Nas eleições municipais de 2024, os partidos de direita e centro no Brasil demonstraram uma nova abordagem ao incentivar fortemente a participação de mulheres com perfil conservador na política, liderando assim a eleição da maioria das 728 prefeitas do país, conforme reportagem do Globo.
Os partidos MDB, PSD, PP, União Brasil, PL e Republicanos destacaram-se nesse cenário, superando o PT, que historicamente tem laços com movimentos feministas, mas elegeu apenas 41 prefeitas.
Este movimento para ampliar a presença feminina conservadora nas prefeituras é resultado de um projeto de capacitação liderado por figuras como a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP).
As líderes percorreram diversas cidades promovendo cursos de formação básica para mulheres interessadas em entrar na política.
As palestras cobriram temas de comunicação pública, postura e vestimenta adequada, além de definições de pautas voltadas para temas familiares e populares.
Damares Alves apontou que o objetivo do programa foi atrair mulheres para discussões além das tradicionais pautas de aborto e igualdade de gênero.
“Começamos a trazer pautas, como mães atípicas, empreendedorismo feminino, invisibilidade de mulheres de comunidades tradicionais, como quilombolas e marisqueiras”, explicou Damares, enfatizando o enfoque em vivências e necessidades locais.
A estratégia também chegou a atrair mulheres trans, exemplificada por Thalyta Baronne, que concorreu a vereadora em Sento Sé, Bahia, pelo Republicanos.
Apesar de não eleita, Thalyta destacou o apoio do partido:
“Para mim é o partido que mais luta pelos direitos e pela defesa das mulheres e crianças. Por eu ser uma mulher trans e de direita isso traz uma perspectiva única e potencial para desafiar estereótipos e romper bolhas políticas”, afirmou.
Para 2026, crescem as expectativas em torno de nomes como Cristina Graeml e Emília Corrêa, esta última já eleita prefeita de Aracaju pelo PL, como potenciais candidatas a cargos maiores, com apoio das lideranças bolsonaristas.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também é cotada para uma possível candidatura ao Senado pelo Distrito Federal.
Do outro lado do espectro político, o PT enfrenta desafios para desenvolver lideranças femininas. Anne Moura, secretária Nacional de Mulheres do PT, atribuiu o desempenho modesto nas eleições a muitas líderes do partido estarem ocupadas com funções governamentais, o que limitou a disponibilidade de candidatas potenciais.
Apesar disso, ela ressaltou que o PT mantém avanços na pauta de gênero e possui a maior bancada feminina no Congresso, atualmente liderada por uma mulher.
Flávia Biroli, professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, comentou que o interesse crescente da direita em promover mulheres na política reflete, paradoxalmente, os avanços dos movimentos feministas nas últimas décadas.
Biroli destacou que a presença feminina aumentada nos partidos conservadores é impulsionada também pela cota de gênero do fundo eleitoral, e mencionou que figuras como Michelle Bolsonaro, embora apresentem uma imagem antifeminista, devem suas posições às lutas históricas pelos direitos das mulheres.