Rússia bate o martelo e nacionaliza gigante alimentícia dos EUA

AP

O governo russo, por meio de um decreto assinado pelo presidente Vladimir Putin, anunciou na última terça-feira a nacionalização temporária da holding Glavproduct, uma das maiores fabricantes de alimentos enlatados da Rússia, que pertence a uma empresa controlada por um grupo norte-americano.

A medida inclui a apreensão de várias subsidiárias da Glavproduct e três fábricas de conservas, que foram transferidas para a gestão da Agência Federal Russa de Administração de Propriedade, Rosimushchestvo.

Além disso, o governo russo assumirá o controle da Promselkhozinvest, empresa controladora da Glavproduct, que pertence à Universal Beverage Company, registrada nos Estados Unidos.

A ação se insere em uma política de controle de ativos estrangeiros de países classificados como “hostis” pelo Kremlin, medida que tem sido utilizada em resposta às sanções ocidentais contra a Rússia.

Histórico da Glavproduct

Fundada em 1999 pelo empresário russo-americano Leonid Smirnov, a Glavproduct tornou-se uma das principais produtoras de alimentos enlatados da Rússia.

Smirnov, que emigrou da União Soviética na década de 1970, retornou à Rússia nos anos 1990 com o objetivo de explorar novas oportunidades no mercado russo. Segundo informações da agência de notícias RBC, Smirnov iniciou a produção de alimentos enlatados sob a marca Glavproduct por meio da Universal Beverage Company.

O site oficial da Glavproduct afirma que a empresa é a maior produtora de alimentos enlatados do país, com mais de 500 produtos no portfólio, incluindo carne enlatada, leite condensado, peixe e vegetais enlatados.

A empresa se consolidou como uma das principais fornecedoras de alimentos enlatados no mercado russo, ocupando uma posição estratégica no setor.

Decreto de nacionalização temporária

Em abril de 2023, o presidente Putin assinou um decreto que autorizava o governo russo a assumir temporariamente o controle de ativos pertencentes a empresas de países considerados “hostis” pela Rússia, como parte de uma resposta às sanções impostas por esses países em razão do conflito na Ucrânia.

O decreto permite que empresas de setores estratégicos, como energia e alimentos, possam ser transferidas para o controle estatal temporário para garantir a segurança e a estabilidade econômica do país.

A Rosimushchestvo, agência responsável pela administração dos ativos estatais, já havia sido incumbida de controlar temporariamente as subsidiárias russas da empresa de energia finlandesa Fortum e da alemã Uniper, consideradas essenciais para a segurança energética da Rússia.

Na ocasião, o Kremlin afirmou que a medida refletia “a atitude dos estados ocidentais em relação aos ativos estrangeiros pertencentes a empresas russas”, justificando a decisão de retaliação às restrições econômicas impostas ao país.

Outros casos de nacionalização

O caso da Glavproduct não é isolado. Em julho de 2023, o governo russo já havia nacionalizado temporariamente os negócios locais da gigante alimentícia francesa Danone, assim como a Baltika Breweries, que estava sob controle do grupo dinamarquês Carlsberg.

Essas ações fazem parte de um esforço contínuo das autoridades russas para garantir que ativos considerados essenciais para a economia e a segurança do país permaneçam sob controle interno, especialmente diante das crescentes tensões com o Ocidente.

Em uma reviravolta, os ativos locais da Danone foram posteriormente retirados da gestão estatal temporária, mas a nacionalização temporária de empresas estrangeiras continua sendo uma ferramenta utilizada pelo governo russo para responder às sanções internacionais e proteger setores considerados críticos para o funcionamento da economia.

Implicações econômicas

A apreensão temporária da Glavproduct, uma empresa essencial para o abastecimento de alimentos enlatados no mercado russo, é um exemplo das medidas que o governo russo tem tomado para assegurar o controle sobre ativos de empresas estrangeiras, em meio ao prolongado conflito com os países ocidentais.

O impacto dessa medida sobre a operação da empresa e o mercado alimentício interno ainda está sendo avaliado, mas destaca a crescente intervenção estatal em setores estratégicos da economia.

O decreto de abril de 2023, que abriu caminho para essas ações, foi visto como uma forma de proteger a economia russa contra potenciais desestabilizações causadas pela retirada de empresas estrangeiras em resposta às sanções.

Embora as medidas de nacionalização sejam temporárias, as empresas afetadas têm enfrentado desafios para retomar o controle total de seus ativos, em um ambiente de crescente incerteza sobre o futuro das relações comerciais entre a Rússia e o Ocidente.

Com a continuidade das sanções e a resposta russa por meio da nacionalização de ativos estrangeiros, o ambiente de negócios no país permanece tenso, e novas medidas do governo russo não estão descartadas. A gestão temporária dos ativos da Glavproduct pela Rosimushchestvo marca mais um capítulo nesse cenário de disputas econômicas e geopolíticas.

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