China usa tecnologia da Guerra Fria para desafiar supremacia militar dos EUA

Taiwan informou que 153 aeronaves militares chinesas, 14 embarcações navais e 12 outros navios foram detectados ao redor da ilha / Reuters

Atualizado com tecnologia moderna, o bombardeiro H-6 da China amplia alcance e coloca bases dos EUA no Pacífico na linha de fogo


No mês passado, durante uma série de exercícios militares nos mares e céus ao redor de Taiwan, a China mobilizou algumas de suas mais novas aeronaves de ataque, navios de guerra e forças de mísseis. Entre as armas mais ameaçadoras utilizadas, destacou-se uma versão atualizada de um bombardeiro que voou pela primeira vez nos primeiros anos da Guerra Fria.

Assim como os Estados Unidos, que ainda utilizam versões modernizadas do bombardeiro B-52, da mesma época, a China tem atualizado com sucesso seu jato H-6, mantendo-o em operação até o século XXI.

Esses bombardeiros foram exibidos na mídia estatal chinesa decolando para missões projetadas para intimidar Taiwan, como parte dos exercícios militares batizados de “Joint-Sword 2024B” pelos militares chineses. As manobras foram descritas como um “severo aviso” às pessoas em Taiwan que defendem a independência, segundo comunicado das autoridades militares chinesas.

O Ministério da Defesa Nacional de Taiwan relatou que, em um período de 25 horas após o início dos exercícios, em 14 de outubro, foram detectadas 153 aeronaves militares chinesas, 14 embarcações navais e 12 outros navios ao redor da ilha. Entre essas aeronaves, 111 cruzaram a linha mediana do Estreito de Taiwan e invadiram a Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ) da ilha.

O ministério taiwanês também informou à Reuters que “três grupos de três aeronaves H-6” foram identificados operando no espaço aéreo ao redor da ilha durante os exercícios. Dois desses grupos realizaram “ataques simulados”, segundo o comunicado.

O Ministério da Defesa da China não respondeu às perguntas feitas sobre esses exercícios.

Tela mostra imagens de exercícios militares conduzidos em áreas ao redor da ilha de Taiwan pelo Comando do Teatro Oriental do PLA chinês, em Pequim / Reuters

Versões modernizadas do bombardeiro H-6 da China agora possuem capacidade de lançar mísseis balísticos equipados com ogivas nucleares, além de carregar mísseis antinavio e de ataque terrestre de longo alcance. Algumas versões são reabastecidas em voo, permitindo que decolagens a partir do território chinês alcancem alvos no Pacífico Ocidental, como as bases norte-americanas em Guam, segundo analistas de defesa e relatórios do Pentágono.

Quando questionado sobre os exercícios militares, o Ministério da Defesa de Taiwan declarou que utiliza “vigilância de inteligência conjunta para monitorar os movimentos militares comunistas próximos a Taiwan” e destacou o envio de “forças aéreas, marítimas e de mísseis para responder conforme necessário, garantindo a defesa e a segurança nacional”.

O major Pete Nguyen, porta-voz do Pentágono, afirmou que os Estados Unidos estão “preparados para responder a qualquer ameaça e proteger a pátria”. O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, destacou que “não acredita que o conflito com a RPC seja iminente ou inevitável”, segundo Nguyen.

Pequim continua a afirmar que Taiwan é parte da China e não descarta o uso da força para reunificar a ilha. Em contrapartida, os líderes de Taiwan, democraticamente eleitos, rejeitam essas reivindicações de soberania.

UMA AMEAÇA ATUALIZADA

Diferentemente dos Estados Unidos, que interromperam a produção do B-52 em 1962, a China continuou fabricando o bimotor H-6 em suas fábricas na região central do país. Segundo Thomas Shugart, ex-oficial da Marinha dos EUA e especialista em forças armadas chinesas, a produção do H-6 pode ter sido reduzida ou encerrada recentemente. Ele estima que a força aérea chinesa possua cerca de 230 bombardeiros do modelo.

Derivado do bombardeiro soviético Tupolev Tu-16, introduzido nos anos 1950 e apelidado de “Badger” pela OTAN, o H-6 começou a ser produzido sob licença na China no final daquela década. Desde então, o modelo tem sido frequentemente enviado em missões ao redor do espaço aéreo taiwanês e japonês, bem como sobre o disputado Mar do Sul da China.

Especialistas militares afirmam que, em caso de conflito, os bombardeiros H-6 representariam uma ameaça significativa a navios e alvos em terra. A doutrina militar chinesa para invasões de ilhas, como Taiwan, prevê ataques coordenados contra quartéis-generais, centros de comunicação, portos e pistas de decolagem, além de alvos em terra e no mar. Esses bombardeiros poderiam ainda ser utilizados para lançar mísseis de cruzeiro em ataques precisos, segundo Shugart.

Imagens da emissora estatal CCTV, divulgadas em setembro, mostram um H-6 participando de um exercício ao lado de caças e um drone de vigilância WZ-7. O drone teria penetrado nas defesas aéreas de um alvo simulado, repassando coordenadas para o H-6, que então disparou um míssil antinavio.

David Deptula, do Mitchell Institute for Aerospace Studies, afirmou que qualquer estratégia militar norte-americana envolveria atacar os H-6 enquanto ainda estivessem no solo, devido à ameaça que representam. Shugart também destacou que o H-6, embora derivado de um modelo da Guerra Fria, foi amplamente modernizado, incluindo fuselagens, motores e armas de longo alcance.

EXERCÍCIOS CONJUNTOS E AUMENTO DE TENSÕES

A China tem usado o H-6 em patrulhas de longo alcance de forma semelhante ao emprego do B-52 pelos EUA, como demonstração de força e capacidade estratégica. Em julho, uma patrulha conjunta de dois bombardeiros H-6 chineses e dois Tu-95 russos foi interceptada por caças dos EUA e do Canadá perto do Alasca, em um movimento sem precedentes que evidenciou o aumento da confiança militar chinesa.

Embora os voos não tenham sido considerados uma ameaça direta, o evento destacou o crescente alcance das operações conjuntas entre China e Rússia, segundo ex-oficiais da Força Aérea dos EUA.

O Ministério da Defesa da China declarou que a patrulha visava “testar e melhorar a coordenação entre as forças aéreas chinesa e russa” e negou que tivesse como alvo qualquer terceiro país. O Ministério da Defesa da Rússia não comentou o ocorrido.

Com informações da Reuters*

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