O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo sobre as questões fiscais do país, especialmente a dinâmica dos gastos governamentais e a relação com a dívida pública.
Segundo Haddad, essas discussões têm ocorrido com mais frequência devido ao ritmo reduzido do Congresso, causado pelo período de eleições municipais.
Haddad diz que deseja resolver supostas “distorções” nos gastos públicos e que isso é uma questão urgente. Ele citou conversas com o presidente Lula, enfatizando que, embora ninguém esteja pedindo para retirar os avanços sociais do orçamento, é importante para ele lidar com essas questões estruturais.
“Ninguém está dizendo que é fácil. O senhor colocou o pobre no orçamento, ninguém está pedindo para tirar. Mas há questões estruturais que precisam ser resolvidas,” disparou.
“Porque são distorções muitas vezes criadas com finalidades eleitorais, particularmente pelo governo anterior. Elas estão no nosso colo. Não tem pra quem dar a batata quente. Então temos que resolver”, emendou.
O foco, segundo ele, é fazer com que as pessoas percebam que a soma das partes se adequará ao todo e que o novo teto de gatos proposto pelo governo realmente será “efetivo”.
Haddad indicou que a reestruturação das despesas é tão urgente que deve preceder a reforma tributária sobre a renda, anteriormente prevista para ser proposta ao Congresso até o final do ano.
Ele também mencionou que o presidente Lula já implementou várias medidas para enfrentar esses desafios no curto prazo, mas reiterou a necessidade de uma abordagem mais robusta para os gastos estruturais que ameaçam a sustentabilidade fiscal a longo prazo.
Lula reage às declarações do seu próprio ministro
Durante a cerimônia de assinatura do Plano Nacional de Abastecimento Alimentar e do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta quarta-feira, 16, a priorização dos gastos em saúde e educação, em resposta às recentes afirmações de Fernando Haddad, favorável a mais cortes nos gastos.
Em um discurso que precedeu um encontro com banqueiros e que também marcou o Dia Mundial da Alimentação, o presidente destacou a importância de focar na parcela da população que mais precisa.
Ele mencionou que dos 213 milhões de brasileiros, 81 milhões ganham no máximo três salários mínimos, enfatizando que a justiça social deve ser a base da administração pública no Brasil, um país marcado por profundas desigualdades.
Lula criticou a visão de que os investimentos sociais são meramente despesas. “Toda vez que a gente está cuidando de fazer política social é tratado como gasto. Não é à toa. Foi uma doutrina de palavras criadas para induzir a gente a determinados erros”, afirmou, sem detalhar especificamente quais seriam esses erros.
O presidente comparou essa percepção com a situação de um empresário que investe na melhoria das condições dos trabalhadores.
“No caso do governo, do estado e da prefeitura é o seguinte: você vai colocar mais dinheiro na saúde, é gasto. Você vai colocar mais dinheiro na educação, é gasto”.