Civis em Gaza enfrentam ataques brutais e começam a resistir no norte

Pelo menos 300 pessoas foram mortas em nove dias no norte de Gaza, onde milhares de pessoas estão presas / AFP

Um grande número de palestinos no norte de Gaza está desafiando as ordens de evacuação emitidas pelo exército israelense, mesmo com as tropas avançando cada vez mais na região


Desde o início de uma grande ofensiva terrestre no dia 6 de outubro, Israel ordenou a evacuação total das 400 mil pessoas restantes no norte de Gaza. No entanto, muitos moradores, especialmente em Jabalia, Beit Lahia e Beit Hanoun, preferem permanecer em suas casas, mesmo diante dos intensos bombardeios, acreditando que ir para o sul não seria uma opção mais segura.

As forças israelenses intensificaram os ataques no fim de semana, com tanques avançando até o extremo norte da Cidade de Gaza e bombardeando vários distritos do bairro de Sheikh Radwan. Um ataque de drone israelense matou cinco crianças que brincavam perto de um café em al-Shati, conforme relatado pela agência de notícias palestina Wafa. Desde o início da ofensiva, o número de mortos já ultrapassa 300 pessoas, segundo o Ministério da Saúde palestino. Muitas outras estão desaparecidas sob os escombros, inalcançáveis pelas equipes médicas.

Moradores locais relataram à Reuters que Beit Hanoun, Jabalia e Beit Lahia foram efetivamente isoladas pelas forças israelenses, que bloquearam o acesso entre essas cidades e o restante do norte de Gaza. Apenas famílias que seguem as ordens de evacuação conseguem sair. O campo de refugiados densamente povoado de Jabalia também está cercado, cortando qualquer conexão com a cidade de Jabalia. Apesar da gravidade dos ataques, muitos palestinos preferem permanecer em suas casas, temendo que a evacuação os leve a condições ainda mais precárias no sul. “As pessoas no norte dizem que preferem morrer nas ruas a se mover para o sul, onde as condições são insuportáveis”, disse um jornalista na Cidade de Gaza ao Middle East Eye.

O jornalista descreveu a situação caótica no norte, onde a fome se espalha rapidamente devido à falta de alimentos e suprimentos. As Nações Unidas informaram que nenhuma comida chegou ao norte de Gaza desde 1º de outubro. O repórter, que está abrigado com 13 familiares no centro da Cidade de Gaza, descreveu o medo crescente entre os moradores à medida que o exército israelense avança. “A invasão terrestre é a coisa mais assustadora. O som dos tanques à noite é aterrorizante, e os bombardeios constantes não param”, relatou ele.

Outro temor crescente entre os palestinos é o que muitos estão chamando de “o plano do general”, idealizado pelo major-general aposentado Giora Eiland. O plano, divulgado em setembro em uma campanha na televisão israelense, propunha a limpeza étnica do norte de Gaza. A ideia é despovoar a região, com aqueles que decidirem permanecer sendo considerados alvos militares legítimos. “Os moradores de Jabalia, Beit Lahia e Beit Hanoun que se recusam a deixar suas casas podem dificultar a implementação desse plano pelos israelenses”, disse o jornalista.

Enquanto isso, o jornal israelense Haaretz noticiou no sábado que o governo israelense abandonou as negociações para a libertação de reféns e está pressionando pela anexação gradual de grandes áreas da Faixa de Gaza. A decisão de lançar uma ofensiva em grande escala no norte de Gaza, segundo o jornal, foi tomada sem deliberação cuidadosa e sem inteligência adequada, conforme alertado pelo serviço de segurança Shin Bet.

As condições no campo de refugiados de Jabalia são particularmente terríveis. Dezenas de corpos apodrecem nas ruas, e as equipes de resgate não conseguem chegar a eles devido ao cerco militar. “Pessoas que tentaram sair foram baleadas e mortas, seus corpos foram deixados nas ruas”, disse Abed Ali, um morador local, ao Middle East Eye.

Além disso, as operações militares intensificadas estão forçando a agência de refugiados da ONU, a UNRWA, a encerrar seus serviços de socorro. Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA, disse que apenas dois dos oito poços de água em Jabalia continuam operacionais, enquanto os suprimentos de comida, água, combustível e medicamentos estão se esgotando rapidamente. Na terça-feira, o exército israelense ordenou a evacuação de três grandes hospitais no norte de Gaza, deixando mais de 300 pacientes em estado crítico, segundo a ONU.

O jornalista palestino Abdel-Salam al-Hayek, em uma publicação no Facebook, descreveu a situação de desespero em Gaza: “Dois milhões de pessoas estão sendo perseguidas em um espaço estreito, onde não há lugar seguro nem acesso a necessidades básicas, e estão sendo bombardeadas indiscriminadamente, seja em prédios, tendas, ruas ou carros.”

A situação humanitária em Gaza está se deteriorando rapidamente, e os moradores enfrentam uma escolha angustiante: permanecer sob cerco e ataques intensos ou arriscar suas vidas tentando fugir.

Com informações de Agências de Notícias*

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