Enquanto no Brasil se discute a possibilidade de cortar gastos públicos e até mexer em benefícios trabalhistas para tentar salvar o famigerado arcabouço fiscal, elaborado e defendido pelo ministro Fernando Haddad, a China vai na contramão e pode impulsionar ainda mais o papel do estado no crescimento da sua economia.
A China precisa adotar medidas de estímulo econômico “o mais rápido e rapidamente possível” para combater o risco de uma espiral descendente, na qual a diminuição dos gastos e a queda da renda se reforçam mutuamente.
O alerta foi feito por Zhang Bin, vice-diretor do Instituto de Economia e Política Mundial da Academia Chinesa de Ciências Sociais, durante um webinar realizado em 20 de outubro pelo Fórum de Macroeconomia da China.
Zhang destacou que o governo chinês pode precisar levantar novas dívidas em 2024, incluindo títulos do tesouro, títulos locais para fins especiais e vendas de dívida fora do orçamento, totalizando mais de 12 trilhões de yuans (cerca de US$ 1,67 trilhão).
Ele ressaltou que, historicamente, o aumento da demanda agregada esteve diretamente ligado ao aumento dos gastos públicos, uma vez que o governo pode atuar de forma rápida e eficiente no curto prazo para estimular a economia.
“No passado, todo aumento na demanda agregada era inseparável de um aumento nos gastos do governo, porque é uma variável rápida que pode mudar rapidamente a situação no curto prazo”, afirmou Zhang. Ele é conhecido por defender cortes agressivos nas taxas de juros como forma de impulsionar o crescimento econômico.
O apelo de Zhang ocorre em meio à crescente preocupação com a desaceleração da economia chinesa. Desde o segundo trimestre de 2024, a segunda maior economia do mundo tem mostrado sinais de perda de dinamismo.
Pequim, em resposta, vem implementando uma série de “políticas incrementais” para tentar atingir a meta de crescimento anual de aproximadamente 5%.
Essas políticas incluem ações do governo central em áreas como renovação urbana e alívio de dívidas para governos locais. Nas últimas semanas, diversas agências estatais relacionadas à economia têm realizado coletivas de imprensa para apresentar novas diretrizes, embora ainda não tenham revelado detalhes específicos sobre a escala ou o cronograma de um plano de estímulo mais abrangente. As declarações das autoridades, no entanto, indicam uma postura mais ativa em relação aos gastos públicos.
Um dos motivos para a falta de anúncios mais concretos pode estar relacionado ao processo legal necessário para aprovar aumentos no orçamento fiscal ou na cota de emissão de títulos. Qualquer ampliação desses recursos exige a aprovação do Congresso Nacional do Povo, principal órgão legislativo da China.
O governo chinês tem procurado equilibrar suas políticas para manter o crescimento econômico, ao mesmo tempo em que lida com a pressão de uma dívida crescente, especialmente entre governos locais. Nesse contexto, as discussões sobre a necessidade de mais estímulos e sobre o papel do governo central na recuperação econômica têm ganhado força.
Em maio, Zhang e outros economistas participaram de um simpósio na província de Shandong, no leste da China, que contou com a presença do presidente Xi Jinping.
Durante o evento, foram debatidas alternativas para reverter a perda de fôlego da economia, e Zhang defendeu que cortes adicionais nas taxas de juros seriam essenciais para estimular a demanda interna.
As autoridades chinesas têm se mostrado cautelosas em anunciar grandes pacotes de estímulo, possivelmente por receio de aumentar o endividamento do país. No entanto, a pressão para alcançar a meta de crescimento econômico pode forçar o governo a adotar medidas mais incisivas nos próximos meses.
O cenário atual reflete um dilema para o governo de Xi Jinping: como impulsionar a economia sem comprometer a estabilidade fiscal de longo prazo. Analistas apontam que as políticas incrementais, como os projetos de renovação urbana e o alívio das dívid
as locais, são passos na direção certa, mas podem não ser suficientes para reverter a desaceleração econômica no curto prazo.
Com a necessidade de aprovar qualquer aumento no orçamento fiscal ou nas emissões de títulos através do Congresso Nacional do Povo, o ritmo de implementação das medidas de estímulo dependerá também do apoio político para essas iniciativas.
O desafio da China é encontrar um equilíbrio entre estimular a economia e evitar o aumento excessivo das dívidas públicas, especialmente em um momento em que as incertezas globais continuam a afetar a demanda por exportações chinesas.
O governo central está ciente da urgência em adotar ações que possam reverter o quadro de desaceleração, mas o caminho para isso passa por decisões cuidadosas sobre o uso de ferramentas fiscais e monetárias.
Com informações do SCMP
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