China reafirma compromisso com o Sul Global, e Brasil avalia parceria estratégica com Xi Jinping para enfrentar pressões comerciais dos EUA e da União Europeia
Em um discurso que ecoou pelo mundo, o presidente chinês Xi Jinping afirmou nesta quinta-feira (24) que, independentemente das mudanças no cenário internacional, a China “sempre tem em mente o Sul Global e está enraizada no Sul Global”.
Xi fez essas observações durante o diálogo de líderes do “BRICS Plus”, destacando o compromisso da China com as nações em desenvolvimento, como o Brasil, e reforçando a importância de parcerias econômicas e comerciais robustas e mutuamente benéficas.
Brasil busca protagonismo no G20 e reforma na OMC
Durante a reunião dos ministros de Comércio e Investimento do G20, realizada em Brasília, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil, Geraldo Alckmin, fez um apelo por um comércio global mais justo e inclusivo.
Ele destacou a necessidade urgente de reformar a Organização Mundial do Comércio (OMC) para garantir que as questões de desenvolvimento continuem centrais para todos os países.
Alckmin afirmou enfaticamente: “Apoiamos, portanto, um sistema comercial multilateral capaz de contribuir para um comércio global mais justo, inclusivo e eficiente“.
O ministro também ressaltou que o G20 tem a responsabilidade exclusiva de liderar esse processo, promovendo avanços significativos para o comércio e investimento globais, especialmente para países do Sul Global como o Brasil.
Ele ainda enfatizou a importância de políticas que incentivem a participação das mulheres no comércio, sublinhando que essa prática é essencial para expandir as oportunidades econômicas e criar um ambiente de negócios mais inclusivo.
“Todos temos a responsabilidade de garantir que as mulheres em todas as partes do mundo tenham igual acesso às oportunidades que o comércio global pode oferecer“, afirmou Alckmin, reiterando o compromisso do Brasil com o desenvolvimento sustentável.
China e Brasil: Parceria estratégica como resposta às pressões do Ocidente
Com as tensões comerciais globais e a pressão protecionista crescente por parte dos Estados Unidos e da União Europeia, o Brasil está explorando alternativas estratégicas para fortalecer sua economia.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, destacou a importância de o Brasil considerar a adesão à Iniciativa do Cinturão e Rota da China como uma maneira de enfrentar essas barreiras.
Durante o evento Bloomberg New Economy no B20, realizado em São Paulo, Fávaro foi claro: “Precisamos manter um ótimo relacionamento com os Estados Unidos e a União Europeia, mas também é essencial combater algumas medidas protecionistas por meio da expansão de parcerias comerciais“.
Ele afirmou que a aliança com a China é uma oportunidade crucial para superar barreiras comerciais impostas ao Brasil, expandir sua influência global e garantir novos mercados para as commodities brasileiras.
Fávaro, que liderou uma delegação de executivos do agronegócio ao país asiático no ano passado, vem sendo um dos principais articuladores das tentativas do presidente Lula de estreitar os laços com a China.
Como resultado dessas negociações, o Brasil assinou acordos importantes para exportar mais carne bovina e outros produtos para o mercado chinês, garantindo uma posição estratégica para as exportações agrícolas brasileiras.
Expansão do mercado e novas oportunidades comerciais para o Brasil
O ministro também informou que o Brasil está em negociações avançadas para que mais frigoríficos brasileiros possam exportar para a China.
Segundo ele, tratativas para autorizar entre 10 e 15 novas instalações para a exportação de carne bovina, de frango e de porco estão em andamento. Fávaro mencionou que um anúncio oficial pode ser feito já no próximo mês, durante a reunião do Grupo dos 20 no Brasil.
Essa cooperação é vista como um passo estratégico para ampliar a parceria comercial entre Brasil e China, fortalecendo os laços entre os dois países e consolidando a posição brasileira como um dos principais fornecedores de alimentos para o gigante asiático.
O Brasil, que já é um dos maiores exportadores de soja e carne para a China, vê essa expansão como um caminho natural para diversificar ainda mais suas exportações e garantir investimentos significativos em infraestrutura e desenvolvimento agrícola.
Brasil busca alternativas no Sul Global
Enquanto isso, os Estados Unidos e o Brasil seguem disputando espaço no mercado global de commodities, com atritos históricos sobre proteções para o etanol, soja, milho e algodão.
O vice-conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jonathan Finer, reconheceu o aumento da competição com a China, mas negou que os EUA estejam perdendo influência na região.
“Esta é uma região que tomará suas próprias decisões econômicas e comerciais, assim como decisões sobre parcerias de segurança“, disse Finer, em uma tentativa de minimizar o avanço chinês no comércio global.
Finer ainda afirmou que, sob a liderança de Joe Biden, os EUA “reverteram” a narrativa de que o país estaria “perdendo terreno para a China como potência econômica“.
No entanto, a crescente influência da China na América Latina, especialmente no Brasil, mostra que Pequim está cada vez mais comprometida em apoiar países que compartilham de suas visões e interesses comerciais.
Além das pressões dos EUA, o Brasil enfrenta atritos com a União Europeia devido a uma nova lei europeia voltada para o combate ao desmatamento global, que gerou preocupação entre os produtores agrícolas brasileiros.
Diante da pressão de países exportadores de commodities, a Comissão Europeia decidiu adiar a implementação da medida, mas Carlos Fávaro reafirmou a oposição do Brasil durante o evento.
“O Brasil jamais concordará com essa lei“, declarou ele, alegando que a regulamentação foi elaborada “unilateralmente” e ignorou a soberania de outras nações.
Parceria estratégica com a China
Em meio a um cenário global de intensa competição, o Brasil se encontra no centro de uma disputa entre as duas maiores economias do mundo, China e Estados Unidos.
O presidente Lula está empenhado em atrair investimentos para impulsionar a economia brasileira, desenvolver a infraestrutura nacional e apoiar seus planos de transição verde.
Para tanto, fortalecer os laços com a China, que já se mostrou um parceiro comercial estratégico, pode ser a chave para garantir um futuro próspero para o Brasil e para outras nações do Sul Global.
Ao que tudo indica, o futuro das relações comerciais entre Brasil e China tem um potencial enorme para impulsionar a economia brasileira e fortalecer a posição do país como um líder no comércio global, aproveitando as oportunidades oferecidas pela crescente parceria com Pequim.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!