Quase três anos após a invasão da Ucrânia, que resultou em sanções e condenações globais contra Moscou, o presidente Vladimir Putin organizou uma cúpula com mais de uma dúzia de líderes mundiais, enviando uma mensagem clara de que, longe de estar sozinho, um grupo emergente de nações o apoia.
A cúpula de três dias do BRICS, realizada entre os dias 22 e 24 de outubro na cidade russa de Kazan, foi o primeiro encontro do grupo de economias emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – desde sua expansão para incluir Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.
Putin se reuniu com Xi Jinping, da China, no primeiro dia do evento, e afirmou, após o encontro, que a parceria entre seus países era um “modelo de como as relações entre Estados devem ser construídas.” Outros líderes, como Narendra Modi, da Índia, e Cyril Ramaphosa, da África do Sul, também participaram da cúpula. Além deles, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, também foi convidado a comparecer. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cancelou sua participação após sofrer uma lesão em casa.
A cúpula de Kazan foi, assim, o maior evento internacional organizado pelo presidente russo desde o início da guerra, em fevereiro de 2022. Esta reunião evidenciou uma convergência de países que desejam uma mudança no equilíbrio global de poder e que, em muitos casos – como Rússia, China e Irã –, buscam diretamente confrontar o Ocidente liderado pelos Estados Unidos.
Essa foi a mensagem que Putin e seu aliado mais próximo, Xi, transmitiram ao longo da cúpula: o Ocidente é quem está isolado no cenário mundial com suas sanções e alianças, enquanto uma “maioria global” apoia o esforço de contestação à liderança americana.
Em declarações aos repórteres antes da cúpula, Putin exaltou a crescente influência econômica e política dos países do BRICS como um “fato inegável” e afirmou que, se o BRICS e outros países interessados trabalhassem juntos, eles “seriam um elemento substancial da nova ordem mundial” – embora tenha negado que o grupo fosse uma “aliança antiocidental.”
A cúpula foi particularmente relevante por ocorrer às vésperas das eleições nos EUA, onde uma possível vitória de Donald Trump poderia levar a uma mudança no apoio americano à Ucrânia e tensionar os laços de Washington com seus tradicionais aliados.
A reunião de 2024 contrastou fortemente com a do ano anterior em Joanesburgo, quando Putin participou virtualmente devido ao mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional em razão de supostos crimes de guerra na Ucrânia. Desta vez, o presidente russo esteve à frente da primeira cúpula do BRICS ampliado em um contexto geopolítico marcado não apenas pelo conflito na Ucrânia, mas também pela escalada de tensões no Oriente Médio, onde Israel enfrenta milícias apoiadas pelo Irã.
Putin confirmou antes da cúpula que o líder palestino Mahmoud Abbas participaria do evento. Rússia e China criticaram as ações de Israel e pediram um cessar-fogo, enquanto os EUA apoiaram o direito de Israel de retaliar contra grupos militantes.
Além de discutirem a criação de um sistema de pagamentos fora da esfera do dólar e maneiras de impulsionar a cooperação econômica, tecnológica e financeira, a cúpula também ofereceu a Putin oportunidades de encontros bilaterais com outros líderes do BRICS e dignitários aliados.