Em busca de justiça quase uma década após o desastre, brasileiros exigem bilhões em indenização da BHP em um dos maiores processos ambientais do mundo
Quase nove anos após o pior desastre ambiental do Brasil, vítimas levaram seu caso por indenização ao tribunal do Reino Unido nesta segunda-feira (21). O incidente envolveu o despejo de toneladas de resíduos tóxicos de mineração em um importante rio, na cidade de Mariana, em Minas Gerais, resultando na morte de 19 pessoas e na destruição de comunidades locais.
A ação coletiva no Tribunal Superior de Londres visa obter aproximadamente 36 bilhões de libras (US$ 47 bilhões) em indenização da gigante global de mineração BHP. Se bem-sucedida, será o maior pagamento ambiental já registrado, conforme informou o escritório de advocacia Pogust Goodhead, que representa os reclamantes.
A BHP detém metade da Samarco, a mineradora brasileira responsável pela mina de minério de ferro onde a barragem de rejeitos se rompeu em 5 de novembro de 2015, liberando resíduos suficientes para encher 13.000 piscinas olímpicas no Rio Doce, localizado no sudeste do Brasil. O caso foi aberto no Reino Unido, pois uma das principais entidades legais da BHP estava sediada em Londres na época.
O julgamento ocorre poucos dias após a BHP anunciar que está em negociações com sua parceira na Samarco, a Vale SA, e autoridades brasileiras para um possível acordo que poderia destinar US$ 31,7 bilhões às vítimas, comunidades e ao meio ambiente afetado.
O escritório Pogust Goodhead afirmou que este acordo não impactará o processo em Londres.
“Esse momento só prova que as empresas responsáveis pelo maior desastre ambiental do Brasil estão determinadas a fazer tudo o que podem para impedir que as vítimas busquem justiça e estão dispostas a perpetuar o comportamento vergonhoso que demonstraram nos últimos nove anos”, disse a firma.
A BHP, com sede em Melbourne, Austrália, afirmou que o possível acordo resolveria uma ação movida pelo Ministério Público Federal do Brasil e outras reclamações de autoridades públicas brasileiras.
“A BHP continuará a defender a ação (do Reino Unido), que acredita ser desnecessária porque duplica questões já cobertas pelo trabalho de reparação em andamento e pelos procedimentos legais no Brasil”, declarou a empresa no sábado.
O desastre resultou na destruição de duas aldeias, na morte de 14 toneladas de peixes de água doce e no dano de 660 quilômetros (410 milhas) do Rio Doce, conforme estudo da Universidade de Ulster.
O rio, reverenciado como divindade pelo povo indígena Krenak, permanece poluído e ainda não se recuperou.
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