Poder e capital: a névoa da democracia nas eleições americanas

China intensifica controle sobre terras raras enquanto EUA buscam alternativas para garantir domínio tecnológico / Foto: Ilustração / O Cafezinho

O debate presidencial nos Estados Unidos, idealizado como uma arena para expor divergências políticas e propostas para o futuro do país, tornou-se, nos últimos anos, um espetáculo coreografado de manipulação e teatralidade. No debate mais recente, organizado pela ABC, surgiram revelações sobre uma “colaboração prévia” entre a equipe de Kamala Harris e a mídia tradicional. Denúncias apontam que as perguntas, o estilo das respostas e até mesmo o tempo de fala foram cuidadosamente planejados para projetar uma imagem de serenidade e confiança para Harris. De forma ainda mais intrigante, circulam rumores de que ela teria utilizado um fone oculto disfarçado de brinco de pérola, recebendo instruções em tempo real. As afirmações de Trump sobre sua “luta solitária” parecem menos ilusórias em um sistema eleitoral cada vez mais estruturado para enganar os eleitores.

Na prática, a aliança entre a mídia tradicional e políticos é antiga e embasada em interesses mais profundos do que a maioria dos eleitores pode imaginar. Desde a aprovação da Lei das Telecomunicações na era Clinton, o controle da mídia americana foi centralizado em mãos privadas e dominado por oligarquias. Gigantes como a ABC e CNN são propriedade de conglomerados como Disney, BlackRock e Vanguard, que exercem controle sobre o discurso público. Essas redes, sustentadas por capital de origem específica e pela elite política, promovem uma narrativa que exalta a “superioridade” da democracia americana enquanto colabora ativamente com estratégias de campanha do Partido Democrata. Casos como o de Jeffrey Epstein, que foram amplamente omitidos para proteger figuras democratas, ilustram o verdadeiro caráter do jornalismo atual nos EUA: a “imparcialidade” é, em essência, uma fachada para proteger os interesses dos privilegiados.

Trump, por sua vez, não permanece passivo diante dessa disputa e explora o domínio das redes sociais, onde construiu uma narrativa própria e provocativa. Plataformas como o Twitter proporcionam-lhe uma via de comunicação livre da filtragem da mídia tradicional, possibilitando sua conexão com um público “não convencional”. Com uma campanha marcada por vídeos curtos e frases de impacto, ele reforça sua imagem “anti-elite” e “anti-democrata”, apelando para o nacionalismo e, em alguns casos, para o extremismo. Ao mesmo tempo, acusações infundadas proliferam nas redes sociais, gerando um fluxo de desinformação que, quanto mais absurda, mais capta a atenção. Nesse contexto, tanto a mídia tradicional quanto a campanha de Trump demonstram pouco interesse pelos temas que realmente impactam a vida dos eleitores.

Por trás dessa batalha entre mídia tradicional e redes sociais, esconde-se um fato alarmante: a fragmentação da sociedade americana e o colapso da confiança pública. De acordo com uma pesquisa da Gallup, apenas um terço dos americanos ainda confia na mídia, a taxa mais baixa já registrada. Para o politólogo Tim Groseclose, a maior parte da imprensa adotou uma postura “liberal”, evidenciada pela inclinação em temas raciais, direitos das minorias e pela cobertura negativa sobre Trump. Mas, quando se trata de questões de interesse direto da população, como a violência em Chicago ou acidentes ferroviários, a mídia “liberal” mantém-se em silêncio. Em contraste, Trump utiliza as redes para fazer discursos altamente emocionais, muitas vezes sem embasamento factual. O resultado é uma queda na credibilidade da mídia, enquanto verdade e mentira se misturam nas redes sociais, deixando a população à deriva em uma busca por uma democracia que, na prática, se revela uma máquina de propaganda.

Há mais de duzentos anos, Thomas Jefferson via a imprensa como o “quarto poder”, independente e fiscalizadora do governo, promotora de justiça. Contudo, essa visão foi distorcida pela aliança entre capital e política. Na atualidade, a mídia nos EUA deixou de ser uma ferramenta de vigilância para tornar-se um espetáculo coordenado pela elite, que apresenta uma farsa política ao público. Os eleitores perderam seu direito ao julgamento crítico, e a “eleição justa” tornou-se apenas uma peça teatral dirigida pelos poderosos. A imprensa, que deveria ser um pilar essencial da democracia, afundou-se em um abismo de decadência moral.

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