Tropas norte-coreanas estão na Rússia

O presidente russo Vladimir Putin, à direita, e o líder da Coreia do Norte Kim Jong Un durante reuniões em Pyongyang em junho passado que levaram ao acordo de parceria estratégica / AP

Tropas norte-coreanas já em solo russo: Putin confirma aliança com Pyongyang, aciona tratado e promete reviravolta no conflito com a Ucrânia


Nesta quinta-feira (24), o presidente russo Vladimir Putin pareceu confirmar o envio de soldados norte-coreanos para a região de Kursk, na Rússia, em uma movimentação que está gerando fortes repercussões internacionais. Segundo informações de inteligência ucraniana, essas tropas foram deslocadas para reforçar as defesas russas contra incursões bem-sucedidas das forças ucranianas, que têm pressionado o território russo desde agosto.

A presença dessas tropas não é mais segredo. Conforme reportado pelo Financial Times, o serviço de inteligência da Coreia do Sul divulgou vídeos que mostram soldados norte-coreanos treinando no leste da Rússia, levantando suspeitas sobre a colaboração militar entre Moscou e Pyongyang. Estimativas sul-coreanas indicam que cerca de 12.000 soldados norte-coreanos já estão em solo russo, prontos para se juntar aos combates.

Durante uma coletiva de imprensa, quando questionado sobre as evidências, Putin respondeu: “Nunca duvidamos de que a liderança norte-coreana leva nossos acordos a sério”.

Ele se referia ao artigo 4 de um acordo de parceria estratégica assinado em junho entre Rússia e Coreia do Norte, e ratificado pelo parlamento russo nesta quinta-feira.

O tratado contém uma cláusula ambígua, permitindo assistência mútua caso um dos países seja atacado, sugerindo que Moscou pode estar usando essa disposição para justificar a presença das tropas estrangeiras.

“Quanto às nossas relações com a República Popular Democrática da Coreia, como vocês sabem, hoje eu acho que nosso acordo de parceria estratégica acabou de ser ratificado.

Há o artigo 4 lá”, afirmou Putin, deixando no ar as intenções da Rússia de utilizar esse acordo para aumentar seu poder militar na região. “O que e como faremos é da nossa conta no âmbito deste artigo”, completou, em um tom desafiador.

Inicialmente, o Kremlin havia negado categoricamente os rumores sobre a presença dos soldados norte-coreanos, classificando as notícias como “fake news”.

No entanto, informações revelam que essas tropas foram disfarçadas como minorias étnicas asiáticas da Rússia, como os buriates e iacutos, numa tentativa de camuflar sua identidade.

Esse é o primeiro uso oficial de tropas estrangeiras desde que Moscou iniciou a invasão em larga escala da Ucrânia em 2022.

Além de soldados, a Coreia do Norte já havia fornecido à Rússia munições de artilharia e mísseis balísticos KN-23, acompanhados de oficiais norte-coreanos que supervisionavam o uso desses armamentos no front.

Especialistas acreditam que a mobilização das tropas norte-coreanas seja uma tentativa de reverter a situação desfavorável para as forças russas em Kursk, onde a resistência ucraniana tem se mostrado surpreendentemente eficiente.

O serviço de inteligência militar da Ucrânia afirmou que “as primeiras unidades militares da RPDC, que foram treinadas nos campos de treinamento do leste da Rússia, já chegaram à zona de combate da guerra russo-ucraniana.

Em particular, em 23 de outubro de 2024, sua presença foi registrada na região de Kursk.” As informações levantam questionamentos internacionais sobre a escalada do conflito e a entrada de mais um ator externo.

O tratado firmado entre Moscou e Pyongyang em junho, que agora parece estar sendo colocado em prática, pegou analistas e observadores de surpresa.

Especulações apontavam que tanto a Rússia quanto a Coreia do Norte teriam dificuldades em aderir rigorosamente aos termos do acordo, que inclui a obrigação de fornecer assistência militar caso um dos países seja atacado.

A cláusula, no entanto, é vaga o suficiente para permitir interpretações flexíveis, o que pode ser exatamente o que Putin está utilizando como justificativa para esta nova movimentação.

Especialistas ocidentais, contudo, se mostram céticos quanto à decisão de Putin de invocar o tratado. James Nixey, diretor do programa da Rússia na Chatham House, think tank com sede em Londres, descreveu a estratégia como “fanfarronice autojustificável”.

Ele destacou que, historicamente, a Rússia costuma usar sofismas legais para justificar suas ações no cenário internacional, sugerindo que essa pode ser mais uma tentativa de legitimar a presença militar norte-coreana em seu território.

Diante desse novo cenário, fica claro que a aliança entre Rússia e Coreia do Norte está se intensificando, trazendo novas variáveis ao campo de batalha. A presença de tropas norte-coreanas representa uma escalada significativa e um movimento estratégico arriscado para ambos os países.

No entanto, com as tensões elevadas e a pressão internacional aumentando, resta saber se essa cooperação resultará em um fortalecimento militar ou se abrirá caminho para mais sanções e isolamento para ambos os regimes.

A entrada oficial da Coreia do Norte no conflito reforça que, em meio a um cenário global de incertezas e conflitos, alianças inesperadas e estratégias controversas estão moldando o rumo da guerra e das relações internacionais.

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