao incentivar outros países a buscar laços comerciais mais profundos com a China, considerada um parceiro mais confiável.

No entanto, especialistas alertam que as medidas de Pequim também podem ter implicações internas de longo prazo. James Zimmerman, sócio do escritório de advocacia Loeb & Loeb em Pequim, acredita que, apesar das ferramentas à disposição, o governo chinês pode não estar completamente preparado para o impacto potencial de um segundo mandato de Trump, especialmente diante de sua imprevisibilidade.

Zimmerman aponta ainda que o fracasso de Pequim em cumprir as obrigações de um acordo comercial firmado em 2020, que previa compras substanciais de produtos americanos, pode alimentar tensões futuras. “A probabilidade de uma guerra comercial ampliada no próximo mandato de Trump é alta”, alertou.

Lições de 2016 e o próximo passo

Olhando para trás, Pequim reconhece os erros estratégicos cometidos durante o primeiro governo Trump e agora busca minimizar surpresas. Wang Chong, especialista em política externa da Zhejiang International Studies University, observa que “todos já esperavam o pior, então não haverá surpresas. Todos estão prontos”.

Apesar de Pequim estar aberta a negociações, Trump já sinalizou que pode adotar tarifas de 60% sobre todas as importações chinesas, uma medida que teria um impacto significativo, especialmente considerando o atual cenário econômico da China. Por outro lado, Pequim aposta que sua abordagem estratégica pode não apenas proteger seus interesses, mas também ampliar sua influência global em um momento em que os EUA se tornam cada vez mais vistos como um parceiro comercial volátil.

A China sabe que o equilíbrio entre proteger sua economia e responder firmemente a Washington será decisivo para os próximos anos. No entanto, Pequim deixa claro que, se uma nova guerra comercial for inevitável, o país está mais preparado do que nunca para enfrentá-la.

Com informações do Financial Times*

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Rhyan de Meira

Rhyan de Meira é estudante de jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Ele está participando de uma pesquisa sobre a ditadura militar, escreve sobre política, economia, é apaixonado por samba e faz a cobertura do carnaval carioca. Instagram: @rhyandemeira

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