O presidente russo Vladimir Putin concedeu uma entrevista coletiva aos principais veículos de comunicação dos países que integram o BRICS, em preparação para a cúpula que acontecerá na próxima semana em Kazan. Durante a coletiva, Putin destacou a importância crescente do grupo BRICS no cenário global, enfatizando o papel dos novos centros de desenvolvimento no Sul Global, sudeste da Ásia e África.
Ele apontou que o BRICS representa 45% da população mundial e possui uma crescente influência na economia global, destacando o fato de que o grupo já ultrapassou o G7 em termos de participação no PIB global. Além disso, Putin ressaltou a importância da expansão do BRICS, que recentemente passou a incluir mais membros, e como isso fortalece a capacidade do grupo de influenciar questões globais, especialmente em áreas como tecnologia, inteligência artificial e mercados de alimentos e energia.
Putin também reforçou que o BRICS não foi criado como uma aliança contra o Ocidente, mas como um grupo que busca promover a cooperação entre países com interesses comuns. Ele elogiou a abordagem do grupo de respeitar as particularidades e interesses de cada membro e ressaltou que a expansão do BRICS só traz benefícios, tanto para o grupo quanto para os novos integrantes e seus aliados.
Leia abaixo trechos da coletiva de Putin:
“Este é o sinal mais importante: o surgimento de novos centros de desenvolvimento, concentrados principalmente nos países do BRICS, no Sul Global, sudeste da Ásia e África. Potências como China e Índia registrarão crescimento positivo. O mesmo ocorrerá na Rússia e na Arábia Saudita, mas os países do sudeste asiático e da África demonstrarão taxas de crescimento mais rápidas, por várias razões. Primeiro, o nível de desenvolvimento nesses países, onde se espera uma dinâmica positiva mas limitada, indica que eles já atingiram um certo patamar de desenvolvimento. Em segundo lugar, esses países, que terão taxas de crescimento mais rápidas, ainda possuem um nível insuficiente de urbanização e uma alta taxa de crescimento populacional. Sem dúvida, esses dois fatores influenciarão a formação de novos centros de crescimento econômico, seguidos por um aumento de influência política. A crescente potencialidade econômica dos países do BRICS inevitavelmente ampliará sua influência global, e isso reflete a realidade objetiva.”
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“Nos últimos anos, testemunhamos um crescimento substancial no comércio entre os países do BRICS, e esse aumento só tem se acelerado. Em 1992, a participação dos países do BRICS no PIB global era significativamente menor. No entanto, ao comparar 1992 com 2023, vemos que a participação combinada dos países do BRICS no PIB global dobrou, enquanto o crescimento dos países do G7 desacelerou. O BRICS já ultrapassou o G7 em termos de participação no PIB global. E, de acordo com especialistas, até 2028, essa diferença continuará a crescer, com uma vantagem cada vez maior para o BRICS. Este fato é claro e inegável. O grupo também tem um papel crucial em setores onde a própria sobrevivência da humanidade depende dos países do BRICS, especialmente nos mercados de alimentos e energia. No campo da alta tecnologia, particularmente no desenvolvimento e aplicação da inteligência artificial, estamos adquirindo competências importantes e, em algumas áreas, até liderando. Esta é uma mudança significativa, uma das mais notáveis no cenário mundial atual. O mundo está em constante evolução, e novos líderes emergem. Isso é natural, e devemos aceitar esse processo com serenidade, concentrando-nos em construir relações sólidas entre nossos países.”
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“O BRICS não foi criado para se opor a ninguém. Essa é uma característica que o distingue de muitas outras organizações internacionais. Como disse o primeiro-ministro da Índia, BRICS não é uma aliança anti-Ocidente; é simplesmente não-ocidental. Essa distinção é muito importante e tem grande significado. Ou seja, o BRICS não se coloca contra ninguém. É um grupo de países que trabalha junto, guiado por valores compartilhados, uma visão comum de desenvolvimento e, o mais importante, pela consideração dos interesses uns dos outros. Esse é o fundamento sobre o qual trabalharemos em Kazan. Não estamos aqui para confrontar outras nações, mas sim para construir uma cooperação positiva que atenda às necessidades e interesses de todos os nossos membros. Além disso, há uma crescente lista de países que querem cooperar com o BRICS, mais de 30 nações demonstraram interesse em participar de alguma forma. O impacto dessa expansão é claro e visível, e estamos considerando cuidadosamente os próximos passos sobre como melhor abordar o processo de integração de novos membros no grupo.”